Comentário sobre Du Bocage

Manuel Maria de Barbosa Du Bocage nasceu em Setúbal, Portugal, a 7 de setembro de 1766, morrendo em 1805. Conheci Bocage, pela má fama que corria em minha infância; imaginem, que tudo que era anedota imoral, diziam ser de Bocage; acredito que tenha sido daquele tempo a minha intolerância com anedotas. Procurei conhecer Bocage, o poeta, e me surpreendi com a excelente qualidade de sua poesia e sua precisão métrica. Dou-lhes uma idéia, transcrevendo a poesia Insônia, em que podemos observar, a clareza e elegância com que Bocage apresenta o tema. Consegui uma edição de seus sonetos da Livraria Bertrand, uma tiragem de 1000 exemplares. Em 1797, é preso e processado em razão de seus versos, em que chama Napoleão de grande redentor da natureza, criticando os estados pontifícios. O Juiz desembargador mudou a categoria de culpa de delito contra o Estado em erro contra a religião. Encaminhou-o para julgamento pela Inquisição, para cujos cárceres foi transferido. A variedade de temas que Du Bocage mostra em sua obra é extraordinária, por isso foi considerado o maior poeta de sua época. Extremamente satírico, era capaz de numa poesia enaltecer ou destruir uma reputação. A má fama de poeta pornográfico adveio de ter escrito Poesias eróticas, burlescas e satíricas que eram censuradas. Em 1854, essas poesias foram publicadas em Bruxelas. Consta, que Bocage escreveu durante a agonia uma poesia de despedida, que muitos julgam apócrifa; se ele morreu de aneurisma, como consta, não teria tempo de escrever coisa nenhuma; de qualquer modo, a poesia se tornou clássica:

- Já Bocage não sou!...À cova escura meu estro vai parar desfeito em vento...Eu aos céus ultrajei! O meu tormento leve me torne sempre a terra dura. Conheço agora já quão vã figura em prosa e verso fez meu louco intento. Musa!...Tivera algum merecimento, se um raio da razão seguisse, pura! Eu me arrependo; a língua quase fria brade em alto pregão à mocidade, que atrás do som fantástico corria: Outro aretino fui...A santidade manchei...Ó! Se me creste, gente ímpia, rasga meus versos, crê na Eternidade!

Se vocês lerem os poemas de Bocage, podem até concordar, ser esse soneto terminal de sua autoria; todavia, custa-me a crer, que um poeta daquela envergadura pudesse mandar rasgar os próprios versos; não acredito. Pra encerrar, por ora, transcrevo o auto-retrato do poeta: - Magro, de olhos azuis, carão moreno, bem servido de pés, meão na altura, triste de facha, o mesmo de figura, nariz alto no meio e não pequeno...Em relação à poesia tinha a seguinte autocrítica: Incultas produções da mocidade exponho a vossos olhos, Ó leitores, vede-as com mágoa, vede-as com piedade, que elas buscam piedade e não louvores.”- Vale a pena ler Bocage”.