Alfabeto Indisposto

Comecei a escrever sobre o Mundo.

E esqueci de escrever sobre o que fui eu.

As palavras se apequenaram diante do que outrora já fui capaz.

Hoje sou a desconexão, e prisioneiro de mim.

Nesse embaralho alfabético, torno-me espaço nas entrelinhas.

Nenhum ponto é final, nenhuma virgula é pausa.

As reticências são constantes, e o pensamento consoantes sem vogais.

As páginas já não são sequenciais, mas não ligo.

Não ligo sobre a barba por fazer, o prato que comer, a rua para correr.

Não ligo. Os outdoors passam rápido demais.

Os jornais não me completam.

Sou apenas as linhas tortas e sabe-se lá, se Deus quer escrever.

Na história do Mundo, sou o analfabeto no universo onde todo mundo é muito letrado,

Alimentado demais pelos egos inflados da pseudo-intelectualidade.

Sou o morador de rua, rabiscando letras desligadas na folha velha de jornal.

Sou a utopia que acredita na interpretação.

No conteúdo e não na capa.

Na palavra e não na imagem.

Sou a frase incompleta que não sabe dizer sobre si

Sou o poeta mentiroso.

O jornalista fantasioso.

O escritor que morre antes de ser famoso.

O livro

O papel e a brochura

E quinhentas páginas de folha a ser escrita por qualquer um na folha em branco.

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 18/03/2014
Código do texto: T4734568
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