Eu não sou George Soros

Eu não sou George Soros

Claro, não sou Steve Jobs ou mesmo Eike Batista. Minhas habilidades financeiras, são praticamente nulas, talvez além disso.

Na minha família sempre fui conhecido como um parente distante do Rei Medras, que viria a ser primo do Rei Midas. Enquanto o primo famoso tocava as coisas e as transformava em ouro, meu irmão consumava dizer que onde eu punha a mão, se transformava em medra (um eufemismo para fezes).

Nunca consegui desconstruir esta afirmação. Meu histórico em termos de crescimento econômico beira ao risível. Sempre ouvi falar que se eu fosse investir em alguma área, o mais prudente que todos poderiam fazer seria fugir daquela área. De fato, várias vezes acabei “estragando” os investimentos alheios.

Sabendo disso, um colega de USP me convidou para ser sócio dele em um projeto de Educação à Distância. Ele logo se adiantou e disse que ele cuidaria da parte comercial. Eu fui de todo grato, pois sou consciente de minhas limitações na área e me foquei na parte educacional, que costuma ser a minha praia.

Era uma época em que sistemas de EAD eram caros e buscávamos desenvolver um sistema com menor custo.

Depois de várias idas e vindas, estávamos com um sistema estável e com bastante recursos, pronto para competir com os sistemas do mercado.

O engraçado era que nossa primeira limitação era o preço. Ele era substancialmente mais em conta que os sistemas conhecidos e isso parecia assustar os potenciais clientes.

Mesmo não sendo da área comercial, acabei tendo contato com um dirigente de uma grande escola de Sampa que resolveu “pagar para ver”. Quis ver se conseguíamos atender aos requisitos que a escola precisava.

Eu procurei avaliar as necessidades e características da escola e pedi para o pessoal do desenvolvimento “customizar” o sistema para eles. Acabamos implantando o sistema na escola.

O melhor de tudo é que nem chegaram a pechinchar. Bem, estávamos realmente com um preço abaixo do mercado. E eles não só pagavam em dia, como também costumavam pagar adiantado.

Começamos atendendo o Ensino Médio em pouco tempo passamos a atender o Fundamental II da escola.

Eu me dedicava a treinar professores no uso do sistema.

Em pouco tempo meu sócio se sentiu um Jobs na vida. Acho que achava que o mundo deveria se curvar a nós. E me informou que o pessoal do sistema não deveria mais atender aos anseios da escola. Eles é que deveriam se adaptar a nós, e não nós a eles.

Na minha singela interpretação, o cliente paga e gostaria de receber o que deseja. Aquela escola era o nosso melhor cliente. Aliás, o único!

Eu alertava que vislumbrava uma “podo impulsão de retaguarda” (pé na bunda), visto que passávamos a não atender aos anseios da escola.

E, para completar, começava no mercado a Plataforma Moodle, que era gratuita! Para mim parecia uma premonição.

Final do ano letivo e não deu outra. Fomos comunicados da rescisão. E eles foram tão gentis que pagaram até a multa rescisória.

Meu então sócio, comentou que era melhor sairmos, visto que “eles não estavam no nosso nível”. Tentei me consolar com a percepção que eu não era o mais desavisado dos otários.

Nesta época, meu irmão pediu para ensinar Física para o filho dele. Eu fazia isto com um extremado prazer. Em conversas pós aula, comentei o caso acima relatado e outros golpes que eu já havia caído.

Ele iniciou um diálogo emblemático:

“Pô tio, você é o maior dos otários!”

Ao que respondi:

“Bondade sua, mas não sou tudo isso!” (Acho que pintou um instinto de auto respeito.)

Ele prosseguiu:

“Então você seria o que? O menor dos otários?”

Um certo senso crítico me visitou:

“Não, aí também não! Seguramente não!” (Eu tinha de me curvar aos fatos.)

Achei que era hora de terminar a aula.

Otário Praticante
Enviado por Otário Praticante em 24/05/2015
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