BIOGRAFIA PADRE JOSÉ DIAS RIBEIRO DA SILVA

JOSÉ DIAS RIBEIRO DA SILVA

PADRE ZÉ DIAS

*20-12-1880 (Portugal)

†13-12-1937 (Brumado)

O Padre José Dias Ribeiro da Silva – conhecido como Padre Zé Dias − nasceu na freguesia de Longos, concelho de Guimarães e distrito de Braga, em Portugal, no dia 20/12/1880. Era filho de José Maria Ribeiro e Joana Rosa da Cunha, portugueses, ambos falecidos em Portugal. Eram seus irmãos: Manoel, João, Antonio, Luiz, Angelina, Domingos e Roza.

No Consulado Português, em Salvador/BA, constam os seguintes dados, com referência ao Pe. Zé Dias: “Inscrito sob o nº. 2931, em 23 de agosto de 1934. Natural de Portugal; estatura regular; cabelos brancos; rosto oval; cor natural; profissão sacerdote e a última residência em Portugal: Freguesia de Longos. Com residência no Brasil em Bom Jesus dos Meiras”.

Fez seus estudos no seminário da cidade de Braga, onde se ordenou sacerdote, sendo logo nomeado pároco na mesma diocese. Segundo os familiares, o Padre Zé Dias veio para o Brasil motivado pela perseguição aos que pertenciam à Igreja, por se colocar a favor da monarquia. Passou pela Espanha e embarcou como cidadão comum com destino ao Rio de Janeiro, onde já se encontravam os irmãos Antonio e Luiz que trabalhavam em uma farmácia de nome Granada e depois foi para Salvador.

Chegou a Salvador em 27 de outubro de 1912 aos 32 anos de idade onde desempenhou o mister sacerdotal. No mês de dezembro de 1912, o Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil D. Jeronymo Thomé da Silva mandou passar a Provisão de Pro-pároco da freguesia do Senhor Bom Jesus dos Meiras a favor do Reverendo José Dias Ribeiro da Silva, português, o qual tomou posse da referida freguesia no dia primeiro do mês de janeiro do ano de 1913. (Livro Tombo da Matriz de Brumado).

Atendia na freguesia do Bom Jesus dos Meiras nas localidades que estavam sob a jurisdição da Igreja. Fazia casamentos, batizados e celebrava missas, cumprindo o seu papel de evangelizador. As visitas às freguesias eram feitas no lombo de burros cuja tropa pertencia ao padre.

No dia 15 de março de 1913 o Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil D. Jeronymo Thomé da Silva enviou ao Pro-pároco Reverendo José Dias Ribeiro da Silva, cópia da Lei de 19 de junho do ano de 1869, nº 1091, relativa aos limites da paróquia da freguesia do Senhor Bom Jesus dos Meiras, e delimitou os limites. (Livro Tombo da Matriz de Brumado).

Em 13 de maio de 1913, fundou o Apostolado do Santíssimo Coração de Jesus na Matriz de Bom Jesus dos Meira, sendo ele o Diretor local; Coronel Manuel Joaquim Alves dos Santos, presidente; Dona Placídia dos Santos Meira, presidenta; Major Aureliano Alves de Carvalho, tesoureiro; Odilon Silva, secretário, contando ainda com a participação das senhoras zeladoras e dos associados. Em 08 de abril de 1917, promoveu, na paróquia, a instalação da Associação das Almas na Igreja Matriz da freguesia e nomeou as pessoas para a direção da mesma. Aos 11 dias do mês de outubro de 1913 foi agregada ao Apostolado da Oração esta paróquia do Senhor Bom Jesus dos Meiras.

Aos 10 dias do mês de dezembro de 1913 faleceu o vigário da freguesia Doutor e Padre Jayme Oliva, pelo que, por ordem do Exmº Revmº Sr. Arcebispo, o Pro-pároco Padre José Dias Ribeiro da Silva passou a ser Vigário Encomendado da Paróquia.

Luiz, seu irmão, sobre quem existem muitas piadas, era o sacristão e o sineiro da Igreja. Conta-se que, certa feita, ele acompanhava o Padre José Dias para a celebração de uma missa em determinado distrito e, ao apear do burro para atender a necessidade fisiológica, este mudou de posição. Sem perceber, o sacristão montou no animal, tocou viagem e nada de alcançar o sacerdote. Ao deparar-se com a cidade, exclamou: “Que lugar parecido com Brumado!”. Só então se conscientizou de que realmente estava na cidade de origem.

O Padre José Dias construiu a sua casa ao lado da Igreja e plantou, no ano de 1917, um coqueiro na lateral direita desta, em frente à sua residência. Geraldo Leite Azevedo, em setembro de 2003, em homenagem ao coqueiro da sua infância, escreveu o seguinte poema:

“Oh! Coqueiro da minha infância feliz, / Tão solitário quanto uma ilha / De um lado a Igreja Matriz / Do outro, o antigo hotel Brasília. // Coqueiro que se impõe, se agiganta / Transformando meus olhos em dois ouricuris / Era para o hotel de seu Álvaro Dantas / A vista dos turistas e o brinquedo dos guris. // Dizem que foi nos tempos do padre José Dias / Que plantaram este secular coqueiro / Por ele passaram tantas romarias / Tanta gente já morreu e ele continua inteiro. / Resistiu aos vendavais com tenacidade / E aos vândalos com determinação e ira / Perguntem ao vento se não é verdade / Perguntem ao coqueiro se é mentira // O coqueiro já não dava cocos / Era muito velho para isso, convenhamos / Passava, na Páscoa, um grande sufoco / tiravam-lhe as folhas para o Domingo de Ramos. // Ó coqueiro, tu me fascinas e me confundes / Embora te conheça como a palma da minha mão / Vives ao lado do Monsenhor Antônio Fagundes / Com o pensamento no Céu e as raízes no chão. // A igreja matriz envelheceu, foi demolida, / O velho hotel, hoje é um belo Banco do Brasil / Uma nova e linda igreja foi construída / E o meu coqueiro resiste com força varonil. // Verdade é que, por golpes de facão, o meu coqueiro / Não fosse a intervenção de Célia e Miguel Lima Dias / Que disseram “Cortem o meu coração primeiro”. // E assim velho coqueiro da Igreja Bom Jesus / Tua história tão cedo não terá fim / Enquanto nesta terra houver húmus e luz.

O coqueiro da igreja, quase centenário, morreu, apesar de Zé Maria (divulgadora) e de Fernando (português) regarem-no diariamente. Não se sabe, porém, se morreu de velhice ou por obra de algum malfeitor. O fato é que, em 2012, o coqueiro deixou de fazer parte da paisagem da praça da Igreja Matriz.

A casa do padre José Dias passou para Luiz Ribeiro Dias, por herança. Posteriormente, para Idalina Pereira da Costa, esposa deste, que a alugou para a Magnesita S.A. instalar ali o seu escritório. Depois o imóvel foi locado para o Sr. Cantídio Trindade que o sublocou ao Sr. Álvaro Aurélio Dantas e Sra. Gerolina Viana Dantas, Dona Sinhá, os quais se estabeleceram ali, com o Hotel Brasília, que funcionou por 13 anos, até 1973. O imóvel finalmente foi vendido por Idalina ao Banco do Brasil, onde hoje está instalada sua agência de Brumado.

O Padre Zé Dias plantava videiras em terreno anexo a sua casa e fabricava vinhos tanto para o uso particular quanto para a Eucaristia, utilizando as técnicas e os conhecimentos adquiridos em Portugal. As parreiras eram irrigadas com água de uma cisterna construída pelo padre. Ele tinha um pequeno alambique e aproveitava o bagaço das uvas para fazer cachaça.

Construiu uma ponte de madeira com corrimão e pilares de sustentação de argamassa feita com cal e óleo de baleia. Essa ponte, conhecida como ponte do Padre Zé Dias, permitia acesso do centro da cidade para o Bairro do São Felix e vice-versa. Mandou construir, também, as torres da igreja matriz e as cruzes de ferro, assim como os anjos que se movem com a força do vento.

Fundou uma sociedade para a formação da Filarmônica Musical, sendo ele próprio o presidente e se compunha dos músicos: Maestro Chicão (Ituassu), Agnelo, Lindolfo, Gerson, Ariston, Alvino, Nicanor, Amarílio, Altamirando, Jacundes, Procópio, Cardozinho, José Gangolim, Chico Canudo, Tindou e outros. A estreia foi em 15 de novembro de 1927 na inauguração do Telégrafo.

Comprou um Ford-29 e contratou, como chofer, Aristides Catarino (Tidinho) e, posteriormente, Laudelino que exercia os ofícios de chofer e mecânico. Possuía um relógio que marcava as distâncias, uma novidade para o povo da época. Possuía várias fazendas: Franga, Santa Luzia e Serra, todas com muita água, e a localidade chamada Pasto da Grama, além de casas e outros bens e fazia também plantações de café.

Criou a sobrinha Maria do Carmo Costa Ribeiro, apelidada de Nininha, filha de Idalina e Luiz e mandou-a estudar em Salvador, onde ficou durante um ano, depois ela estudou em Caetité, porém não se formou.

Com licença do Prelado o Revmº. Sr. D. Juvêncio Brito, exerceu o cargo de prefeito de Brumado com a mais lídima honradez no período de 1º de janeiro de 1931 até 20 de maio de 1936. Essa informação foi tirada do Livro Tombo da Igreja Matriz. O nome de Bom Jesus dos Meiras foi mudado para Brumado em 1931, portanto, em seu governo. Contudo, consta na relação de intendentes que o seu período de Intendência foi estipulado de 1934 até 1938.

Em 30 de setembro de 1933, o Padre Zé Dias, Prefeito Municipal interino, fez ciente o presidente do PSD – Partido Social Democrático –, Capitão Fidelcino Augusto dos Santos, e demais membros desse partido político local de uma circular enviada às Prefeituras Municipais pelo Interventor Federal da Bahia, Exmo. Senhor Capitão Juracy Montenegro Magalhães, com o seguinte teor:

“Prefeitura Municipal da Vila de Brumado, em 30 de setembro de 1933.

Ilmos. Srs.

Presidente e membros do Diretório Político do Partido Social Democrático da Bahia no Município de Brumado:

Tenho a distinta honra de apresentar a esse Diretório a circular anexa [solicitando apoio] dirigida às prefeituras Municipais deste Estado, pelo Exmo. Senhor Capitão Juracy Montenegro Magalhães, Interventor Federal, para que um órgão representativo da citada agremiação partidária, neste Município, se manifeste sobre o magno problema de caráter político abordado com fervoroso partidarismo na aludida Circular. Aproveito a oportunidade de reafirmar os meus protestos de elevado apreço e subida consideração.

Cordiais Saudações.

Pe. José Dias Ribeiro da Silva – Prefeito Interino”.

Dessa forma, fica claro que o Padre José Dias Ribeiro da Silva exerceu o cargo de prefeito interino antes de ser intendente.

Aos 23 dias do mês de dezembro de 1937 faleceu o Padre José Dias Ribeiro da Silva, com 57 anos de idade na vila de Brumado, antiga Bom Jesus dos Meiras, comarca de Ituassú (hoje com a grafia modificada para Ituaçu). José Costa Ribeiro, sobrinho e declarante, exibiu o atestado do Dr. Brand Lima que declarou que o padre falecera na Rua da Matriz, em casa de sua propriedade, em consequência de Edema Pulmonar e Insuficiência Cardíaca. Seu corpo está sepultado no interior da Igreja Matriz. Com a morte do Padre José Dias, tomou posse, em 14 de fevereiro de 1938, o religioso carmelita Padre Francisco Pedro Thomaz Margalho, vigário de Ituaçu, ficando a freguesia de Brumado anexada à de Nossa Senhora do Alívio de Ituaçu, por falta de clero.

No inventário do padre, as fazendas ficaram para os herdeiros moradores em Portugal, as quais, através do procurador Waldemar Torres, foram vendidas para a Magnesita S.A.

Em homenagem ao Padre Zé Dias, foi dado o seu nome a um logradouro no bairro São Félix, a antiga rua São Felix, onde está edificada a capela de Nossa Senhora de Fátima. Recentemente, em 6 de julho de 2012, o Município estendeu essa homenagem e inaugurou a praça da referida igreja, denominando-a Praça Padre José Dias, com urbanização e uma área iluminada que dão uma aparência de modernidade ao local.

O Padre Zé Dias permaneceu na Igreja do Bom Jesus entre 1913 e 1937, portanto, 24 anos de catequese e práticas religiosas dedicadas aos seus paroquianos. A ele antecedeu o doutor e vigário Jayme Oliva e sucedeu-o o Frei Pedro Thomaz Margalho da O.C. – Ordem dos Carmelitas – (espanhola). Posteriormente, em 18 de agosto de 1939, Monsenhor Luiz Pinto Bastos, vigário geral do Bispado de Caetité, com delegação do Exmº. Revmº. Bispo Diocesano, passou a provisão de vigário encomendado da freguesia de Bom Jesus dos Meiras, a favor do Revmº. Padre Antônio da Silveira Fagundes que assumiu a freguesia que estava anexada à de Nossa Senhora do Alívio de Ituaçu, desde a morte do Padre José Dias Ribeiro da Silva. Posteriormente (1962) o Padre Antônio da Silveira Fagundes, adquiriu o título de Monsenhor e permaneceu em Brumado até o dia do seu falecimento, em 18 de setembro de 2009.

Ressalte-se que a Igreja Matriz de Brumado data de 1878. Apesar de o primeiro livro de registro de batismos datar de 1873, na Ata da Primeira Sessão da Câmara Municipal da Vila de Bom Jesus dos Meiras, em 13 de fevereiro de 1878, relata o seguinte: “Eu, Antonio Ladislau de Figueredo Rocha, vice-presidente da Província da Bahia, faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa decretou, e eu sancionei a lei seguinte...” E passa o vice-presidente a descrever a Lei que autorizou a construção, a pedido dos habitantes locais, da 1ª Igreja Matriz de Bom Jesus dos Meiras.

A Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus sofreu várias reformas: em 1940, em 1989, esta realizada por Newton Cardoso, quando foi trocado o piso, fez-se nova pintura, colocaram-se ventiladores e forro. Em 2001, fez-se uma reforma geral com grandes modificações, tendo à frente o Padre Osvaldino Alves Barbosa, Padre Dino, sob a coordenação dos membros Maria Sônia Meira Gomes, Ophelia Rocha Torres Leite, Clemilton Viana Silva, Idenor Silveira Amorim, Miguel Lima Dias, Hosannah Cotrim Rizério, Marízia Eny Viana Dantas e Ir. Eli Nascimento Reis, com a colaboração de membros do comércio e de católicos. Embora conservando a sua arquitetura secular externa, modernizaram-na, tornando-a mais bela e proporcionando conforto aos fiéis. Hoje ela representa o cartão postal de Brumado pela sua beleza interna, motivo de autoestima e o orgulho dos católicos brumadenses.

Fontes:

• Informações da família do Padre Zé Dias;

• Livro Tombo da Igreja Matriz de Brumado.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 26/11/2012.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 25/10/2014
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