proxy?url=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F-FcIUCKR6nnY%2FUUjotEoB2_I%2FAAAAAAAAi5c%2F4cPRhDVl_60%2Fs320%2FTancredo%2BNeves%2BCapa.jpg&container=blogger&gadget=a&rewriteMime=image%2F*

Essa expressão "Nova República" se tornou a denominação da época política brasileira posterior ao período do regime militar que se encerrou, em 1985, com o fim do governo de João Figueiredo.

A chapa Tancredo-Sarney foi então oficializada e assim os oposicionistas foram às ruas para defender suas propostas em comícios tão concorridos quanto os da campanha pelas Diretas Já. Saudado como candidato da conciliação, Tancredo Neves foi eleito Presidente da República pelo Colégio Eleitoral, numa terça-feira, 15 de janeiro de 1985, recebendo 480 votos contra 180 dados a Paulo Maluf e 26 abstenções. A maioria destas abstenções foi de parlamentares do PT, partido este que expulsou de seus quadros os parlamentares que, desobedecendo a orientação do partido, votaram em Tancredo Neves. Foram expulsos do PT os deputadosBeth MendesAírton Soares e José Eudes.

Assim que foram anunciados os resultados, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves discursou:

 
"Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão. Se todos quisermos, dizia-nos, há quase duzentos anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, podemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la!"
(Tancredo Neves)

Sua vitória foi entusiasticamente recebida pela população e é tida ainda hoje como uma das mais complexas e bem-sucedidas obras de "engenharia política" na história política do Brasil.

Logo em seguida, PT e CUT passam a fazer oposição a Tancredo Neves, tendo, oJornal da Tarde de São Paulo, dado em manchete, no dia 11 de fevereiro de 1985:

 
"A CUT e o PT declaram guerra a Tancredo"
(Jornal da Tarde)

Um exemplo dessas dificuldades e dessas manobras: No final de 1984, as pesquisas de intenção de votos, mostravam que Tancredo Neves tinha a maioria do Colégio Eleitoral. Receoso de uma manobra de João Figueiredo tentando prorrogar seu mandato em dois anos, estabelecendo eleições diretas para seu sucessor, Tancredo Neves foi à televisão e declarou que Paulo Maluf ia renunciar à sua candidatura. Paulo Maluf reagiu e garantiu que não renunciaria. Assim com Paulo Maluf firme na disputa, João Figueiredo e o PDS nada puderam fazer para mudarem as regras do jogo sucessório.

Assim que foi eleito, Tancredo Neves fez um giro internacional encontrando se com vários chefes de estado para conquistar apoio à sua posse, considerada incerta, e só aceitou ser submetido à operação cirúrgica, depois que vários chefes-de-estado já haviam chegado à Brasília para a sua posse.

Tão bem-sucedidas foram as suas articulações que fizeram com que até mesmo Ulysses Guimarães, o "Senhor Diretas", abdicasse da disputa para apoiá-lo. O acordo político teria incluído até mesmo um futuro apoio a Ulysses Guimarães para sucedê-lo nas eleições seguintes que seriam diretas. Ulysses Guimarães, na passagem do ano de 1984 para 1985, de férias em Nova York, se lançou candidato a presidente para provocar Tancredo Neves. Este afirmou, na televisão, que Ulysses Guimarães sempre foi o candidato natural do PMDB, o que esvaziou a candidatura Ulysses Guimarães, que não mais voltou ao assunto.

 
Tancredo+Neves+H.jpg
Tancredo Neves e Equipe Médica
A Doença e a Morte

Tancredo Neves havia se submetido a uma agenda de campanha bastante extenuante, articulando apoios do Congresso Nacional e dos governadores estaduais e viajando ao exterior na qualidade de presidente eleito da República.Tancredo Neves vinha sofrendo de fortes dores abdominais durante os dias que antecederam a posse. Aconselhado por médicos a procurar tratamento, teria dito:
 
"Façam de mim o que quiserem - depois da posse!"
(Tancredo Neves)

Tancredo Neves temia que os militares da chamada "linha-dura" se recusassem a passar o poder ao vice-presidente. Então decidiu só anunciar a doença no dia da posse, 15 de março, quando já estivessem em Brasília os chefes de estados esperados para a cerimônia de posse, com o que ficaria mais difícil uma ruptura política. A sua grande preocupação com a garantia da posse era respaldada pela frase que ouvira de Getúlio Vargas a esse respeito:
 
"No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!"
(Getúlio Vargas)

Porém, a sua saúde não resistiu e, na véspera da posse, 14 de março de 1985, adoeceu com fortes e repetidas dores abdominais durante uma cerimônia religiosa no Santuário Dom Bosco, em Brasília. Foi, às pressas, internado no Hospital de Base de Brasília. Ao primo Francisco Dornelles, indicado à época para assumir o Ministério da Fazenda, Tancredo Neves afirmara que só aceitaria se submeter à cirurgia se tivesse garantias que João Figueiredo iria empossar o vice-presidente José Sarney.

José Sarney assumiu a Presidência em 15 de março, jurando a Constituição de 1967, no Congresso Nacional, aguardando o restabelecimento de Tancredo Neves. Leu o discurso de posse que Tancredo Neves havia escrito e que pregava conciliação nacional e a instalação de uma assembleia nacional constituinte.

 
"Não celebramos, hoje, uma vitória política. Esta solenidade não é a do júbilo de uma facção que tenha submetido a outra, mas festa da conciliação nacional, em torno de um programa político amplo, destinado a abrir novo e fecundo tempo ao nosso País. A adesão aos princípios que defendemos não significa, necessariamente, a adesão ao governo que vamos chefiar. Ela se manifestará também no exercício da oposição. Não chegamos ao poder com o propósito de submeter a Nação a um projeto, mas com o de lutar para que ela reassuma, pela soberania do povo, o pleno controle sobre o Estado. A isso chamamos democracia!"
(Tancredo Neves)

Na cerimônia de transmissão do cargo, no Palácio do Planalto, o presidente João Figueiredo não compareceu, se recusando a passar a faixa presidencial a José Sarney.

Existia grande tensão na época devido à possibilidade de uma interrupção na abertura democrática em andamento. Caso José Sarney não assumisse, deveria ser empossado em seu lugar o então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães do PMDB, pouco aceito pelos militares. O grande risco era que ocorresse um retrocesso, já que na época os setores militares mais conservadores, a chamada "linha-dura", tentavam desestabilizar a redemocratização e manter o regime militar.

Na madrugada de 14 para 15 de março, em uma reunião em que estavam presentes Ulysses Guimarães, Fernando Henrique CardosoJosé Sarney e o ministro do exército Leônidas Pires Gonçalves, a opinião deste sobre a interpretação da Constituição de 1967 prevaleceu, e, na manhã de 15 de março, as 10:00 horas, o Congresso Nacional deu posse a José Sarney.

Devido às complicações cirúrgicas ocorridas - para o que concorreram as péssimas condições ambientais do Hospital de Base do Distrito Federal, que estava com a Unidade de Tratamento Intensivo demolida, em obras -, o estado de saúde se agravou, e teve de ser transferido em 26 de março para o Hospital das Clínicas de São Paulo. Durante todo o período em que ficou internado, Tancredo Neves sofreu sete cirurgias. No entanto, em 21 de abril, na mesma data da morte de Tiradentes, Tancredo Neves faleceu vítima de Infecção Generalizada, aos 75 anos. A morte de Tancredo Neves foi tristemente anunciada pelo então porta-voz oficial da presidência para a imprensa, Antônio Britto.

Na época, havia rumores que Tancredo Neves já havia morrido há dias e sua morte não era anunciada a espera de se resolverem os problemas políticos resultantes da formação do novo governo presidido por José Sarney e para a data da morte coincidir com a data da morte de Tiradentes.

 
"Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos [...]"
(Antônio Britto, porta-voz oficial - 1985)

Houve grande comoção nacional, especialmente porque Tancredo Neves era o primeiro civil eleito presidente da república desde 1960, quando Jânio Quadros foi eleito presidente, e era o primeiro político de oposição ao regime militar a ser eleito presidente da república desde o Golpe Militar de 1964.

O Brasil, que acompanhara tenso e comovido a agonia do político mineiro, promoveu um dos maiores funerais da história nacional. Calculou-se na época que, entre São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e São João del-Rei, mais de dois milhões de pessoas viram passar o esquife. "Coração de Estudante", uma canção do cantor mineiro Milton Nascimento, marcou o episódio na memória nacional.

O epitáfio que o presidente eleito previra certa vez numa roda de amigos, em conversa no Senado, não chegou a ser gravado na lápide, no cemitério, ao lado daIgreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei:

 
"Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves!"

Seu enterro, em São João del-Rei, foi transmitido em rede nacional de televisão, tendo discursado, a beira do túmulo 85, que lembra o ano em que foi eleito presidente, o deputado federal Ulysses Silveira Guimarães, na época, presidente da Câmara dos Deputados.

No cemitério da Igreja de São Francisco de Assis há uma placa comemorativa da visita do presidente francês François Mitterrand que conhecera Tancredo Neves, quando este viajara à Europa.

Em março de 2008, a sepultura de Tancredo Neves foi violada e a peça de mármore da parte superior do túmulo foi quebrada.

Na cidade de São João del-Rei, foi homenageado com a colocação de uma estátua sua ao lado da estátua de 
Tiradentes.
 
Tancredo+Neves+45.jpg
Tancredo Neves e Aécio Neves
Legado e Homenagens

Vinte anos após, o corpo médico do Hospital de Base de Brasília revelou que não divulgou o laudo correto da doença à época, que não teria sido diverticulite, mas sim um tumor. Embora benigno, o anúncio de um tumor poderia ser interpretado como câncer, causando efeitos imprevisíveis no andamento político no momento.

Assumiu a Presidência da República o vice José Sarney, encerrando o período de 5 governos conduzidos por militares.

Mesmo sem ter tomado posse, Tancredo Neves é, por força de lei, elencado entre os ex-presidentes do Brasil, pela lei nº 7.465, de 21 de abril de 1986:
"O cidadão Tancredo de Almeida Neves, eleito e não empossado, por motivo do falecimento, figurará na galeria dos que foram ungidos pela Nação brasileira para a Suprema Magistratura, para todos os efeitos legais."

Em 2010, ocorreu o centenário de nascimento de Tancredo Neves. Em 01/03/2010, foi lançado um selo comemorativo do centenário de nascimento do ex-presidente. O evento fez parte de uma série de homenagens que se seguiram até o dia do centenário de seu nascimento: 4 de março de 2010.

Um busto foi inaugurado em 03/03/2010, no Salão Nobre do Senado Fedral, em Brasília, durante homenagem prestada ao centenário de nascimento do ex-presidente.

É lembrado "como político conciliador e hábil articulador político".

A cidade baiana Presidente Tancredo Neves foi nomeada em sua homenagem. Assim como a capital baiana, Salvador, tem como centro financeiro e empresarial a Avenida Tancredo Neves.

Além de reportagens que escreveu na juventude para o jornal Estado de Minas e O CorreioDiário de São João del ReiTancredo Neves foi autor de "O Regime Parlamentar e a Realidade Brasileira", publicado na Revista Brasileira de Estudos Políticos (Belo Horizonte, UFMG, 1962), "O Panorama Mundial e a Segurança Nacional" (Rio de Janeiro, ESG, 1962), e de numerosos discursos e pareceres publicados em jornais, revistas e anais parlamentares. Em 24 de fevereiro de 1983 tomou posse, sucedendo a Alberto Deodato, na cadeira nº 12 da Academia Mineira de Letras, patrocinada por 
Alvarenga Peixoto.

Deixou dois depoimentos que saíram em livros: o primeiro: "Tancredo Neves, A trajetória de um Liberal", a partir de uma entrevista dada à sua sobrinha Lucília de Almeida Neves, narra sua trajetória política até 1954 apenas, pois Tancredo Nevesparou a entrevista para se dedicar integralmente à eleição no colegial eleitoral que ocorreria em 1985. O segundo livro entrevista foi "Tancredo Fala de Getúlio", onde dá seu depoimento sobre o antigo presidente e a sua atuação política ao lado de Getúlio Vargas.

Sobre a vida de Tancredo Neves foram produzidos o filme de longa-metragem "A Céu Aberto", de João Batista de Andrade, e a biografia "Tancredo Neves, A Trajetória de um Liberal" (1985), escrita por sua sobrinha Lucília de Almeida Neves Delgado e Vera Alice Cardoso a partir de depoimento dado pelo tio. Em 2011, foi lançado o documentário "Tancredo - A Travessia", de Silvio Tendler.

No final de março de 2010, o então Governador de Minas Gerais, Aécio Neves, inaugurou a nova sede do Governo do Estado, denominada Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves.