BIOGRAFIA DE DEJANIRA RIBEIRO DE NOVAES

DEJANIRA RIBEIRO DE NOVAES

TIA NENÉM

Antonio Alves Ribeiro de Novaes, Coronel Novaes ou simplesmente Seu Novaes, nascido nas bandas de Jussiape, foi um homem muito requintado, vestia-se a rigor: usava camisa branca bem engomada, colete, terno e um relógio cravado com diamantes, além de uma corrente de ouro que ornava a sua indumentária. Sua postura sempre foi a de um gentleman, comportava-se dessa forma e exigia que os seus seguissem o modelo de vida que ele adotara, o qual se distinguia dos demais pelo seu modo de ser.

Tido como andarilho, morou em várias localidades, tanto da Bahia como de Minas Gerais. Vivia de compra e venda de produtos sazonais: farinha, café e outros gêneros e também emprestava dinheiro a juros, isso lhe rendia o sustento. Devido ao seu prestígio, comprou do governo federal o título de Coronel e, como tal, agia atuando como autoridade aonde ele chegava, e ela não existia.

A vida de seu Novaes, casado com Marcelina Novaes – Iaiá –, mulher morena, baixa, de olhos azuis, cabelos lisos, fala mansa, rendeira exímia e considerada uma boa senhora, foi um tanto complicada. Por motivos de saúde, Marcelina deixou de atender ao compromisso matrimonial com seu marido que, ainda jovem, bandeou-se para os lados de uma mulher casada com um alcoólatra, Octávia de Souza Jardim, a qual abandonou o marido para viver maritalmente com seu novo conquistador. Dessa união, nasceram vários filhos que se juntaram aos do casal anterior e eram tratados por Iaiá como se fossem seus. Entretanto, a concubina sempre foi apresentada como a empregada doméstica. A farsa se manteve para dar satisfação à sociedade que cobrava atitude exemplar do coronel.

Certa feita, na localidade de João Amaro, vila onde a família já havia morado outras vezes, a Tia Neném – Dejanira Novaes –, como todos os outros filhos, principalmente as mulheres, eram proibidos de sair de casa sem o consentimento do pai. Este não os perdia de vista, exigindo o cumprimento de uma vida enclausurada conforme os ditames da época.

Nesse ínterim, Neném apaixonou-se por um rapaz que avistara de relance pela janela de casa e o saudara, respeitosamente, de soslaio, como convinham os costumes. Foi um amor fulminante.

O Coronel marcou viagem de mudança, e tudo estava sendo organizado para isso. Na noite anterior à partida, a moça fugiu para encontrar o seu amado que morava em um casebre de taipa, de uma porta e uma janela, coberto de palhas, chão batido, um ambiente paupérrimo que dava dó e piedade. Diante dessa atitude inesperada, a pretendente foi repreendida pelo moço, por medo das consequências que adviriam do coronel. A donzela, por sua vez, decidiu ficar, desse no que desse, uma postura de altivez que encorajou o jovem a aceitar a situação sem questionamentos.

Quando Seu Novaes tomou conhecimento do ocorrido, com a autoridade que tinha, mandou a polícia ir ao encalço dos apaixonados e ordenou ao Juiz de Paz que fizesse o devido casamento sem delongas e circunstâncias. Imediatamente foi embora sem doar o dote, como fizera com todas as outras filhas que se casaram com o seu assentimento: um enxoval completo e mais dez contos de reis para um novo começo. Naquela época, era praxe essa atitude.

Anos depois, quando viajava de trem para Salvador, acredita-se que avisada pela mãe, Neném foi à estação para cumprimentar o pai e apresentar-lhe os netos. O tempo, que é senhor da razão, encarregou-se de amolecer o coração do idoso, cuja senectude se incumbiu, também, de aceitar a situação sem os ressentimentos de outrora. A partir de então, as condições se modificaram.

Na pousada seguinte, em João Amaro, o velho, sensibilizado pelos acontecimentos, providenciou ajuda para a filha que vivia com o seu amado em completa pobreza, porém satisfeita com a vida que levava. O moço que a tomara como esposa, homem sem qualquer instrução, vivia exclusivamente da caça e da pesca, mas nunca deixou faltar o básico em casa, provendo-a do necessário. Na qualidade de homem pobre, comportou-se com honra e dignidade, mantendo-se com o que tecia.

Assim, Neném se casou por amor, um amor arrebatador, à primeira vista. Foi também uma forma de ver-se livre da opressão que sofria do poder pátrio e de conseguir o homem que imaginou como ideal para viver a eternidade que Deus reservou para eles, constituindo uma família de fecunda prole doada pelas bênçãos do Senhor.

Antigamente, o carrancismo tomava conta das pessoas. Os tempos eram outros, diferentes dos de hoje, prevaricados pela televisão e pelos costumes da modernidade que destrói a inocência do recato e do bom comportamento. O modus vivendi atual é completamente diferente do de antanho. É preciso ter essa compreensão, contudo deve-se viver sem os desvirtuamentos impostos pela sociedade hodierna.

Antonio Novais Torres.

antorres@terra.com.br

Brumado, em 15/12/2006.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 13/09/2014
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