BIOGRAFIA PROFESSORA MARIA IRANILDE LÔBO

PROFESSORA MARIA IRANILDE LÔBO

*07/03/1921†08/10/1999

Filha de Belarmino Jacundes Lôbo Filho e Idalina Azevedo Lôbo, nasceu em 07/03/1921 e faleceu em 08/10/1999. O casal Belarmino Jacundes Lobo Filho e Idalina Azevedo Lôbo teve os seguintes filhos: Maria Iranilde, Dásio, Edmir, Ivone, Iêda, Dulce e Nilton Lôbo. Era a mais velha de uma família de sete irmãos.

O meu primeiro contato com a professora Maria Iranilde Lôbo foi nos tempos idos de 1959, quando iniciei o curso de ginásio (hoje fundamental dois) no Ginásio General Nelson de Melo. Tempo de boas lembranças e saudade que marcou a minha adolescência.

Recordo-me dos mestres, dos colegas e dos bons momentos que vivenciamos por quatro anos naquele ginásio, quando nos bacharelamos em 1962. A partir daí, dispersamo-nos, cada qual à procura de seus rumos e objetivos, muitos dos quais concretizados.

Dentre os educadores, refiro-me à figura simples e humilde da professora Maria Iranilde Lôbo, uma grande mestra, incentivadora e difusora do aprendizado do vernáculo nacional, sempre preocupada com a perfeição e a aplicação de um português escorreito, era uma perfeccionista. Por conta disso, mantinha-se atualizada através de reciclagem que fazia na capital mineira e em Salvador/BA.

Em 1937, com 15 anos, prestou o exame de Admissão na Escola Normal de Caetité (única na região a proporcionar o curso de Magistério) e formou-se em 14 de dezembro de 1941, para o exercício de professora primária. Nesse mesmo ano, prestou concurso para a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, sendo aprovada em segundo lugar.

Inicialmente, em 1942, exerceu o cargo de professora primária em Várzea Grande, no município de Livramento, enfrentando uma série de dificuldades para o exercício digno do cargo, como salas de aula inadequadas e material inerente, valendo-se dos recursos disponíveis na época. Em seguida, lecionou em Aracatu e depois, em Brumado, lecionou no Colégio General Nelson de Melo desde 1958 data da sua fundação o qual foi posteriormente transferido para o Estado com o nome de Colégio Estadual de Brumado (CEB). Mesmo depois da aposentadoria em 30 de outubro de 1969 com 27 anos de labuta continuou o seu desiderato e foi distinguida por alunos, funcionários e colegas de profissão.

Exerceu esse ofício por mais de 60 anos. Ensinou em diversos estabelecimentos educacionais - escolas do Estado (concursada), particulares, inclusive ministrando aulas de reforço e orientações individuais a professores e alunos. O seu acervo de conhecimentos da língua portuguesa adveio do gosto inato pelo magistério e pela leitura, tornando-se competente no exercício do ensino dessa matéria, uma vocação desde os tempos de criança. Sua brincadeira predileta era uma escolinha e brincava de ser professora. Declarou também seu agradecimento a professora Maria Teodora, que devido a sua vocação para o ensino, influenciou o seu pai, incentivando-o para que ela fosse estudar em Caetité, onde adentrou nos idos de 1937.

Em 1955, seus pais mudaram-se para Belo Horizonte, então a professora Maria Iranilde passou a morar com o tio Gerôncio dos Santos Azevedo.

Fidelíssima à sua vocação pelo magistério, doou a sua vida ao ensino com a modéstia que a caracterizava. Embora detentora de variados conhecimentos na sua cátedra e portento de incontestável saber, não tinha e não exibia nenhuma vaidade. Conta que o seu maior prazer é ler e escrever, o que o faz prazerosamente, ensejando-lhe o aprimoramento da linguagem e das ideias.

Maria Iranilde tinha o dom e o compromisso de estimular os alunos, incentivando-os a ler os clássicos da literatura nacional, fazendo, em classe, dissecação do conteúdo dos livros com uma análise e exame minucioso dos textos, envolvendo as questões da gramática, como a sintaxe, o estilo do autor e todos os correlativos ao estudo da língua pátria.

Em sua casa, havia estantes repletas de livros, onde se encontravam inúmeras coleções completas de romances, principalmente os da literatura brasileira, além de volumes avulsos. Numa atitude desprendida e solidária, ela emprestava a muitos de seus alunos seus preciosos livros. Muito organizada, fizera um caderno de registros para controlar a saída e a entrada dos livros que ela emprestava, com data, prazo e nome do tomador. Fazia isso com enorme prazer, principalmente quando da devolução, pois nesse momento eram feitos comentários sobre a obra lida, numa troca de pareceres, o que motivava mais ainda os jovens leitores.

Em entrevista a Rui Lôbo contou que ficou muito triste quando cogitaram aposentá-la, ainda no limiar da sua profissão, época em que sofreu uma doença nos olhos que a levou a cegueira. Porem restabeleceu-se dentro do prazo de dois anos de afastamento, preestabelecido por lei, para uma aposentadoria por invalidez. Ao ser perguntada pelo entrevistador se se sentia realizada, respondeu: “Para que uma pessoa se sinta realizada admito duas hipóteses - ou feneceram-lhe os ideais ou atingiu o ápice da profissão e eu não me situo em nenhuma delas”.

Tive a honra e o privilégio de ser seu aluno e desfrutar o convívio harmônico e respeitoso entre mestre e discípulo, pois é do meu feitio respeitar e cultuar os meus professores, não só pela minha índole, como também pela admiração dos seus conhecimentos e competências que nos transmitem. Esses valores eram traços marcantes da saudosa mestra que devotou sua carreira aos estudos e pesquisas do idioma pátrio, tornando-se catedrática no assunto.

Sua produção é vasta: peças de teatro, poemas, interpretações de livros, discursos proferidos, anotações em álbuns de recordação e muito mais. Maria Iranilde Lôbo atuou como atriz e teatróloga (amadora) de várias peças produzidas e dirigidas por ela. Em entrevista concedida a Rui Meira Lobo (ator amador e comunicador), ela contou que subiu ao palco, pela primeira vez, aos sete anos de idade, atuaou em uma comédia, quando contracenou com Érico Lima.

Daí em diante, apresentou-se várias vezes com a atriz de talento nato Augusta Lima dos Santos e que, apesar das dificuldades, sobejavam talentos. Muitas vezes, arcou com as despesas por falta de recursos dos participantes. Citava: ‘“Louvor em boca própria é vitupério’ diz o adágio popular, mas sou forçada a admitir que seja uma das colaboradoras dessa incrementação do teatro em nossa terra”.

Fez referência a diversos atores amadores: Dona Augusta Lima dos Santos, Ruth Viana, Teotônio Viana, João Caires, Esechias de Araújo Lima, ator e parceiro, Ludgero da França Ribeiro (Piquitito) que produzia e dirigia os espetáculos, grande colaborador do teatro brumadense, com talento inquestionável. Posteriormente a nova geração em prol da nossa cultura, Rui Meira Lôbo, Aroldo Coelho e outros, desfraldaram a bandeira da coragem, da disposição a fim de não deixar morrer o teatro de nossa terra. Falou com entusiasmos dos seguintes colaboradores: Dona Teodora (professora), Celeste Magalhães (musicista) enquanto Tereza Souza organizava e produzia a indumentária (informações de Rui Lôbo).

Maria Iranilde Lôbo recebeu várias homenagens: placas, medalhas, troféus e foi também homenageada pelos prefeitos Miguel Lima Dias, Juracy Pires Gomes e Edmundo Pereira Santos. Este, que foi seu aluno, homenageou-a pelo mérito de mestra de várias gerações com carro alegórico dedicado à sua pessoa no desfile do dia 7 de setembro de 1999. Geraldo Leite Azevedo, igualmente seu discípulo, escolheu-a para nominar o Centro de Assistência Integral à criança (CAIC), no bairro São Félix, o que foi referendado pela Câmara Municipal de Brumado por unanimidade.

Em um desfile em carro aberto, no dia 7 de setembro de 1999, Maria Iranilde viu-se consagrada pelos que a homenagearam e pelo público presente, em uma apoteose com chuvas incomensuráveis de palmas em reconhecimento ao fruto de seu trabalho de educadora. Profissão que, infelizmente, não tem contado com a valorização devida dos governantes.

Ainda bem que a homenagem foi feita em vida, para que ela pudesse desfrutar e aquilatar o respeito, a admiração, a confirmação e o reconhecimento do seu valor pela comunidade. Isso, certamente, ficou gravado indelevelmente na sua memória e na dos que tiveram o prazer de conviver com pessoa de atributos tão dignificantes.

Moção de pesar de autoria do vereador José Luiz Alves Ataíde pelo seu falecimento em 08-10-1999, conforme ata em 11-01-1999.

Não poderia deixar de fazer essas referências e encômios à professora pela sua dedicação à difícil arte de ensinar, como também pela sua dignidade de pessoa humana comprometida com a profissão de levar o saber aos que deles necessitam para um futuro promissor. Homenageio-a citando Eclesiastes: “Para tudo há um tempo determinado, para cada coisa há um momento debaixo dos céus”. Descanse em paz, professora Maria Iranilde Lôbo, na certeza de que a sua missão terrena foi cumprida com dignidade nos seus setenta e oito anos de virtudes.

Transcrevo aqui um pensamento de Maria Iranilde Lôbo: “Para que a educação de nossa cidade e de nosso país cumpra seu papel verdadeiro na formação da cidadania, antes de tudo, é mister que preparem os futuros professores com competência, tendo estes vocação verdadeira para o magistério”.

Dados compilados da Monografia realizada por Ramon Dutra Lôbo e Zilmar Neves Silva Júnior no Curso de Licenciatura Plena em História da Universidade do Estado da Bahia, em 2003, na cidade de Caetité, com o título: Maria Iranilde Lôbo – A Missionária das Letras;

Entrevista a Rui Lôbo em 27 de outubro de 1977;

Diversos colaboradores com entrevistas oral.

Antonio Novais Torres.

antorres@terra.com.br

Brumado em 01/09/2008

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 17/10/2014
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