BIOGRAFIA JOSÉ BORGES SAMPAIO

BIOGRAFIA

JOSÉ BORGES SAMPAIO

*07/02/1926

†08/12/1982

José Borges Sampaio nasceu em Macajuba (antigo Capivari), em 07 de fevereiro de 1906. Era filho de Pedro Ribeiro Sampaio e dona Hermínia Borges Sampaio. Casou-se em Macajuba em 14/12/1935, com a senhora Amenaide Pamponet Sampaio, regressando a Brumado, onde já residia, aos 23 dias do mesmo mês. Tiveram os seguintes filhos: José Luiz Pamponet Sampaio, Augusta Madge Pamponet Sampaio e Renato Pamponet Sampaio, todos brumadenses.

O agrônomo José Borges Sampaio, diplomado pela Escola Agrícola da Bahia, veio para a cidade de Brumado logo após a sua formatura, em 1933, como funcionário público federal do Ministério da Agricultura, lotado no Instituto Agrícola da Bahia. Aqui ele administrava a fazenda Santa Inês e a usina de beneficiamento de algodão de Brumado (conhecida popularmente como usina do governo) pertencentes ao Ministério da Agricultura. Administrava também a usina de Guanambi e criou os postos agropecuários de Livramento do Brumado (referência da época) e Caculé.

A usina funcionava à lenha, acionada a vapor e mantinha as seguintes condições para atender os pequenos produtores: o lavrador levava o algodão com caroço e a usina descaroçava-o gratuitamente. Retirava, porém, um percentual da semente para pesquisa e distribuição, e o restante ficava com os produtores. O subproduto, chamado de costela (a casca e o olho da semente), imprestável naquele tempo, os pecuaristas utilizavam-no, sem ônus, como ração animal.

Dr. Sampaio desenvolveu, na fazenda Santa Inês, um trabalho técnico experimental com pesquisas de plantações de algodão, mandioca e palma, produtos característicos da região, com o fito de melhoramento dessas espécies. Com resultados positivos, Brumado classificou-se como o primeiro produtor de algodão da região.

Fundou e presidiu a primeira Cooperativa Agrícola de Brumado, em fins da década de 1940, com a venda de ferramentas e produtos afins para a agricultura, contribuindo para um futuro agrícola promissor, na expectativa de uma melhor produção para o fortalecimento do setor. Este era o seu acalentado sonho: o fortalecimento da agricultura através de uma técnica moderna com os conhecimentos disponíveis.

Foi colaborador, com atuação administrativa, da fundação do Clube Social de Brumado, cuja sede instalou-se no prédio situado na rua Marcolino Moura, pertencente ao Sr. Agnelo dos Santos Azevedo (um dos fundadores), por quem fora cedido. Colaborou, também, para a fundação do Clube Recreativo e Social de Brumado, exercendo cargo de presidente. Foi avaliador credenciado pelo Banco do Brasil S.A. para atender os mutuários, os quais pagavam pela avaliação das propriedades, uma garantia para os contratos firmados.

Em 01 de abril de 1948, pela portaria Nº 37, de acordo com o Art. 56 do Código Florestal, aprovado pelo Dec. Nº 23.793, de 23/01/1934, foi designado para exercer, gratuitamente, a função de delegado Florestal em Brumado/BA.

Era um amante da música, presença marcante em sua memória, especialmente as filarmônicas com os seus dobrados característicos. Por sua iniciativa, foi fundador e o primeiro presidente da Sociedade Musical Lira Ceciliana Brumadense, fundada em 16 de novembro de 1961. Deu-lhe o nome de Ceciliana por ser Santa Cecília a padroeira dos músicos. Dr. Sampaio envidou esforços relevantes para que a Lira Ceciliana se destacasse e vivesse o momento cultural a ela reservado, não só referente ao entretenimento do povo – com apresentações em diversos eventos –, mas também à formação de musicistas e musicólogos, para garantir o funcionamento da banda, através da criação de uma escola musical. Em retribuição aos seus esforços nesse sentido, inclusive financeiros, ele foi homenageado pelo maestro João Ribeiro Coelho (Binha) com o dobrado ‘Dr. Sampaio’.

Dr. Sampaio veio de uma região que se destacava pelas suas filarmônicas. Ele chegou a tocar trompa na filarmônica de Capivari, sendo fundador desse empreendimento em sua cidade natal. “Entristeceu-se quando teve de se mudar para dar continuidade aos seus estudos em Salvador, onde se forma pela Escola Agrícola da Bahia”, palavras de sua filha Augusta Magda Sampaio Ramos, no discurso de agradecimento à homenagem prestada pela diretoria da Cooperativa Mista Agropecuária de Brumado (COOPMAB) ao seu pai.

A música esteve extremamente ligada à sua vida, sendo um deleite e sentimento que lhe inundava o coração. Ele era um festeiro tradicional. Como exemplo disso, o São João era comemorado em sua residência com muita animação, alegria e comidas típicas.

A sua participação social, política e religiosa foi de muita importância para o município de Brumado. Politicamente ativo, em 1948, exerceu o cargo de vice-presidente da Câmara de Vereadores, chegando a assumir o posto de prefeito. Em uma de suas participações políticas, apoiou declaradamente o candidato a prefeito Manoel Fernandes dos Santos, com resultado exitoso. No ano de 1962, tomou a decisão de candidatar-se ao cargo de prefeito pelo (PSD), concorrendo com Jair Rizério (UDN) e Armindo Santos Azevedo (PR). Este sagrou-se vencedor com 335 votos de frente, (COM INFORMAÇÃO COLETADA NO TRE/BA), um placar apertado.

Em Brumado, sua participação foi marcante pela luta que desempenhou em prol do progresso e desenvolvimento do município, destacando-se no setor agrícola, que era a sua área de atuação. Considerava Brumado a sua terra natal e assim a tratava, pelo amor devotado à urbe que ajudou a tornar-se maior, mais forte e progressista culturalmente.

Cultuava a moralidade, a honradez e a probidade com espírito empreendedor, multiplicando suas ações sociais sem o culto pessoal e a influência do cargo, a não ser para beneficiar a cidade onde mourejava. Homem simples, educado e cortês, a todos cumprimentava com a cordialidade característica da sua personalidade amigueira.

Dr. Sampaio era um homem de estatura mediana, moreno claro, forte, corpulento, mas não obeso, cabelos lisos e bem-humorado. Amava a vida, a família e o que fazia. Severo no trato com as pessoas, propugnava pelo critério da correção, não admitindo desvios de conduta. Gostava de um bate-papo, frequentava, quase que diariamente, o Armarinho Nossa Senhora do Rosário, de propriedade de Oflávio Torres (Flavinho), com quem mantinha relacionamento de amizade.

Com as pessoas por quem tinha apreço, consideração e simpatia levava um papo saudável. Dentre elas, destacam-se o Monsenhor Antônio Fagundes (pároco local), o Sr. Artur Revenster (rábula), Ludgero da França Ribeiro – Pequitito – (vereador), Sr. Sebastião Meira Santos – Seu Santos – (comerciante), Manoel Joaquim dos Santos Carvalho – Dr. Nezinho – (farmacêutico), Djalma da Silveira Torres (comerciante) e outros. Era leitor assíduo da revista O Cruzeiro e dos jornais da Bahia, que eram vendidos no Armarinho Nossa Senhora do Rosário, portanto uma pessoa atualizada, intelectual instruído com competência para falar sobre qualquer assunto além dos referentes à sua profissão.

Certa feita, ao adentrar o armarinho, a minha calça da farda colegial estava rasgada na altura do joelho, e Dr. Sampaio inquiriu o motivo da rasgadura. Disse-lhe que já havia pedido outra a meu pai, e ainda não a tinha recebido. Então, o doutor, com uma mão grande e robusta, enfiou-a na ruptura do tecido, separando as partes e solicitou: “Oflávio, providencie outra farda para o menino, pois a que ele veste está imprestável”. Com essa intervenção, ganhei duas calças novas.

A princípio, o agrônomo residiu na cidade de Brumado. Posteriormente, com a construção da casa sede no campo de experimentação, mudou-se para a fazenda Santa Inês, uma decisão do Ministério. Da fazenda Santa Inês, a família deslocava-se para a cidade por meio de uma charrete, na qual os filhos vinham diariamente estudar na cidade. Em seguida, Dr. Sampaio comprou um automóvel Ford 29 e depois um Jipe que dirigia com muito cuidado, com as mãos segurando o volante e só as tirava dali para cumprimentar as pessoas, voltando-as imediatamente ao local de origem. Humorado, dizia que tinha receio de perder o controle do veículo. Finalmente, após a aposentadoria, retornou para a cidade. A casa residencial da cidade foi vendida pelos familiares.

Em 1° de abril de 2005, quando da reforma e inauguração da casa onde morou o Dr. Sampaio, na Fazenda Santa Inês, instituída, a partir daquela data, como Casa Cultural Dr. Sampaio, a qual abrigou várias exposições culturais, o presidente da COOPMAB, Sr. Miguel Lima Dias, e sua esposa, professora Célia Teles Dias, além várias outras pessoas, dentre elas autoridades, parentes e amigos estiveram presentes para prestar homenagens, justas e merecidas ao Dr. Sampaio. Na oportunidade, Miguel Lima Dias fez um histórico da vida do homenageado, ressaltando-lhe as qualidades. Declarou ele: “Sinto-me envaidecido como filho de Brumado estar homenageando, juntamente com toda a diretoria da COOPMAB, este homem que contribuiu diretamente com o progresso da cidade. Foi ele que esteve à frente da primeira usina de beneficiamento de algodão em Brumado - Usina do Governo. Também era um apaixonado pela música e fundou a Lira Ceciliana que hoje aqui se encontra para também prestar esta homenagem”.

A professora Célia Teles Dias, na oportunidade, relembrando o homenageado, citou o poeta e escritor Graciliano Ramos declarando que “As pessoas não morrem, elas ficam encantadas [...], pois Dr. Sampaio foi um homem que cultivou a terra e entendeu que a paz, o amor e a felicidade estão dentro de nós. [...] Hoje, em outra dimensão, Dr. Sampaio cultiva as flores da espiritualidade”.

A filha Augusta Magda Sampaio Ramos (nome de casada), emocionada, agradeceu a homenagem que se fazia ao seu pai naquela oportunidade e, com a voz embargada, referiu-se à Lira Ceciliana, fundada por seu genitor, a qual se apresentava no evento, também, para homenageá-lo. As qualidades de cidadão e profissional foram elogiosas ao Dr. Sampaio, feitas pelo genro, desembargador Luiz Fernando de Souza Ramos, esposo da juíza Augusta Magda Sampaio Ramos, ambos atualmente aposentados, relembrando a sua presença na casa, quando lhe pedira a mão da futura esposa, uma dupla emoção fazer esse relato.

Ao final da homenagem, o padre Gilvan Rodrigues realizou a bênção da casa, destacando a importância do resgate da cultura e invocou o nome do Monsenhor Antônio Fagundes: “A história viva é Monsenhor Fagundes, que poderia com certeza, falar com propriedade do homenageado por tê-lo conhecido”.

Diante do exposto e das ações em benefício de Brumado, desenvolvidas por Dr. Sampaio, é louvável que a Câmara de Vereadores dê o seu nome a um logradouro, em sua homenagem.

Fontes: Evan dos Santos Azevedo;

Atas da Câmara de Vereadores de Brumado;

Jornal do Sudoeste contendo discursos da Professora Célia Teles Dias; a Dra. Augusta Magda Sampaio (filha); Miguel Lima Dias. Desembargador Luiz Fernando de Souza Ramos e Padre Gilvan Rodrigues.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, 25/11/2011.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 21/09/2014
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