Biografia do Biólogo EDUARDO DE SOUZA MARTINS

Eduardo de Souza Martins foi o único profissional a ocupar por duas vezes a presidência do IBAMA, contribuindo de maneira significativa na estruturação e qualificação dos serviços prestados pelo órgão. É considerado um dos melhores presidentes da historia do IBAMA!!!

Nasceu em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, em 22 de outubro de 1956, filho de Benedito José Martins e Neli Gonçalves de Souza Martins. É o segundo filho de seis irmãos: Edson, Eduardo, Eliana, Elizete, Eder e Ednei. Curiosamente, seus pais nomearam os quatro filhos iniciando pelas letras “Ed” e as duas filhas com as iniciais “El”.

O seu pai, Benedito José, era caixeiro viajante das Indústrias Matarazzo, percorrendo a região de entorno de Barretos vendendo secos e molhados, enquanto deixava sua prole aos cuidados da esposa, Dona Neli Martins.

Eduardo Martins foi privilegiado por ter toda sua formação, desde o ensino básico até o superior foi em ótimos estabelecimentos públicos. Aos sete anos de idade, sua família se mudou para Barretos, onde completou o ensino fundamental no Colégio Coronel Silvestre de Lima e o ginasial no Instituto Estadual de Educação (IEE) Mário Vieira Marcondes.

Em 1972, mudou-se para Ribeirão Preto para fazer cursinho pré-vestibular. Trabalhava na peixaria de seu irmão, Edson Martins, para arcar com as despesas pessoais.

Por influência do amigo Dimas Dias Brito, que estava estudando Geologia em Brasília, Eduardo Martins viajou para fazer o vestibular de Biologia da UnB.

Passou e se mudou, em 1975, para a capital federal, aonde construiu uma bem-sucedida carreira e formou sua família.

Sua primeira residência foi no alojamento estudantil da UnB, dividindo o espaço com outros 5 estudantes.

Logo nos semestres iniciais, tornou-se monitor do laboratório de fisiologia vegetal, fazendo experimentos sob orientação do casal de professores, Linda Styer Caldas e Ruy de Araújo Caldas – a quem atribui enorme afeto por terem-lhe apoiado bastante em sua formação acadêmica.

Naquela época, Brasília tinha outra aparência e ritmo. A população era pequena e havia muitos espaços vazios, especialmente na Asa Norte que teve sua ocupação tardia em relação ao Eixo Monumental e Asa Sul. Em volta da UnB a paisagem era dominada pelo Cerrado nativo. O número de veículos e linhas de ônibus era pequeno. Ele e seus amigos caminhavam diariamente do alojamento até as salas de aula e laboratórios. Nessas andanças foram observando aos poucos a ampliação da infraestrutura viária e o surgimento de novas construções. Em 1978, aconteceu a inauguração nas proximidades da UnB da sede do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que mais tarde se transformaria no IBAMA.

Enquanto muitos acadêmicos gastavam seu tempo com esportes, festas e outros passatempos, Eduardo Martins aproveitava cada momento aprofundando seus conhecimentos na leitura de livros, participando de cursos ou fazendo pesquisas no laboratório de fisiologia vegetal. Sua dedicação nos estudos logo lhe traria bons frutos. Além de construir uma sólida formação profissional, também conheceu uma jovem gaúcha, Maria Iracema Gonzales, também estudante de biologia, que cativou intensamente seu coração e se transformou numa parceira nos trabalhos acadêmicos.

Logo que se formou em 1979, Eduardo tinha planos de prosseguir fazendo um curso de pós-graduação. Quando recebeu a notícia de sua aprovação no Mestrado em Fisiologia Vegetal na Universidade Federal de Viçosa (UFV), entrou em grande dilema. Ele desejava se mudar para o sul de Minas Gerais, mas o amor por aquela bela jovem foi mais forte. Desistiu da mudança e foi só conseguir um bom emprego para pedi-la em casamento, com quem teve posteriormente dois filhos: André e Júlia.

Em julho de 1980, Eduardo Martins foi contratado como técnico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Naquela época, ainda não existia o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e o CNPq era o órgão responsável pela política nacional de incentivo e financiamento de pesquisas científicas e tecnológicas nas diversas áreas do conhecimento, com bolsas e auxílios. Eduardo Martins coordenou o Programa do Trópico Úmido, desenvolvendo com base em amplo processo de consulta os elementos para uma política de desenvolvimento cientifico e tecnológico para a Amazônia. Também participou da concepção e coordenou a implantação do programa de fixação de recursos humanos para pesquisa na Amazônia, que serviu como instrumento de melhoria e renovação do corpo de pesquisadores de universidades e institutos.

Eduardo Martins desde seu começo de carreira viu de perto a relação entre o financiamento externo e a ocupação da Amazônia. Em 1981, o Banco Mundial estava financiando o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), com asfaltamento da Rodovia BR-364, no trecho ligando Cuiabá a Porto Velho. Atuou na elaboração dos “Componentes Ecológicos do Programa” ao lado de grandes profissionais, como: Paulo Emílio Vanzolini, Nelson Papavero, Enéas Salati etc. Além do asfaltamento da BR-364, o Polonoroeste se propunha a criar assentamentos rurais com atendimento básico nas áreas de saúde, educação, escoamento da produção, protegendo a floresta e os povos indígenas. No entanto, esse Programa se mostrou um desastre, estimulando intensa migração, o que elevou drasticamente os índices de desmatamento e gerou inúmeros conflitos sociais. Para quem desejava ver ações voltadas para o desenvolvimento social e proteção ambiental, participar daquele Programa governamental pautado em princípios equivocados era realmente frustrante.

Em 25 de agosto de 1983, começou a trabalhar como Assessor na Fundação Projeto Rondon, que tinha objetivos parecidos com os trabalhos que ele conduzia no CNPq. O Projeto Rondon era coordenado pelos Ministérios da Defesa e da Educação, promovendo atividades de extensão universitária, levando estudantes voluntários no período de férias para inúmeras comunidades carentes no interior do país, onde participavam da realização de ações de cidadania, bem-estar, gestão pública e desenvolvimento local e sustentável.

Em 1985, Eduardo Martins recebeu uma proposta inusitada. Ele já estava a um bom tempo lidando à distância com as questões relativas à Amazônia, mas desejava conhecer de perto a realidade daquela magnífica região. Foi assim que ele se mudou para Belém, como técnico do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), no final gestão do Diretor José Seixas Lourenço.

Pouco depois, em julho de 1985, o Dr. José Seixas Lourenço foi nomeado Reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), e Eduardo foi com ele para trabalhar na Secretaria Geral, participando da redefinição dos critérios e procedimentos de avaliação do desempenho docente, da moralização do acúmulo de cargos, além de ser um dos idealizadores do Projeto Universidade Multicampi, que tratou do processo de interiorização do ensino superior, dando prioridade aos de licenciatura de Letras, Matemática, História, Geografia e Pedagogia. Além de qualificar professores leigos, o Projeto deu oportunidade de trabalho para aqueles já formados em Licenciatura Plena. Foram estruturados Núcleos que ofertavam cursos em formato intervalar em municípios nas diversas regiões do estado: Abaetetuba e Castanhal (região metropolitana), Marabá (região sul), Altamira (rio Xingu), Santarém (rio Tapajós) e Soure (Ilha de Marajó). Anos antes, Eduardo tinha trabalhado na Fundação Projeto Rondon e usou parte das informações socioeconômicas das bases avançadas e regionais na estruturação do Projeto Multicampi.

Em 1987, retornou como pesquisador, agora no Núcleo de Primatologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde realizou expedições de levantamento biológico de primatas, percorrendo os principais rios da Amazônia, nos estados do Pará, Roraima, Amapá e Acre. Conquistou uma bolsa de Mestrado na UnB, executando suas pesquisas ao lado do famoso primatologia José Márcio Corrêa Ayres – um dos responsáveis pela criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Estado do Amazonas.

Desenvolveu estudos para definição de metodologia de manejo sustentável da caça de subsistência para populações extrativistas. A metodologia foi, em grande parte, adotada para manejo de fauna em Reservas Extrativistas. Os resultados foram publicados, em 1989, no livro "Biologia e ecologia de primatas amazônicos: avaliação e perspectivas", em co-autoria com José Márcio Ayres.

Entre 1989 e 1990, foi convidado pelo Diretor-Geral do Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre (IMAC), Marco Antônio Mendes, para assumir o cargo de Diretor de Estudos e Pesquisas, responsável pela sistematização das atividades de controle e fiscalização ambiental, adotando pela primeira vez informações de geoprocessamento para orientar as ações de controle, sanções e punições. Na campanha de fiscalização de 1990, cooperou na definição da articulação institucional entre o IBAMA e o órgão estadual para ações conjuntas que aperfeiçoassem os meios disponíveis. Até então, o Acre não possuía uma Política Estadual do Meio Ambiente, o que só aconteceria mais tarde com aprovação da Lei nº 1.117, de 26 de janeiro de 1994.

Nessa época, conheceu algumas pessoas que estava iniciando sua carreira e que mais tarde se tornariam referências no ambientalismo e na política nacional, como a sindicalista Marina Silva, que em 1989 consagrou-se como a Vereadora mais bem votada em Rio Branco; e os irmãos Jorge e Tião Viana, que naquele período estavam iniciando suas carreiras políticas e mais tarde seriam eleitos como governadores e senadores do Acre.

Em 19 de abril de 1990, retornou definitivamente para Brasília, tomando posse na recém-criada Secretaria Especial de Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR), como Diretor do Departamento Técnico Científico. O convite teve origem pela sua participação no “Programa Nossa Natureza”, que buscava reposicionar o Brasil frente ao desafio de proteção da Amazônia.

O ambientalista José Antônio Lutzenberger era o responsável pela SEMAM e logo incumbiu Eduardo Martins de uma missão considerada extremamente relevante. Foi indicado para compor um grupo de trabalho criado com objetivo de elaborar um projeto de recuperação da área dos índios Ianomâmi. Essa equipe multidisciplinar foi instituída pela Portaria interministerial nº 16, de 05 de fevereiro de 1991, com representantes dos Ministérios da Justiça, Relações Exteriores, Educação, Saúde, e das Secretarias de Assuntos Estratégicos e de Meio Ambiente.

Com a saída do Coronel Altino Berthir Brasil, Eduardo Martins tornou-se Secretário-Adjunto da SEMAM/PR.

Lutzenberger era considerado um dos maiores nomes na defesa do meio ambiente brasileiro.

Reconhecido internacionalmente como intelectual com enorme capacidade técnica, mas não era um mediador. O seu espírito visionário e suas opiniões críticas da burocracia estatal, não lhe permitiam transitar com facilidade entre os diversos campos de ação do conturbado governo Collor. Assim, deixou Eduardo Martins cuidando da parte administrativa da Secretaria, enquanto se dedicava na proposição de ideias e nos debates para construção de políticas públicas e moralização dos serviços públicos.

Em agosto de 1991, com a saída da presidente do IBAMA, Tânia Maria Tonelli Munhoz, coube a Eduardo Martins assumir seu posto.

Os anos 80 foram palco de grandes acontecimentos no Brasil. Houve a retomada do regime democrático e aconteceu grande mobilização para aprovação da Nova Constituição, que trouxe inúmeros avanços, com destaque para um capítulo específico para o Meio Ambiente (Artigo 225). Fora isso, havia enorme expectativa entorno da Conferência Rio 92, o que tornava ainda mais exaustiva a missão de conduzir os diversos interesses e anseios na construção das políticas ambientais.

Nos primeiros anos de sua criação, o IBAMA passou por inúmeros momentos conturbados. As necessidades de ajustes eram gigantescas, tanto em termos técnicos, logísticos, como na organização de leis e normas para regularizar os passivos ambientais em acordo com a Constituição Federal de 1988.

Lutzenberger tinha muitos sonhos, mas sua atuação como Secretário foi breve e muito controversa. Infelizmente, não permaneceu tanto tempo quanto muitos ambientalistas desejavam. Eduardo Martins deixou a Secretaria e o IBAMA junto com Lutzenberger.

Como presidente do IBAMA, Eduardo publicou algumas normas importantes, com destaque para a Portaria nº 02 de 09 de janeiro de 1992, que dispõe sobre registro para a exploração de palmito (Euterpe oleraceae), do açaizeiro, típico da Amazônia. Diversas empresas exploravam desregradamente os açaizais nativos, quase sempre sem atendimento das condições exigidas pela Vigilância Sanitária, nem tampouco levando em consideração as questões ambientais. Por meio dessa Portaria, criou-se a obrigatoriedade de registro junto ao IBAMA, das indústrias de conserva/beneficiamento de palmito, exigindo, entre outras coisas, o Plano de Abastecimento com base no manejo da área ou do plantio.

O IBAMA não contava com um quadro de servidores especializado para fazer o licenciamento, nem havia uma Diretoria especifica para licenciar. Quem acumulava essa tarefa era a Diretoria de Controle e Fiscalização - DIRCOF, que gerenciava a concessão ou cancelamento dos registros, além de fiscalizar e monitorar as atividades potencialmente degradadoras dos recursos naturais. À medida que o órgão detectava um problema, os técnicos e fiscais procuram normatizar. Só 10 anos depois disso, em 2002, que o IBAMA passaria a ter a Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental (DILIQ).

Em 1992, coordenou a elaboração e o encaminhamento para o Legislativo da primeira versão da Lei de Crimes Ambientais.

Com a nomeação do Administrador José Roberto Alves Corrêa, Eduardo Martins deixou o IBAMA para se tornar Coordenador Técnico Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), entre 1992 e 1993. Coordenou o desenho da participação da organização no Programa Piloto PPG7 e contribuiu na definição das bases institucionais de organização do GTA na região amazônica. Passou a interagir com as lideranças ambientalistas, tanto da Amazônia como do centro-sul do Brasil.

Entre 1993 e 1995, atuou como Coordenador do Programa Brasil do WWF - Fundo Mundial para a Natureza, quando iniciou o processo de institucionalização da WWF-Brasil, que mais tarde tornou independente e autônoma a entidade no País. Participou da definição de estratégia de comunicação e marketing para arrecadação de fundos e abriu a agenda da instituição para atuar na área de sustentabilidade, incluindo a dimensão humana no trabalho de preservação que a entidade conduzia.

Em janeiro de 1995, o Presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu o executivo cheio de projetos. Ele que sempre foi considerado um grande intelectual, pelo seu enorme conhecimento da realidade de diversos países, também tinha a seu favor o apoio de sua esposa, a professora Ruth Cardoso, que coordenava um grupo de pesquisadores na USP trazendo importantes contribuições para a gestão federal.

Fernando Cardoso criou o Ministério da Administração e da Reforma do Estado (MARE), que decidiu transformar três órgãos (IBAMA, INMETRO e Fundação Oswaldo Cruz) em agências executivas-modelo.

O Ministro Gustavo Krause convidou o Deputado Federal Raul Jungmann para presidir o IBAMA e Eduardo de Souza Martins para assumir o cargo de Secretário de Coordenação dos Assuntos de Desenvolvimento Integrado do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Entre 1995 e 1996, Eduardo atuou como Secretário-executivo do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Com a saída de Raul Jungmann, Eduardo Martins assumiu pela segunda vez como presidente do IBAMA. Permaneceu de 1996 a abril de 1999, aproveitando o aprendizado de sua experiência anterior para conquistar excelentes resultados.

Coordenou um grupo de cerca de 40 técnicos (entre os quais: Ana Maria Evaristo Cruz, Lúcia Maria Mazzilli, Sandra Klosovski, Sinfrônio Silva, Joaquim Benedito da Silva Filho, Ricardo Soavinski etc.), que se debruçaram intensamente na elaboração do Projeto de reorganização institucional do IBAMA. Esse trabalho gerou inúmeros frutos. O fortalecimento dos Centros de Pesquisa, a qualificação técnica, o engajamento dos servidores na busca por melhores condições, especialmente pela luta para aprovação do plano de carreira estimulada em reuniões e debates oriundos dessa época.

Implantou os Programas Protocolo Verde e de Prevenção, Monitoramento e Combate a Incêndios e Queimadas no Arco do Desflorestamento da Amazônia Legal (PROARCO).

Coordenou a criação de Unidades de Conservação e a elaboração de normas e procedimentos para implantação do ecoturismo nessas áreas. Foram investidos mais de US$ 30 milhões em infraestrutura nos 20 Parques com maior potencial turístico.

Esteve à frente da elaboração da proposta e da negociação com o organismo de financiamento bilateral da estratégia de fortalecimento institucional do licenciamento ambiental. Coordenou, ainda, a implantação de rotinas de monitoramento georreferenciado do desflorestamento da Amazônia e sua disponibilização para uso público.

Orientou a revisão normativa de vários setores, tais como: florestal, manejo de fauna silvestre, licenciamento ambiental e de cobrança de taxas e multas.

Buscou atender um desejo antigo de José Lutzenberger, ao assinar a Portaria Normativa IBAMA nº 84, de 15 de outubro de 1996, estabelecendo procedimentos para registro e avaliação do potencial de periculosidade ambiental (PPA) de agrotóxicos, seus componentes e afins, além de Instituir o Sistema Permanente da Avaliação e Controle dos Agrotóxicos.

As multas aplicadas pela fiscalização tiveram seus valores atualizados, através da Portaria IBAMA nº 92, de 25 de outubro de 1996.

A Portaria nº 118-N, de outubro de 1997, normatizou o funcionamento de criadouros de animais da fauna silvestre brasileira com fins econômicos e industriais.

Essas e outras medidas contribuíram para ampliar significativamente o orçamento anual da autarquia.

Atuou intensamente para aprovação da Resolução CONAMA nº 237/97, um marco no licenciamento ambiental brasileiro.

Como articulador político, representou o Ministro do Meio Ambiente na negociação da Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9605/98), com o Legislativo e os vários segmentos da sociedade.

Em 1998, durante a gestão de Eduardo Martins, o CONAMA iniciou um trabalho de regulamentação dos resíduos sólidos: pneus, pilhas e baterias, serviços de saúde, construção civil, importação e exportação, lâmpadas fluorescentes, aterros sanitários, entre outros. Esse foi o passo inicial de construção da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Infelizmente a lentidão provocada pela burocracia e entraves políticos, entre outras questões, só permitiu que essa Lei fosse aprovada doze anos depois, em 2 de agosto de 2010.

Para melhorar o desempenho institucional, ele assinou a Portaria IBAMA nº 55-N, de 30 de abril de 1998, aprovando o Regimento Interno da Procuradoria Geral do IBAMA.

Procurou modernizar o serviço de fiscalização. Buscou uma verdadeira revolução tecnológica com a finalidade de melhorar a eficiência dos serviços prestados, aumentar a arrecadação e combater a corrupção.

Criou um grupo de informação para observar de perto os setores encarregados da fiscalização e do controle ambiental. Propôs medidas, como: instalando equipamentos de GPS (Global Positioning System, mecanismo que indica as coordenadas com exatidão, com auxílio de satélites) em barcos de pesca, ou usando código de barras nas guias de autorização de lotes de madeira.

Assinou ainda a Portaria IBAMA n° 53-N, de 22 de abril de 1998, aprovando o Regulamento Interno da Fiscalização, que trazia nos seus Artigos 4º e 5º, as obrigações dos Chefes das Divisões de Controle e Fiscalização e Unidades Descentralizadas de Fiscalização e dos Agentes de Fiscalização: 1) abster-se em aceitar favorecimentos que impliquem no recebimento de benefícios para hospedagem, transporte, alimentação, bem como presentes e brinde de qualquer espécie, sob qualquer pretexto; 2) comunicar ao seu superior imediato os desvios praticados e irregularidades detectadas, no exercício da ação fiscalizatória; 3) abster-se do consumo de bebidas alcoólicas durante o serviço ou trabalhar alcoolizado. Essas orientações podem parecer obvias, mas estavam expressas no Regulamento Interno de Fiscalização como um recado direto a tolerância zero com essas práticas danosas ao serviço público.

Tentou desburocratizar o Instituto. Propôs a adoção de uma Declaração Ambiental Única, que reduzirá a um só os múltiplos trâmites de licenciamento e cobranças. Essa foi uma medida bem polêmica, pois com ela o IBAMA passaria a pedir apenas uma declaração do empresário sobre os seus planos. Essa medida foi testada inicialmente para setores monitorados por sensoriamento remoto, como a mineração, a indústria madeireira e os latifúndios.

Fortaleceu os trabalhos de Educação Ambiental, investindo recursos na produção de material impresso e em vídeo para servirem de apoio nas ações desenvolvidas nos Escritórios Regionais (ESREG) e nas Superintendências Estaduais (SUPES).

Apoiou a parceira do Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e o Programa da Xuxa, que na época tinha uma das maiores popularidades da TV brasileira, estimulando a conscientização ambiental.

Fundou o Centro Nacional de Populações Tradicionais (CNPT), estimulando a criação de Reservas Extrativistas (RESEX) e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS).

Atuou junto com outros órgãos para a criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia, em Manaus, com um corpo técnico altamente capacitado e especializado, com objetivo de ampliar ações e projetos para aproveitar melhor os recursos biológicos da floresta amazônica.

Nunca se intimidou por notícias tendenciosas e pessimistas veiculadas na mídia com relação aos trabalhos do órgão.

Lutou arduamente tentando mostrar para os demais setores do governo acerca da necessidade de se priorizar o meio ambiente como parte das políticas públicas de outros Ministérios.

Passou a dedicar um dia por semana para receber parlamentares, o que reduziu a pressão política, além de contribuir significativamente no andamento dos Projetos de Lei e na articulação institucional com Estados e Municípios para que cumprirem suas obrigações constitucionais referentes ao Capítulo 225, que trata da proteção ambiental.

Eduardo Martins sempre acreditou que o IBAMA deveria limitar suas atribuições as questões federais, como por exemplo: fiscalizando a costa, o mar e as fronteiras interestaduais ou internacionais. Nesse propósito, assinou em novembro de 1998, o primeiro convênio deste "pacto federativo" com o governo do Estado de Minas, que se comprometeu a assumir suas responsabilidades ambientais.

Após deixar o cargo, seguiu carreira na iniciativa privada.

Em 1999, fundou a empresa E.labore, onde atua como Diretor Técnico na coordenação de dezenas de trabalhos de consultoria técnica e assessoramento estratégico voltados para a implantação e solução de crises de grandes empreendimentos em todo o país.

Foi membro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Também é produtor de cachaça orgânica no município de Taiobeiras, região do alto rio Pardo, norte de Minas Gerais.

Eduardo de Souza Martins é sempre lembrado pelos servidores do IBAMA como um profissional competente, bem articulado, com grande capacidade de liderança. Muitos o descrevem como um intelectual cheio de estilo e hábitos refinados – características típicas dos membros abastados da elite brasileira. Também percebem outros aspectos valiosos, retratando-o como uma pessoa humilde, carismática e de fácil convívio.

Soube como poucos se integrar aos diferentes grupos que compõem o quadro funcional do Instituto. Aproveitou intensamente as competências e habilidades de sua equipe. Norteou as ações baseadas em princípios de respeito e cumplicidade. Soube reconhecer as qualidades individuais daqueles que o cercavam, além de manter ótimas relações com os dirigentes da Associação de Servidores (ASIBAMA).

Após deixar a presidência do IBAMA, Eduardo de Souza Martins pôde levar em sua bagagem muitas experiências exitosas e uma sensação de dever cumprido. Os servidores que presenciaram aqueles momentos até hoje reconhecem com orgulho as conquistas de sua gestão!!!

BIBLIOGRAFIA:

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DINIZ, Nilo Sérgio de Melo. 2010. Ambiente e Democracia Participativa: A Experiência do CONAMA. Monografia - curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais. Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. 104p. Orientadora: Heloisa Maria Murgel Starling. Disponível em: http://www.secretariageral.gov.br/.arquivos/monografias/Nilo%20Sergo%20de%20Melo%20Diniz.pdf

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Brasília – DF, Março de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 16/12/2014
Reeditado em 04/07/2021
Código do texto: T5070975
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