Professor Ângelo de Souza Nogueira (1899)
 
Luiz Carlos Pais
 
O professor normalista Ângelo de Souza Nogueira, depois de exercer o magistério em Varginha, Sul de Minas, foi nomeado para ocupar, em 1899, uma cadeira de ensino primário público para meninos de São Sebastião do Paraíso, no mesmo Estado. Seu nome está na história da educação da cidade, das duas primeiras décadas do século XX. Nascido em 8 de outubro de 1861, iniciou sua carreira no magistério aos 21 anos de idade, quando foi nomeado para uma vaga em Leopoldina, conforme noticiado em jornal dessa cidade mineira, em 3 de setembro de 1882. Anos depois, foi removido para Varginha, onde ministrou aulas alguns anos e pediu exoneração do cargo.
 
Ao assumir a vaga existente na florescente São Sebastião do Paraíso, como era usual naquele tempo, ministrava aulas em sua própria residência. Integrou-se à sociedade local e chegou a receber uma modesta patente da extinta Guarda Nacional. Exerceu ainda o magistério por mais duas décadas e ocupou, por mais de uma vez, a direção interina do Grupo Escolar Campos do Amaral, inaugurado em 1º de fevereiro de 1916, quando contava com 55 anos de idade. Na época em que iniciou sua carreira, “Aula” ou “Escola” eram termos usados de modo indistinto, no sentido que em cada escola havia um único mestre que ministra a aula.
 
A legislação da época previa que o governo deveria pagar o aluguel da residência do professor, que servia também como escola, bem antes da implantação dos primeiros grupos escolares, que em São Sebastião do Paraíso ocorreu em 1916. Entretanto, há vários relatos de professores e inspetores de ensino na imprensa da época, cobrando do governo o pagamento do aluguel da casa-escola.
 
Diante de tais dificuldades, o professor Ângelo de Souza Nogueira resolveu aplicar suas modestas economias na construção de sua casa própria. Porém, com seus próprios recursos, mandou também construir uma sala de aula na residência para que as aulas pudessem ser ministradas em melhores condições de ventilação, claridade e higiene. O gesto magnânimo resultou do seu profundo engajamento em favor da educação da então chamada “instrução primária popular” em oposição à instrução primária particular, ministrada às crianças cujas famílias podiam pagar o professor. Em nome da história, é oportuno transcrever abaixo o registro da louvável iniciativa do professor Ângelo de Souza Nogueira que contribuiu para a expansão da educação primária no importante município cafeeiro do sudoeste mineiro:
 
“É para louvar o interesse revelado por diversas municipalidades mineiras, no sentido de auxiliar o governo estadual em seus esforços pelo maior desenvolvimento do ensino primário no Estado. A esse nobre movimento acaba de aderir a Câmara Municipal da Prata, votando para o exercício de 1913 a verba de 150 mil reis, como auxílio à iniciativa particular na construção de um prédio destinado a uma escola do sexo feminino, em Bom Jardim, naquele município. Também o professorado público do Estado não se limita ao cumprimento dos deveres regulamentares, esforçando-se cada vez mais, para ir ao encontro da administração estadual empenhada em reduzir, tanto quanto possível, o analfabetismo em Minas. O senhor Ângelo de Souza Nogueira, professor público de São Sebastião do Paraíso, mandou construir, sem ônus algum para o Estado, a sala em que está instalada a sua escola, correndo por sua conta as despesas. A Secretaria do Interior enviou um ofício de aplausos ao digno professor.” (O Paiz, Rio de Janeiro, 1º de Novembro de 1912, p. 7)
 
O saudoso professor faleceu no dia 10 de abril de 1935, aos 74 anos de idade e foi sepultado no cemitério municipal de São Sebastião do Paraíso. Em nome de todos os cidadãos paraisenses, que recebem ou não suas lições, prestamos essa singela homenagem à sua memória, bem como a todos os mestres pioneiros da Terra Natal.