BIOGRAFIA MARIA ODETE DA SILVA AMORIM

MARIA ODETE DA SILVA AMORIM

DETE DO ACARAJÉ

Maria Odete Pereira da Silva, Dete do Acarajé, nasceu na cidade de Candeias, a terra do petróleo, situada na região metropolitana de Salvador, em 07 de março de 1948 e se criou em Santo Amaro, cidade conhecida também (não oficial) por Santo Amaro da Purificação. É filha de Furtuoso Pereira da Silva e de Maria Evangelista Pereira da Silva. Estudou até o quarto ano primário, pois diz que não tinha vocação para os estudos.

Enquanto as crianças pré-adolescentes de seu tempo brincavam, Dete se dedicava ao trabalho, pois, desde criança, fora incentivada e orientada pelos pais, comerciantes ambulantes, a buscar a sua independência financeira. Na adolescência, já mantinha duas quitandas e administrava-as fornecendo café da manhã e lanches, além de outros produtos pertinentes.

Desde a sua adolescência, já gostava muito desta cidade. Nessa fase de sua vida, sempre vinha a Brumado (viagens que fazia de trem de ferro) passar temporada com o seu tio José Ferreira, encarregado da LESTE, empresa que construiu a linha férrea da região. Em uma dessas viagens, na década de 1960, conta Dete, ela e uma tia quase perderam a vida em um acidente de trem, próximo à cidade de Tanhaçu. Sobreviveram por milagre dos Orixás?

Casou-se em 19 de setembro de 1969, aos 21 anos de idade, com o soteropolitano Dierson Alves Amorim – Dingo – nascido em 5 de março de 1934, com 25 anos de idade, filho de José Alves Amorim e Olímpia Pedreira Amorim. O casamento foi realizado na cidade de Candeias. O casal teve três filhos: Débora (in memoriam), Gerusa (Popó do acarajé) e Moabe Amorim. Ao se casar com Dete, Dingo já tinha uma filha de nome Evani (Vanil) a quem a “Baiana Dete” ensinou o ofício da culinária do acarajé.

Houve uma grande perda na família, a morte da irmã caçula, Maria Helena, deixando viúvo o senhor Amadeus com três filhos: Erivalda (Val do acarajé), Marivone que reside no Rio de Janeiro e Evilásio (o repórter Lay Amorim). Os órfãos de mãe foram assumidos por Dete como filhos legítimos. “Por serem meu sangue, não haveria de se falar em adoção, e registrei-os como filhos meus e de Dingo. Assim fiz, pois filhos órfãos de minha irmã são meus filhos por afinidade”. Tem, até o momento, 13 netos e um bisneto. Com a grandeza de seu coração, criou as seguintes pessoas: Vicente Celestino (Tim), Claudionor José Vieira, Ana Rita (Cheiro), Ana Célia, Cláudio (Buiu), Alessandro e Edson (Geladinho).

Em 1971, a família veio morar em Brumado, onde já residia um irmão de Dete, o qual trabalhava na empresa Magnesita S.A. e conseguiu emprego para Dingo que, futebolista, fora jogar no time Talmag e depois tornou-se tratorista da firma, profissão ensinada pelo cunhado Antonio (Tonhão).

Dingo faleceu aos 72 anos de idade, em 7 de agosto de 2006 e encontra-se enterrado no cemitério municipal Senhor do Bonfim. Dete relembra: “Foi uma convivência de 38 anos de amor e felicidades com a família da qual recebeu carinho e respeito”.

Dete é uma mulher trabalhadeira por excelência, e sua trajetória em Brumado assim se define: inicialmente, por autorização do senhor Paulo Chaves, passou a vender mingau na portaria da Magnesita, que levava de Brumado para lá, no ônibus de seu Tidinho (Aristide Catarino). Trata-se de uma mulher guerreira. A partir do centenário de Brumado, assumiu a atividade de baiana pioneira na cidade, com seu tabuleiro de acarajé, vendendo também passarinha frita, caranguejo, cocada, cuscuz branco (de tapioca), seguindo o exemplo dos tabuleiros das baianas de Salvador. Contou com o apoio do povo que a prestigiou e, por isso, é muito agradecida ao povo de Brumado, cidade que considera como se fosse a sua terra natal.

Itinerante nesse ramo, trabalhou em diversos locais (alguns a convite), como: Belo Horizonte, no carnaval; Linhares, em vaquejada; Aracruz, no Estado do Espírito Santo, onde morava a filha Débora; Rio de Janeiro, por três anos, na companhia da filha Marivone residente naquela cidade; Caetité, na festa de Senhora Santana, lugar onde também morou por nove anos; Montes Claros, em exposição; Guanambi, em exposição, aí também morou por quatro anos em companhia da filha Débora que cursava faculdade de Turismo; Aracatu, em festas de São Pedro; Macaúbas, em festa de São João, a convite do deputado Robério Nunes; Vitória da Conquista, em exposição e micareta; Caculé em micareta; Boquira, em festa de Santo Antônio; Barreiras, em exposição; Riacho de Santana, em festa de igreja e micareta, Rio do Pires, Rio de Contas e muitas outras.

Pessoa carismática e muito benquista, sempre teve participação ativa nos eventos sociais, como se pode verificar:

• Numa das Festas de Reis, o grupo de reisado da Terceira Idade, que já dura 11 anos e com quem Dona Dete tem parceria, visitou o quiosque desta que, animada, não parou de dançar e cantar. “Desejo tudo de bom para esse nosso povo sofrido do sertão baiano que, mesmo diante de uma crise de seca, não esquece suas tradições e mantém acesa a celebração dos Santos Reis. Viva a Folia de Reis!”. Na ocasião, fez distribuição de canjica aos presentes. (www.acheibrumado.com.br).

• Toda última quarta-feira do mês de dezembro, Dete distribui acarajé aos funcionários e detentos na delegacia, fato que ocorre já há 20 anos. No último dia de carnaval em Brumado (2014), distribuiu acarajé para os garis.

• Participou da homenagem às mulheres no Dia Internacional da Mulher, comemorado em 08 de março de 2012 e da homenagem ao Dia Internacional das Baianas do Acarajé, em 25 de novembro de 2013, o símbolo mais forte do Estado da Bahia.

• Participou da homenagem a Brumado, como garota propaganda, através de outdoors, na campanha “Eu Amo Brumado”, promovida pela Prefeitura Municipal em 27 de abril de 2012.

• Foi madrinha da lavagem do Beco em Caetité e desfilou na festa de Senhora Santana.

• Presidente de honra da Associação das Baianas de Brumado, instituiu a lavagem da escadaria da Igreja Matriz do Bom Jesus em Brumado.

• Desfilou na APAE como madrinha de honra das baianas e no 7 de Setembro de 2001, na ala das baianas.

• Participou do primeiro festival de Chope no Juá, organizado por Dr. Sydnei Meirelles e Maria José (Tia Zé) com o objetivo de promover a reunião das famílias.

• Recepcionou ACM no Aeroporto Sócrates Mariane Bittencourt com um buquê de flores, tendo em vista ser fã incondicional do político em apreço.

Complementou ela, “Trabalhei por muitos anos no clube Social Cultural e Recreativo de Brumado (carnaval e festas realizadas), no clube da Magnesita, entorno do bar Big-Joia, em frente à firma Madeireira Real (o primeiro ponto), em seguida, na frente da Hidroluz, por mais de 20 anos, por consentimento do proprietário que me fornecia inclusive energia e guardava os meus utensílios em seu comércio”.

Lembrando-se da sua trajetória de religiosidade, relatou: “Participei dos cultos e festas do Candomblé em Brumado, hoje já não mais frequento, pratico a religião católica. Na minha mocidade, fui protestante. No dia 19 de setembro, fazia caruru em comemoração ao dia do meu casamento e antecipava a comemoração dos santos irmãos, Cosme e Damião”.

Acrescentou, ainda, “Sou uma mulher feliz, não tenho nenhum vício, nem meus filhos, oriento-os para não andarem torto, que é muito ruim. Andar direito é muito bom. Amo o trabalho que faço, e uma de minhas preferências é a culinária baiana, em especial os peixes e comidas típicas. Nesse particular montei dois restaurantes em Brumado. Coloquei minhas filhas no ramo de baiana do acarajé, ensinando-lhes a arte dos temperos baianos para o exercício da profissão. Com o tabuleiro, ajudei o meu marido a criar a família numerosa, também sustentava os meus “afilhados”.

Dona Dete participou de todos os eventos festivos de Brumado. É indispensável nas festas populares pela sua figura emblemática. Seu magnetismo conquistou Brumado. Pela tradição e crença na religião e costumes da Bahia, bem a representa, com vestes estilizadas de baiana no trabalho e no seu cotidiano.

Ela conta que, vaidosa, era obstinada com relação às suas roupas e às da família, as quais tinham de estar bem engomadas (passava-as com ferro antigo, a carvão). Caprichava no engomado e, para as roupas ficarem brilhantes, usava espermacete (substância oleosa, semelhante à cera, que era usado na fabricação de velas). Aprendeu a costurar e fazia as próprias roupas e as da casa. Amealhou dinheiro com o seu trabalho e comprou um terreno na rua Ceará, onde construiu uma casa que posteriormente vendeu.

Embora tenha cachorro em sua casa e na dos filhos, não tem estimação por eles. Tem mania de organização, não gosta de bagunça e muito menos de mentiras, pois a verdade sempre prevalece. Declarou: “Tenho muitos amigos e nenhum inimigo, sou respeitada por todos, nunca sofri uma desfeita. Cultivo minhas amizades com a devida consideração. Vivo harmonicamente com todos os amigos e com meus familiares, aos quais devoto muita estima e amor”.

“Contudo, carrego comigo um grande sentimento, o falecimento da minha filha Débora, que morava em Aracatu e, apesar dos estudos, mantinha um tabuleiro de acarajé num ponto no centro da cidade. Faleceu aos 42 anos de idade, em nove de julho de 2013, fato que me comove, é uma emoção indizível. Através da minha fé, entrego nas mãos de Deus o destino da minha filha amada”, concluiu ela.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 14 de maio de 2014.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 24/08/2014
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