BIOGRAFIA PERGENTINO NEVES CORREIA

PERGENTINO NEVES CORREIA

*18-01-1907†13-03-2003

Pergentino Neves Correia, conhecido carinhosamente como Seu Pegé, era natural da cidade de Castro Alves. Nasceu em 18-01-1907 e era filho de Manoel das Neves Correia e Maria Justiniana Correia.

Casou-se, em 18-11-1937, com Analita Dias de Araújo que passou a assinar Analita de Araújo Correia. Com o nascimento dos filhos em 1940 e 1942, vieram as dificuldades. O então cabeleireiro, para contorná-las, aventurou-se, como tantos outros, acompanhando os trilhos da estrada de ferro em construção.

Em 1943, estabeleceu-se em Umburanas (ponta de trilho), povoado do município de Brumado. Àquela época, o povoado de Umburanas teve o seu apogeu físico e comercial. Apogeu físico com a construção da estrada de ferro e do aeroporto (serventia para a empresa construtora), dando destaque e importância ao povoado. Apogeu comercial graças a pessoas como Seu Pegé e companheiros contemporâneos como: Alício Teixeira, Antenor Teixeira, Bernardino Lima, Geraldo Alves e Oflávio Torres (Flavinho) entre outros empreendedores.

Pergentino, além de produtor rural, destacou-se no comércio atacadista de compra e venda de cereais, mamona, algodão, carnes, requeijão, ovos, couros e peles de animais que enviava para a capital do Estado, via trem de ferro. Também atuou como agente consignatário de diversas firmas, dentre outras, Agenor Gordilho (Salvador) com filial em Contendas do Sincorá, José Teles (Salvador), Manfredo Torres (Castro Alves), Olegário Teles (São Félix), SANBRA (Salvador). Dessa forma, ele projetou e divulgou o nome de Umburanas e, consequentemente, o de Brumado nas cidades circunvizinhas que abastecia, como também em Salvador, a capital do Estado.

Seu Pegé era um homem de bom coração, gostava de ajudar as pessoas. Comerciante honesto e honrado, dedicou-se exclusivamente às atividades comerciais e agropecuárias com pertinácia e desenvoltura. Organizado, tinha tudo sob seu controle; em seus livros, fazia anotações com a caneta entre os dedos indicador e médio, hábito que lhe proporcionava conforto, com caligrafia desenhada e legível.

Conta-se que, certa vez, uma pessoa roubou alguns caprinos do seu rebanho e, inescrupulosamente, foi vender-lhe as peles. Pergentino, pelas marcas do seu ferro, reconheceu-as como sendo do seu plantel. Advertiu o indivíduo, perquirindo-o sobre a origem das peles. O sujeito, ao sentir-se investigado, confessou o crime, justificando que o fizera por necessidade, para sustentar a família, pois, com a seca, estava desempregado. Seu Pegé, após admoestá-lo e aconselhá-lo a não mais cometer tais delitos, comprou-lhe as peles e resolveu contratar o indivíduo para tomar conta de seu rebanho. Nunca mais desapareceram animais da sua fazenda.

Conheci Pergentino em circunstância que não me cabe aqui relatar, lá pelos idos de 1957/1958, quando eu tinha 13/14 anos de idade. Com ele fui trabalhar, passando a morar em sua residência. Tive por Seu Pegé grande respeito e admiração, por se tratar de uma pessoa humana e generosa, que me tratou com carinho e compreensão, ainda que disciplinador e exigente. Transmitiu-me ensinamentos dignificantes de vida e trabalho, os quais, até hoje, servem-me de exemplos.

Lembro-me também da sua alegria quando o filho Raimundo Correia, hoje Arquiteto e Técnico em Pontes e Estradas, vinha passar as férias em Umburanas. Seu Pegé alardeava para os amigos, com toda satisfação e orgulho, a vindo do filho, futuro doutor, como gostava de se referir ao estudante.

Além de compreensivo, como o foi no episódio da compra das peles de caprinos roubados do seu rebanho, ele era um homem de fartura. Sua casa era abastecida com abundância de provisões, tudo era comprado por atacado: feijão, arroz, açúcar e assim outros gêneros. Um dia, Seu Pegé comprou um saco com 30 quilos de bolacha de coco tão duras que era necessário imergi-las no café para que fossem amolecidas. Esse saco de bolachas foi colocado em lugar adequado no meu quarto, que era contíguo ao do patrão. Ocorre que, nas construções de fazendas, as paredes geralmente não chegam ao teto, e o ambiente fica devassável, podendo ouvir-se o que se passa do outro lado.

Lá pela madrugada, levantei-me sorrateiramente, abri o saco, enchi a mão de bolachas e coloquei-as na boca. Quando as mastigava, elas produziam um ruído característico. Então, ouvi de Seu Pegé a seguinte advertência: “Menino! O rato está comendo as bolachas, cuide de tomar conta”. Assustado, engoli-as de uma só vez, engasgando-me, o que me denunciou.

Pergentino Neves Correia – Seu Pegé – faleceu em 13-03-2003, deixando uma grande prole: 10 filhos, 20 netos, quatro bisnetos e sua última companheira, Eurides Barbosa Cotrim (Mãe Dila). Perdeu Umburanas um dos nomes mais representativos do lugar, pois se tratava de um dos mais antigos moradores, que honrou e dignificou os amigos da terra que escolhera para viver.

Ouvi de Raymundo, em momento de grande comoção, o relato do falecimento de sua esposa, Maria Bernadeth Gomes Correia, em 22 de dezembro de 1955. Em estado de consternação, escreveu ao pai relatando a sua situação emocional de aflição e desespero diante da fatalidade da morte da companheira. Seu Pegé, em gesto de solidariedade e conforto, foi buscar o filho em Salvador. Raymundo, de volta a Umburanas, retomou os vínculos mais afetivos e íntimos, afirmando ser Seu Pegé o último laço ascendente familiar da árvore genealógica, porquanto os demais já haviam falecido. Essa afinidade entre pai e filho confessou-me Raymudo, demonstrando toda sua sensibilidade humana de amor e carinho, que o caracteriza, sentimentos dedicados ao genitor. Por isso, permaneceu aqui em Brumado, onde refez a sua vida sentimental e também por ser o lugar que escolheu para viver.

Minhas condolências aos familiares de Pergentino Neves Correia, especialmente Raymundo Correia, com quem tenho maior afinidade de amizade. Que Deus conforte a todos e que Seu Pegé encontre a paz dos justos para viver na eternidade.

Pela importância social e econômica que Pergentino representou no povoado de Umburanas, no dia 22 de junho de 2013, foi inaugurada a Praça Pergentino Neves Correia, conforme lei promulgada em sua homenagem em 18 de junho de 2013, em reconhecimento daquela comunidade a um dos primeiros moradores do lugar e comerciante que ali se estabeleceu e criou raízes. Ao evento, compareceram: a comunidade, vereadores e secretários municipais, parentes do homenageado, o secretário de infraestrutura e o prefeito Aguiberto Lima Dias.

Fontes:

Dados fornecidos por Raymundo Antonio de Araújo Correia (filho).

Lei Municipal nº 1.347 de 24 de dezembro de 2004.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 30 de setembro de 2013.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 16/10/2014
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