SAVINO DE BENEDICTIS

SAVINO DE BENEDICTIS

Ars Severa, Gaudium Magnum - (Artigo publicado em Notas RICORDI – INFORMATIVO DE MÚSICA - RICORDI BRASILEIRA S/A – ANO III – Nº 8 - DEZ/FEV 1996

"Na produção musical erudita e popular que se desenvolve no Brasil, a partir do Romantismo, muito se deve à influência italiana. O Rio de Janeiro, primeiro Corte, depois Capital da República, foi o ponto de partida da atividade musical.

Apesar da força centralizadora, São Paulo, no início deste Século (século XX) se tornou um centro econômico muito forte. A criação do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, a construção do Teatro Municipal, o florescimento da escola pianística de L. Chiaffarelli, tudo evidencia a existência de uma burguesia ávida de cultura, que apreciava a música e Freqüentava salões públicos e particulares. São Paulo importou, nessa época, vários mestres italianos; entre eles, Savino De Benedictis.

Nascido em Bari cm 1883. Savino foi líder e arregimentador de profissionais, que criou em 1913 (aos 33 anos de idade) o Centro Musical de São Paulo, primeira organização sindical da categoria. E foi também compositor de mérito, exímio orquestrador, regente de grande competência. Além disso, fez sólida carreira, como professor e escritor de teoria musical (num sentido abrangente), harmonia e contraponto. E, muito importante: como compositor e professor de composição.

Exercendo na juventude a função de flautista da Banda da Força Pública, criou obra especializada no gênero, o Curso teórico prático de instrumentação para Orquestra e Banda (Tratado de Instrumentação), sua última obra teórica publicada (1954), que mereceu elogios de inúmeros outros mestres, graças às suas principais qualidades: a abrangência e a concisão. Essas duas virtudes permeiam e caracterizam todos os seus escritos teóricos, cuja publicação iniciou em 1909, com seu Tratado de Harmonia.

Savino De Benedictis fundou a Academia Musical de São Paulo, inaugurada em 1928 e fechada às vésperas da 2ª. Guerra Mundial, quando naturais e descendentes dos países do Eixo foram sistematicamente perseguidos. Ottorino Respighi, quando esteve em São Paulo, conheceu o trabalho da Academia, que mereceu-lhe calorosos elogios. Entretanto, mais que `criar uma escola’, ‘criou escola’: uma escola austera e tradicionalista como ele, na qual só persistiram e floresceram os talentos mais notáveis, os mais convictos da veracidade de uma escolha tão universal e tão nobre.

Deixou também sua herança musical na linguagem límpida e bela de sua filha Emilia De Benedictis, compositora de mérito e excelente pianista. Modestamente, gostava de ser chamado apenas de "professor". Mas destacou-se também como compositor. Sua obra musical é proporcionalmente pequena, mas sempre original e marcante, conservando relativa independência a modismos e clichês.

Seu drama sacro ou oratório, JESUS, com texto de Menotti Del Picchia, foi montado com grande sucesso no Teatro Municipal de São Paulo, em 1935 e no Municipal do Rio de Janeiro, em 1946; CURUMISSU, para orquestra foi premiado pelo Departamento de Cultura; MACUMBA, para orquestra e coro, é uma peça impressionante e arrebatadora; seus corais fazem parte do repertório do Coral Paulistano e outros corais; sua obra de câmara, pouco conhecida, mereceria maior estudo e divulgação; e suas peças pianísticas foram tema dos Concursos Estaduais de Piano "Savino De Benedictis", em Santos.

Entre suas variadas obras orquestrais, uma tornou-se um marco de época e de gênero – o poema coral-sinfônico

"Centenário", que inaugurou, com pompa e majestade, o Monumento do Ipiranga, em 1922 e o Estádio do Pacaembu, em 1940.

Savino foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Música, em 1945, ocupando a cadeira nº 12, que tem como patrono Domingos da Rocha Mossurunga. Largamente reconhecido, teve sua obra regida por Lamberto Baldi, Ernst Mehlich, Edoardo de Guarnieri, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Miguel Arqueróns, Silvio Baccarelli, Samuel Kerr e, recentemente, Simon Blech.

A admiração que granjeou durante toda a vida dedicada à música pode ser resumida nas palavras do seu discípulo, amigo e ministro dos últimos sacramentos, Pe. José Geraldo de Souza: "Na Escola de Savino exigia-se pena ´experta´, ágil, a ser cultivada com longo trato de harmonia, do coral, do contraponto. Era esse o lema da sua ACADEMIA MUSICAL DE SÃO PAULO: Ars severa gaudium magnum – alegria maior não há, senão na arte severa". Nilcéia C. S. Baroncelli

Apenas para registrar, Savino De Benedictis italiano de Bari, veio da Itália no início do século XX (1913); era primo em 2º grau do meu pai, Massimo Antonio De Benedictis que, como êle, veio da Itália em 1927, após a primeira grande guerra. (Ricardo De Benedictis)