BIOGRAFIA DOM HOMERO LEITE MEIRA

BIOGRAFIA DE DOM HOMERO LEITE MEIRA

*02-12-1931†08-05-2014

O brumadense Dom Homero é um homem simples, fiel aos amigos e a seus princípios religiosos e muito severo e intransigente quanto às obrigações dos seus religiosos. Nasceu em Bom Jesus dos Meiras, hoje Brumado, em 2 de dezembro de 1931. É filho de Hugolino Meira e de D. Ana Francisca Leite Meira (Donana).

Em 1938, em virtude de problemas de saúde do pai, acompanhou a família e mudou-se para Caetité, ainda menino. Estudava o catecismo com o Padre Osvaldo Pereira Magalhães. Frequentando a Catedral Senhora Santana, percebeu, aos 11 anos de idade, o chamado para a vocação religiosa durante uma celebração do Padre espanhol José Maria Vicente.

Em 1944, retorna para Brumado. Por não ter a família recursos para custear o seminário, o irmão Hugo recorre ao pároco local, Antônio da Silveira Fagundes, e este decide, aqui mesmo, iniciar a sua formação doutrinária concernente. No ano seguinte, Homero vai para Caetité para prosseguir os estudos no Seminário e ali hospeda-se no Palácio Episcopal, cujo bispo era Dom Juvêncio Brito. Conclui, em Salvador, o restante da sua formação.

A sua primeira tonsura foi conferida por Dom Antônio Monteiro, e o presbiterato, pelas mãos do Bispo de Caetité, Dom José Terceiro de Souza. Sua ordenação deu-se em 8 de dezembro de 1955, em São Miguel das Matas, onde laborava o padre amigo Gilberto Vaz Sampaio. A cerimônia foi feita na presença do Bispo de Caetité. A Missa nova (primeira) foi celebrada em Brumado, no dia 20 de janeiro de 1956, na comemoração da festa de São Sebastião, com grande número de parentes, admiradores amigos e religiosos.

Toda a sua vida foi dedicada à catequese, ao ensino religioso, à formação da vocação abraçada e diz “Tudo Passa, o tempo voa, passam as pessoas, passam os fatos, passa a dor, passa a saúde, passa a tristeza, passa a alegria, passam os momentos felizes, os menos felizes, enfim tudo passa, fica somente Deus de Quem vim, de Quem sou, para Quem voltarei”.

Inicia a vida Paroquial como vigário de Piatã, aos 24 anos de idade e fica por lá durante sete meses. Retorna para Caetité e, a pedido do bispo, torna-se secretário diocesano a fim de preparar a chegada do novo prelado, Dom José Pedro Costa, o que aconteceu em 13 de outubro de 1957. É também capelão do Colégio das Freiras Mercedárias (religiosas das Mercês, fundada por S. Pedro Nolasco (1180-1256) e professor de latim na Escola Normal. Em 1958 com a abertura do seminário menor em Caetité, Padre Ademar assume a reitoria e Pe. Homero Leite Meira, torna-se seu ecônomo, diretor espiritual e professor. Logo depois o Padre Homero (D. Homero) conduziu o seminário até 1968.

Em 1965, é nomeado para a paróquia de Urandi por D. José Pedro, onde é recebido com entusiasmo dos caetiteenses José Brito da Silva e sua esposa D. Nadir Cotrim Silva, ficando ali até 1968, quando é enviado para Condeúba em substituição ao Monsenhor Waldemar Moreira da Cunha (recém-falecido). Assume em 14 de março de 1968, encontra a cidade devastada pela enchente do Rio Gavião, com muitas casas destruídas, e, graças à sua intercessão junto ao Papa João XXIII, recebe ajuda para a reconstrução de muitas delas. Nessa cidade permanece por vários anos, servindo aos bispos Dom Silvério e Dom Eliseu.

Recebe nomeações também para atuar em Cordeiros, Piripá, Tremedal, Presidente Jânio Quadros. Atua ainda em Mortugaba. Nos lugares por onde passou construiu igrejas, casa para os pobres, salão paroquial, e uma capela.

Após peregrinação a Aparecida do Norte, recebe uma carta do Núncio Apostólico, convidando-o a aceitar a nomeação feita pelo Papa, a fim de tornar-se bispo de Itabuna (1978-1980). Aconselhado por Dom Eliseu Maria, que o convence, aceitar a proposição.

ATIVIDADES EXERCIDAS ANTES DO EPISCOPADO:

Pároco de Piatã (1956); Secretário do Bispado e Reitor do Seminário em Caetité (1956-1965); Pároco de Urandí (1965-1968); Pároco de Condeúba (1968-1978).

ATIVIDADES EXERCIDAS DURANTE O EPISCOPADO:

Primeiro Bispo Diocesano de Itabuna (1978-1980), nomeado por Dom Eliseu Maria Gomes de Oliveira então bispo da Diocese de Caetité, primeiro Bispo da Diocese de Irecê (1980-1983). Sua sagração de Bispo ocorreu em Caetité, na mesma Catedral onde teve seu chamado para a vida religiosa, em 27 de dezembro de 1978, com a presença do bispo de Ilhéus Dom Tepe, Dom José Terceiro, e do Cardeal Primaz, Dom Avelar Brandão Vilela, como pregador.

Assume a novel Diocese de Itabuna, criada em 7 de novembro de 1978, em primeiro de janeiro de 1979, onde procede à instalação da nova Diocese desmembrada de Ilhéus, ficando aí até novembro de 1980, quando é nomeado bispo de Irecê.

Em Irecê, cuja Diocese foi criada em 28 de abril de 1980, toma posse em 21 de dezembro de 1980, permanecendo aí até setembro de 1983 (Bispo Emérito), renunciando por motivos de saúde.

Dentre as várias ações, atuou para a criação da Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Uibaí/BA, em 25 de dezembro de 1980, designando para ser o pároco o Padre Olezil.

Em 1984, volta a morar em Caetité, e exerce as funções sacerdotais e formativas, contribuindo com as vocações religiosas e sacerdotais, apresentava semanalmente programas de rádio, contribuiu na formação do clero leigos e foi dos principais organizadores da Renovação Carismática Católica, assistia os doentes, os presos, além de celebrar missas. Assiste em capela própria, sempre com humildade e afirmava: “Caetité tem um clima muito bom. Água, uma das melhores do mundo. E, sobretudo, povo realmente muito bom, máxime nas horas da dor”.

Em 15 de julho de 1993, Dom Homero, na Igreja Matriz de Brumado, autorizado pelo Bispo diocesano, dá posse a oito ministros da Eucaristia devidamente preparados para exercer esse ofício: Diná Lima Vasconcelos, João Lúcio dos Santos Neto, Marília de Lourdes Costa, Maria da Conceição Viana Leite, Marísia Eny Viana Dantas, Milza Santos Leite, Paulo Santos Silva e Adilson Pinto Pauferro.

Hoje Dom Homero é bispo residente. Adoentado, dependendo de cuidados, não exerce mais funções religiosas.

ESTUDOS REALIZADOS:

Ensino Fundamental e básico em Caetité/BA. Ensino médio em Salvador (1944-1946). Filosofia em Salvador (1947-1949); Teologia em Salvador/BA (1950-1955), no Seminário Central de Salvador.

HOMENAGEM PELO JUBILEU DE OURO:

Ao completar 50 anos de sacerdócio, o padre Homero, hoje emérito bispo Dom Homero, é homenageado em 08/12/2005, quando, com carinho e gratidão, Teotônio Marques Filho, um de seus pupilos de seminário nos idos de 1962-1965, faz Confissões Reveladas (trechos selecionados):

“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós,/ Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,/se não tocamos o coração das pessoas”.

(Cora Coralina)

É, caríssimo padre Homero. Sim – padre – porque foi esse o dom que Deus lhe deu e o que ficou, na minha memória, do doce lá de outrora: dos tempos idos e jazidos que ficaram como jazidas.

Primeiramente, a história da velhinha preta, para quem céu ou inferno com Deus era sempre a mesma coisa: o céu! Imagino Santa Velhinha Preta entrando no céu: – Licença, meu branco! E São Pedro bonachão e com intimidade: – Pode entrar, Pretinha, você não precisa pedir licença...

Por que, reverendo padre e reitor emérito, a lacuna em seu livrinho do velho Seminário São José? Tantas confissões ternas e saudosas a revelar: o menino tímido e assustado de Tanque Novo, que ficava vermelho de medo quando lhe chamavam a atenção (talvez por isso tenha se tornado bom aluno nas matérias programadas e nas missas em latim: o único calouro que, em quinze dias, já sabia ajudar a missa em latim, conforme falou o senhor, em público, aos seminaristas reunidos).

Memórias de suas aulas de Latim e do velho compêndio do padre João Ravlzza, com suas 560 páginas: ‘Dic, duc, fac, fer’, pág. 106, nº 104, ‘1’. ‘Mirum somnium somniavi’, pág. 219, nº 251 (achava bonito o senhor falar número, página e até rodapé... Depois, como professor, adquiri a mesma mania pela vida afora). E a terceira declinação que, segundo dizem, fez Santo Agostinho desistir, de tão complexa que era? Eu não: fui em frente triunfante para a quarta e para a quinta, embalado pelos seus ensinamentos de insigne mestre... (ln diebus illis, nihil obstat et nihil ‘busilis’ erat).

Memória do partido de Latim entre o terceiro e quarto anos, em que nós – do terceiro – ganhamos; e, depois, demos um ‘baile’ no futebol, num dia em que eu estava endiabrado de Deus... Fui o único a acertar uma pergunta e fiz três gols na partida!

Tanta gente a evocar do velho seminário da Rua Barão, em Caetité... Os padres com suas batinas pretas (padre Ademar, padre Raimundo dos Anjos, padre Roque, monsenhor Oswaldo, o bispo Dom José Pedro Costa...); os colegas de seminário, o primo ‘Pai Véio’, o Benedito – seu fiel escudeiro –... Todos seguiram o seu caminho ou repousam no ‘assento etéreo’ de que fala o poeta.

A maioria como eu (hoje na casa dos 60), com as marcas do tempo: as rugas que sulcam caminhos para os que vêm depois; as cãs com seus níveos fios, tecendo a vida... Muito fica, reverendo padre, quando se chega a 50 anos de sacerdócio, o dom sagrado dos que são chamados por Cristo para a sua obra: fica a ‘sabedoria de experiência feita’ na serenidade da missão cumprida; fica a placidez de caudalosas águas, que se entranham no sorriso de quem venceu; fica a arte de envelhecer com grandeza, sem nunca envilecer!

Padre Homero... Não o de homéricos feitos e dons retóricos, que se vão como bolhas fugazes; mas o padre de convicção firme e de inabalável fé, que salva almas, esperanças dá. Continue a navegar, reverendo barqueiro, sulcando caminhos, salvando almas... Nas caudalosas águas do rio da vida, agora o que conta (mais do que o ócio da terceira idade e o rio de Contas) é a busca serena da terceira margem do rio...”

TESTEMUNHO DO PADRE DINO SOBRE DOM HOMERO:

Dom Homero exerce todos os serviços inerentes ao sacerdócio ministerial com dedicação, mas tem destaque especial o ensinamento através dos sermões, que ele faz com eloquência, permeados de estórias ilustrativas que prendem a atenção do ouvinte e, sobretudo, sua habilidade, disponibilidade e dedicação incansável na escuta das confissões. O Pe. Homero é um confessor por excelência. O seu penitente sai do confessionário sempre livre, alegre e solto, com a sensação de que recebeu um abraço do próprio Deus.

Recordo os idos de 1995 a 2000, quando eu trabalhava em Brumado, aonde Dom Homero ia a convite do Mons. Antônio Fagundes para ajudar nas festas de São Sebastião, do Bom Jesus e na Semana Santa. Ele madrugava na Igreja Matriz, atendendo às confissões. E, no dia seguinte, quando encontrava uma pessoa na rua ou nas casas que visitava, perguntava: você já se confessou? Ele tinha prazer em atender a confissões. Penso que essa é uma missão especial que Deus lhe deu.

Outro serviço que ele prestava com orgulho era o programa na Rádio Educadora de Caetité, nas terças-feiras e nos sábados, ao meio dia. Começava dizendo ‘Tem vinte e cinco anos que este programa vai ao ar’. Já depois de debilitado pela idade e enfermo, fazia uma lista de alôs, sempre a mesma em todos os programas, inclusive citando nomes de pessoas que já haviam morrido. A mesma coisa em todo programa, mas as pessoas gostavam de ouvi-lo só pela melodia da voz. Por não aguentar mais subir as escadas que davam acesso aos estúdios, tivemos que instalar um pequeno transmissor em sua residência, o que lhe causou muita alegria.

[...]. Dom Homero conta muitas estórias e anedotas, bem como cita frases cheias de sabedoria e humor: ‘Tem sábios e sabidos’. ‘Eu sou sábio’. ‘Nasci pelado e sem nenhum conhecimento, hoje tenho roupas e sou bispo’. ‘Estou vivendo horas extras’. Muito amigo de Mons. Adhemar, a quem ele define dizendo: ‘Quem não gostar de Adhemar é porque não presta. Mons. Adhemar é tão bom que não presta. Nunca briguei com Adhemar, por causa dele”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Em suas pregações, Dom Homero sempre contava uma história com a finalidade de esclarecer e concretizar mais a doutrina Cristã. Algumas eram retiradas de livros e pregações; outras, adaptadas. Muitas – a grande maioria – presenciadas por ele. Com isso, envolvia as pessoas no seu objetivo catequético.

O Seminário São José, em Caetité, foi inaugurando em 19 de março de 1958, logo depois o Pe. Homero o conduziu como ecônomo até 1968. Em 1947, a Diocese de Caetité envia seminaristas para o Seminário Central da Bahia, em Salvador, dentre os quais Dom Homero que, mais tarde, cursa as etapas de Filosofia e Teologia.

Homero, homem zeloso da obrigação que lhe fora confiada, buscou a transparência e a uniformidade do Clero. Após a sua posse, no mês de setembro de 1958, ele mesmo pregou o retiro aos 16 padres da Diocese. Dom Homero é muito conceituado pelos sacerdotes que o admiram pela postura de homem de comportamento digno e sério.

O padre Homero foi nomeado Bispo Diocesano de Itabuna em 1978 por Dom Eliseu Maria Gomes de Oliveira, Ordem dos Carmelitas. Ao renunciar, em 1983, por motivo de saúde, voltou a residir em Caetité, onde se encontra até hoje. Com a renúncia, passou a exercer funções sacerdotais formativas, acompanhando e incentivando os vários grupos diocesanos.

Na década de 70, o padre Homero Leite Meira, na época pároco de Condeúba, fez uma visita ao Seminário Maior da Diocese de Adria-Rovigo, na Itália, para um encontro com seminaristas, certamente a pedido do Bispo Dom Silvério de Albuquerque, recém-chegado à diocese de Caetité. Com as mudanças promovidas pelo Concílio Vaticano II, Dom Silvério havia dirigido apelo ao Centro Eclesiástico Italiano para a América Latina – CEIAL –, que tinha o objetivo de preparar padres italianos para as diversas nações latino-americanas. O Padre Gianni Boscolo, ao saltar em Salvador, desencontrou-se do padre Homero, que fora encarregado de esperá-lo, e o jovem padre italiano chegou a Condeúba com grande dificuldade e logo foi transferido para Urandi e Pindaí.

A vida eclesiástica de Dom Homero foi intensa. É bispo [e o primeiro Padre brumadense], o que orgulha os seus compatriotas, especialmente os católicos que têm admiração pelo seu fervor religioso, pela sua fé indestrutível e pela sua cultura.

Está aí uma pequena amostra da grandeza de Dom Homero.

Pe. Osvaldino Alves Barbosa.

Fontes de referência:

Livro: Histórias contadas por Dom Homero Leite Meira em suas pregações;

Wikipédia, a enciclopédia livre;

www.geocities.ws/caetitecultura/datas_jubileu_domhomero.html;

Resumo biográfico produzido por André Koehne.

Pt.wikipedia.org.wiki/Diocese_de_Irecê;

pt.wikipedia.wiki/diocese_de_Itabuna;

Livro da Diocese de Caetité – 100 anos de fé e Missão nas Terras Sagradas do Sertão-Bahia;

Livro-Tombo da Igreja Matriz de Brumado.

Depoimento do Padre Osvaldino Alves Barbosa (Pe. Dino).

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, Dezembro de 2013.

ADITIVO: Dom Homero Leite Meira morreu aos 83 anos de idade, em 08-05-2014, na cidade de Caetité, onde residia, e estava acamado por motivos de saúde.

Seu sepultamento solene se deu a 9 de maio, no cemitério Municipal e contou com a presença dos bispos de Caetité e padres das paróquias e dioceses.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, 08-05-2014.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 03/11/2014
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