A VIDA E A OBRA DE EDGAR ALLAN POE - PARTE CINCO

Em janeiro de 1837, Edgar abandonou seu cargo no Southern Literary Messenger e partiu com a família para Nova York, indo morar num edifício na esquina da Sexta Avenida com a Praça Waverly, no mesmo andar em que residia o livreiro William Gowans (1803-1870), que muito o ajudaria.

E o que levara Edgar a escolher Nova York para fixar residência? A resposta é muito simples: porque tinha ali alguns conhecidos (entre os quais, James Kirke Paulding, os irmãos Harper e o professor Charles Anthon), pessoas com quem fizera amizade por correspondência.

Uma dessas pessoas, o sr. Paulding, havia sugerido a Edgar, em fevereiro de 1836, que “ele deveria escrever uma longa narrativa de cunho bem popular”. Lembrando-se dessa sugestão, Poe escreveu “Narrativa de Arthur Gordon Pym”, publicada em livro pelos irmãos Harper em 1838. O êxito do livro foi pequeno e não lhe trouxe nenhum dinheiro. Talvez isso o motivou a negociar com o sr. White a sua publicação, em forma de folhetim, no Southern Literary Messenger.

A despeito de sua fama, Edgar não conseguiu arrumar um emprego fixo. Assim, coube à bondosa sra. Maria Clemm a incumbência de sustentar a filha e o sobrinho. Ela alugou uma casa na Rua Carmine e passou a aceitar pensionistas.

Dizendo-se perseguido e incompreendido, Edgar estava reduzido à mais absoluta miséria. Porém, contava com a ajuda do livreiro Gowans, que, agora, era um dos pensionistas da sra. Clemm. E o livreiro o apresentou a alguns literatos, entre os quais um inglês de nome James Pedder, que não tinha o mínimo talento para escrever, mas tinha ligações com alguns magazines da Filadélfia, na época o grande centro editorial dos Estados Unidos. Pedder induziu Edgar a mudar-se para esta cidade, onde tinha duas irmãs que eram proprietárias de uma casa de cômodos, na Rua Doze. Assim, um pouco antes do final do agosto de 1838, Edgar, acompanhado por sua esposa, sua tia e James Pedder, mudou-se para a Filadélfia. A princípio, foram pensionistas das irmãs do sr. Pedder; entretanto, logo o poeta decidiu mudar para mais perto das livrarias e tipografias. Então, tinha em mente dois projetos: Primeiro Livro do Concologista ou Sistema de Malacologia dos Testáceos e uma coletânea com seus contos escolhidos. No primeiro, teria a seu cargo a editoração, mais um prefácio e uma introdução, tendo ainda de assiná-lo. Foi apenas um trabalho mercenário, que lhe rendeu cinqüenta dólares e ainda a acusação de haver plagiado o livro de um naturalista e malacologista inglês, o Capitão Thomas Brown (1785-1862). O segundo, Tales of the Grotesque and Arabesque, publicado em dois volumes em 1840, foi um fracasso total e não lhe rendeu um centavo sequer (tudo o que recebeu foram alguns exemplares para distribuir entre os amigos).

Por volta dos meados de 1839, Edgar arrumou um emprego fixo: escrever artigos sobre esportes e resenhas literárias no Burton’s Gentleman’s Magazine. Nessa publicação, cujo proprietário era o jornalista e empresário teatral William Evans Burton (1804-1860), apareceram algumas poesias de Poe (“A Alguém no Paraíso”/“To One in Paradise”, escrita em 1833, foi uma delas) e alguns contos importantes e famosos (“A Queda da Casa de Usher”, “William Wilson”, “Morella”, entre outros).

Nesse ínterim, Edgar também se correspondeu com algumas figuras notáveis das letras norte-americanas, entre as quais Washington Irving (1783-1859).

No entanto, a mente inquieta de Edgar levou-o a ansiar novamente poder possuir uma publicação própria. Então, em janeiro de 1841, ele lançou o prospecto do projeto do Penn Magazine, “um jornal literário mensal a ser redigido e publicado (por Edgar A. Poe) na Filadélfia”. Nesse prospecto, expôs “toda a sua teoria a respeito de um magazine”. Era sua intenção, com o prospecto, sensibilizar futuros sócios para seu empreendimento. Contudo, não obteve sucesso algum e foi obrigado, uma vez mais, a aceitar um trabalho assalariado. Dessa vez, no Graham’s Magazine, recebendo um ordenado de oitocentos dólares por ano.

Em pouco tempo, graças à capacidade editorial de Edgar e à colaboração de notáveis redatores (todos contratados por Poe), a tiragem do Graham’s Magazine foi aumentada de cinco mil para quarenta mil exemplares. Durante o período em que ocupou o cargo de editor da revista (fevereiro de 1841 a abril de 1842), Edgar publicou alguns de seus melhores trabalhos e chamou a atenção do público e da crítica em geral. Tornou-se, então, vastamente conhecido como competente redator, crítico brilhante e severo, escritor de histórias arrepiantes e poeta. Mas logo voltou a almejar ser dono de seu próprio magazine e entregou-se à bebida, o que motivou “o notável e competentíssimo redator e antologista Rufus Wilmot Griswold” (1815-1857) ser contratado para seu cargo. Ao encontrar, certo dia, Griswold sentado em sua cadeira, Edgar abandonou a redação do Graham’s Magazine e nunca mais voltou, passando apenas a colaborar na publicação.

Em seguida, Edgar tentou encontrar emprego na alfândega da Filadélfia, contando com a ajuda de amigos influentes em Washington. Porém, uma malfadada visita à Casa Branca, em que compareceu completamente embriagado, pôs tudo a perder e nem mesmo seus amigos influentes puderam ajudá-lo.

Edgar estava na mais completa miséria. E ficou desesperado, vendo sua amada esposa definhar-se, devido à tuberculose. Recorreu, então, à bebida (há provas de que também começou a fazer uso do ópio).

Em 6 de abril de 1844, no auge do desespero e com pouco mais de quatro dólares no bolso, Edgar embarcou, com a família, para Nova York. Foram residir no número 130 da Rua Greenwich, numa pensão miserável.

Mesmo desesperado, Edgar conseguiu, ainda, forças para escrever para o jornal New York Sun uma balela – na época, as balelas estavam em voga e eram até incentivadas pelos editores –, “A Balela do Balão”, que se tornou um grande sucesso, permitindo à família se mudar para uma pensão de melhor aspecto.

Antes do final da primavera de 1844, um piedoso casal de irlandeses, os Brennans, proprietário de uma fazenda localizada na Estrada de Bloomingdale (hoje, no local, situa-se a Rua 84 e a Broadway), deu asilo para a família Poe. E foi nesse aprazível vale do Rio Hudson que Edgar concluiu seu famoso poema “O Corvo” (“The Raven”), no qual vinha trabalhando desde 1841-1842.

No verão de 1844, Edgar correspondeu-se com o escritor James Russell Lowell (1819-1891). E, no outono, estava novamente sem dinheiro. Então, a sra. Clemm resolveu procurar trabalho para Edgar e não foi difícil para ela convencer o bondoso sr. Nathaniel Parker Willis (1806-1867), editor do jornal Evening Mirror, de Nova York, a empregá-lo como redator.

Ainda que não fosse esse o tipo de trabalho que almejava, Edgar procurou valer-se dele em seu próprio benefício e, a fim de chamar atenção para si, fez rasgados elogios à poesia de certa srta. Elizabeth Barrett (depois, sra. Robert Browning) e iniciou uma polêmica com o poeta Henry Longfellow (1807-1882), a quem chamou de plagiador.

Embora o sr. Willis demonstrasse um especial carinho por ele, Edgar, desgostoso, já começava a pensar em abandonar suas medíocres funções. Foi quando Lowell apresentou-o a um grupo de jornalistas que estava prestes a lançar o Broadway Journal, financiado por um tal Briggs. Edgar foi logo contratado como redator geral. Assim, deixou a publicação do sr. Willis, “que se conservaria seu fiel amigo até o fim”.

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 22/04/2015
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