BIOGRAFIA RITA ALVES ATAÍDE

RITA ALVES ATAÍDE

*17/10/1922

Fé, é uma atitude da vontade e do intelecto, tomada por determinada pessoa através da sua crença a um ser divino. À fé se inclui a crença, mas a ultrapassa por ser um exercício de conhecimento, da razão e da inteligência da alma humana cujo objetivo é estar presente com Deus nos seus credos cristãos e nos dogmas da religião escolhida, considerada como a verdade do seu entendimento. Esse é o sentimento de dona Rita.

Dona Rita Ataíde é católica fervorosa e professa essa religião desde menina. É devota de Nossa Senhora Aparecida. Foi através de um programa da Rádio Aparecida, em 1955, ao ouvir a homilia do Padre Vitor Coelho de Almeida, durante os programas “Pelos ponteiros infinitos” e “A consagração” que se tornou associada da Rádio Aparecida. Em 1960, cooptou pessoas para se associarem à rádio, tornando-se a representante desta em Brumado.

Visitou a Catedral de Nossa Senhora Aparecida (SP) em romarias realizadas por 25 anos, desde 1963. A princípio, isoladamente com membros da família e depois fretando ônibus para essa finalidade, aberta a outras pessoas do seu convívio. Numa dessas viagens, sofreu uma queda na própria igreja, acidente que a levou para uma UTI por 11 dias e, por recomendação médica, foi para São Paulo, em companhia da filha Floriza, para um tratamento especializado.

Na Igreja católica de Bom Jesus (Matriz), foi legionária e presidente do Apostolado de Maria. Sua atuação na igreja, lugar onde fez muitas amizades, é constante, mesmo com as limitações da idade e as doenças a ela pertinentes. Atualmente, em seu envolvimento cristão, assiste às missas e aos programas da Rádio Aparecida pela televisão. Portanto, nunca esteve afastada dos ritos católicos e da fé inabalável que a caracterizam como católica fervorosa. Recebeu da Rádio Aparecida homenagem com o título de Apóstola da Comunicação, devido a sua atuação religiosa, e de Persistente e Perseverante, como ouvinte e divulgadora do apostolado cristão da rádio.

Rita estudou até o segundo grau, cursou três anos colegiais na cidade de Caetité, onde morava com o tio Antônio e sua esposa, ajudando nos afazeres da casa e estudando, com o fito de se formar professora, conforme sonhava. Entretanto, esse sonho foi interrompido por sua mãe que precisava dela para ajudá-la, porquanto a família tinha grande prole.

Foi professora Leiga e ensinou pelo município por 37 anos. Além disso, foi professora de tricô e crochê por 11 anos, no Sindicato dos Mineradores da Magnesita (SIDIMINERADORES). Fez curso de flores artificiais na Biblioteca Jarbas Passarinho, recebendo diploma de conclusão do curso. Exerceu o voluntariado, ajudando as pessoas necessitadas nos bairros Cavalhada, São Félix, Dr. Juracy e Baraúnas. Por falta de atendentes de enfermagem e enfermeiros, aplicava injeções.

Recebeu homenagem da Casa da Amizade (Rotary Club) com o diploma Exemplo de Vida, dedicação e amor como Vovó. Foi reverenciada pela APAE, que deu o seu nome a uma das salas do prédio da instituição em Brumado.

IDENTIFICAÇÃO:

Rita Alves de Lima nasceu no dia 17 de outubro de 1922, na comunidade Serra, município de Livramento do Brumado, a qual hoje se chama Alto do Rosário, pertencente ao município de Dom Basílio. Filha de Maria Virgens Alves de Lima (1881-1956) e Benedito Alves Pereira (1881-1966), os quais deixaram 12 filhos: Leopoldino, Manoel, Inácio, Maria Amélia, José, Joana, Maria Madalena, Almerinda, Antônia, Ana Francisca e Joaquim Alves de Lima e Rita Alves de Lima.

Pelo aniversário dos seus 90 anos, a neta Helda Leite Ataíde (Brasília-DF) fez-lhe homenagem, enviando-lhe uma mensagem, da qual transcrevo o trecho: “Obrigada, minha avó, por tudo o que fez por nós, e saiba que ser sua neta é uma grande alegria para mim. Uma grande bênção do Senhor.

Eu amo você, Deus lhe derrame muita alegria, saúde e paz.”

Em 17 de outubro de 2012, em comemoração ao aniversário de 90 anos de Dona Rita Ataíde, a neta Ednéia Ataíde lançou o livro “Uma vida de luta de uma grande matriarca que faz parte da História Brumadense” em sua homenagem e por extensão da família. Esse livro foi uma das fontes de nossa pesquisa.

Casou-se com Abias da Costa Ataíde no dia 30 de junho de 1943, na Igreja Nossa Senhora do Livramento, na cidade de Livramento do Brumado, passando a assinar Rita Alves Ataíde. Dessa união, nasceram 17 filhos: Homero (1944), Benedito (1944) – ambos prematuros –, Maria do Carmo (1946-2005), Margarida (1947), José Luiz (1949), Elias (1950), Raimundo (1952), Antônio Lúcio (1954), Fernando (1955), Paulo Roberto (1956), Floriza (1957), Pedro Valter (1958) – faleceu com 4 meses de vida –, Francisco Assis (1960), Lícia da Conceição (1961), José Aparecido (1961) – prematuro, faleceu poucas horas após o nascimento –, Regina Maria (1964), Rosa Cristina (1966), a caçula do casal. Por adoção, os sobrinhos João, filho de Almerinda, Anita, filha de Leopoldino (os quais saíram de sua casa casados), Maria Virgem, filha de Almerinda, e Anita, filha de Joana.

Como toda criança rurícola, pobre, trabalhava na roça ajudando os pais, morava em uma casa de taipa muito pequena para abrigar muita gente. Viviam dos recursos da roça. Rita trabalhava e arrumava tempo para estudar com D. Iazia que lhe ensinou as primeiras letras. Era uma vida de muito sacrifício, sua infância foi de muitas lutas, mas prevalecia um sonho: tornar-se professora. Orava a Santa Rita, pedindo que esse sonho se realizasse, porém encontrou resistência da mãe para o seu desiderato. Pelo exposto por Dona Rita, sua mãe era uma ditadora, autoritária e mandona. Os filhos só faziam o que ela determinava, principalmente as meninas.

Dona Rita me contou que tinha um papagaio (Louro) muito loquaz, de sua estimação, e sua mãe implicou com a ave que picotava as toalhas de mesa e, antipatizada com a ave, doou-a para ser leiloada. O papagaio falador dizia: “Socorro! Me acode, Rita! Socorro!” E ela nada podia fazer em obediência materna.

“Eu era muito apegada a Deus e sempre Lhe pedia para abençoar-me. Antes de dormir, todos os dias, rezava esta oração: ‘Aqui estou, Senhor! Meu Deus Pai, preparando-me para o descanso desta noite. Não posso deitar sem antes Vos dizer muito obrigada por mais um dia que passou e me concedestes a vida. Antes de me entregar ao sono, peço perdão pelo que fiz de errado ou deixei de fazer de bom. Perdão, Senhor! Pelas fraquezas deste dia, mágoas e tristezas que possa ter causado, e pela injustiça que eu possa ter praticado. Com Vossa proteção, para que eu possa, amanhã, ser melhor. Abençoai, Senhor, o meu descanso. Amém!’”.

A cultura do algodão proporcionou muitas melhorias ao povo pobre que passou a cultivá-lo, a fabricar os manufaturados através da roda de fiar e vender os produtos. Muito inteligente e interessada, aprendeu a fazer tricô e crochê e desenvolveu essas habilidades confeccionando roupas, sapatos de criança, enfim, tudo que pudesse produzir através do seu conhecimento. Além disso, aprendeu também a costurar e bordar. Diziam, naquela época, que ela era uma das melhores bordadeiras, o que muito a incentivou a tomar gosto pelo trabalho.

Surgiu a oportunidade de ela estudar em Caetité, pois, em Curralinho (hoje Dom Basílio), só se cursava o primário, e o seu desejo era formar-se professora. Uma tia bem de vida levou os filhos para estudarem em Caetité e precisava de alguém para ajudá-la nos afazeres da casa que o tio Antônio havia alugado. Essa alegria concretizou-se com a desistência da irmã Antônia, assim ela pôde ir em seu lugar e cumprir a sua missão. A viagem foi extenuante. O percurso fora feito a cavalo, e ela viajou na garupa do cavalo do primo Enock. Um sofrimento revestido de anseio pelo desconhecido que a aguardava. Apesar de tudo, estava alegre. Contou dona Rita.

No colégio onde os primos estudavam, uma freira dava aulas para os pobres. Rita fez a própria matrícula, e o seu interesse era tanto que ela era a primeira a chegar. Disposta e a pedido da Madre Eucaristia, arrumava a sala para receber os alunos. A aula começava com uma oração. Após o teste de aptidão, ela foi colocada na 8ª série e cursou até o 3º ano colegial. Em atenção ao pedido da mãe, deixou os estudos e voltou para a casa dos pais. Mesmo com a solicitação da freira para que ela terminasse o curso, a sua genitora não consentiu, alegando que, se ela não formasse todas, mas apenas uma, causaria inveja às outras.

Rita, por ser muito alegre e leitora voraz, encontrou em livro uma simpatia para arrumar um namorado, devaneios da juventude. Após fazer a simpatia, sonhava toda noite com um rapaz de características que não lhe agradavam, até que surgiu, em sonho, um belo moço em um lugar estranho e bem longe, mas não sabia onde ficava. Foi no casamento de uma parenta que conheceu o “esperado” que, por visão de sonho, já conhecia. A conversa rolou pela primeira vez na assuada feita para os recém-casados. O moço fez a promessa de ir à sua casa, isso levou oito meses e, na visita que os pais dele fizeram à casa dos pais da moça, o casamento foi marcado para ser realizado dali a três anos. Eles tinham 17 anos. Nesses três, houve apenas cinco encontros. “Eu estava doida para sair daquela vida de opressão”, confessou D. Rita. Infelizmente não há uma foto do meu casamento, pois ninguém se interessou por isso, apesar do pedido da noiva, para registrar o evento com fotografias, perdeu a graça com a resposta que lhe deram: “Para quê?”

Casou-se com Abias da Costa Ataíde no religioso, em Livramento do Brumado, em 30 de junho de 1943 e, em seguida, no dia 02 de julho, o casamento no civil foi realizado em Curralinho pelo Juiz de Paz João Queiroz. A sua vida de casada não foi a maravilha que ela esperava. Foi morar com a sogra, e tudo era diferente do que ela imaginara, o marido só fazia o que os pais queriam. Nessa época, nasceram Homero e Benedito, ambos de sete meses. Antes de sair da casa da sogra, teve mais três filhos: Maria do Carmo, Margarida e José Luís.

Foram morar na Fazenda Cardoso, em Malhada de Pedras, construção própria, casa de pau-a-pique, por pouco tempo. Depois, na Fazenda Pedra do Mocó, até Abias empregar-se na Magnesita S.A. e irem morar na Fazenda Brejo, propriedade da empresa. Mourejaram no Brejo por 18 anos e na Vila de Catiboaba por um ano. Com a decisão da Magnesita de acabar com as residências vizinhas da Vila, foram informados de que teriam de sair, obrigando-os a mudarem-se para Brumado. Em Brumado, ela lecionou na escola Luís Viana, no Curso Supletivo, por seis anos e trabalhou na Biblioteca Municipal Jarbas Passarinho com D. Esther Trindade Serra durante dois anos e depois se aposentou. Já aposentada, com a criação do Sindicato dos Mineradores por seu filho José Luiz Alves Ataíde, fundaram uma escola de artesanato e contrataram-na como professora de tricô e crochê. A última formatura de crochê e tricô foi a sua despedida do trabalho remunerado e também a comemoração de mais uma aposentadoria.

Nas questões políticas, Dona Rita apoiou e fez campanha para o candidato a prefeito Sr. Armindo dos Santos Azevedo, o qual a convidou para ensinar na Lagoa do Tamboril. Ensinava ali pela manhã e, à noite, ia para o Junco ensinar os adultos. Por questões de locomoção, a escola foi transferida para Pedra do Mocó, mais perto de sua casa, onde ensinou por três anos, em casa de família, até o prefeito Armindo construir um prédio escolar. No começo, tudo era difícil, não havia nenhuma estrutura física: cadeira, quadro e material escolar, o professor tinha de improvisar. Foi uma luta de 20 anos exercida com determinação e perseverança de amor pela profissão. Ela diz que teve o privilégio de alfabetizar todos os filhos.

Conta Dona Rita que a demolição do sobrado do Brejo causou em todos uma grande tristeza e indignação. O trator da Magnesita S.A. a derrubar uma construção centenária, cena inacreditável pela importância histórica do sobrado! Infelizmente os chefes da Magnesita tomaram essa decisão.

Dona Rita teve papel importante na eleição de vereadores dos filhos José Luís e Elias Alves Ataíde que posteriormente galgaram a presidência da Casa Legislativa. A sua influência se deve à grande família que tem, às amizades construídas e à participação nas campanhas de Armindo dos Santos Azevedo, Juracy Pires Gomes, Miguel Lima Dias, Agamenon Santana, Edmundo Pereira Santos e outros políticos da sua amizade.

Dona Rita é uma pessoa alegre, bondosa, de sentimento sincero e verdadeiro e sabe o valor do perdão estribado no ensinamento cristão de amor ao próximo como a si mesmo. Enfrentou e contornou todas as adversidades da sua vida com sapiência e resignação, sem desespero pelo que a vida lhe atribuiu. Determinou a construção da sua família através da fé e da sua religiosidade. Na velhice, perdem-se certas capacidades, porém é nela que se encontram todas as virtudes adquiridas no decorrer do tempo vivido. Eis que Dona Rita simboliza tudo que acabamos de exultar.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 23/05/2013.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 19/10/2014
Código do texto: T5004094
Classificação de conteúdo: seguro