Nomes do RN: Manoel de Assis Mascarenhas

Retratado na crônica “O velho Senado”, de Machado de Assis, como um exemplar da geração que acabava, o senador pelo Rio Grande do Norte Manoel de Assis Mascarenhas era:

“um homenzinho seco e baixo, cara lisa, cabelo raro e branco, tenaz, um tanto impertinente, creio que desligado de partidos. Da sua tenacidade dará ideia o que lhe vi fazer em relação a um projeto de subvenção a um teatro lírico, por meio de loterias. Não era novo; continuava o de anos anteriores. D. Manuel opunha-se por todos os meios à passagem dele, e fazia extensos discursos. A mesa para acabar com o projeto, já o incluía entre os primeiros na ordem do dia, mas nem assim desanimava o senador. Um dia foi ele colocado antes de nenhum. D. Manoel pediu a palavra e, francamente, declarou que era seu intuito falar toda a sessão; portanto aqueles de seus colegas que tivessem algum negócio estranho e fora do Senado podiam retirar-se; não se discutia mais nada. E falou até o fim da hora, consultando a miúdo o relógio para ver o tempo que lhe ia faltando. Naturalmente não haveria muito o que dizer em tão escassa matéria, mas a resolução do orador e a liberdade do regimento davam-lhe meio de compor o discurso. Daí nascia uma infinidade de episódios, reminiscências, argumentos e explicações; por exemplo, não era recente a sua aversão às loterias, vinha do tempo em que andando a viajar, foi ter a Hamburgo; ali ofereceram-lhe com tanta instância um bilhete de loteria, que ele foi obrigado a comprar, e o bilhete saiu branco. Esta anedota era contada com todas as minúcias necessárias para ampliá-la. Uma parte do tempo falou sentado e acabou diante da mesa e três ou quatro colegas. Mas, imitando assim Catão, que também falou um dia inteiro para impedir uma petição de César, foi menos feliz que o seu colega romano. César retirou a petição, e aqui as loterias passaram, não me lembra se por fadiga ou omissão de D. Manuel; anuência é que não podia ser. Tais eram os costumes do tempo”.

Nascido em Goiás em 8/8/1805, Manuel Assis de Mascarenhas formou-se em Portugal, na Faculdade de Direito de Coimbra. Foi por dois mandatos presidente da província do Rio Grande do Norte, (1838-1841) e (1841-1842); Deputado Geral (1843-1844) e Senador (1850-1867). Em seu período inicial, ocorreu em Assu o chamado “Fogo de 40”, fato que repercutiu em toda a Província. Lutas políticas culminaram num grande tiroteio, que resultou em várias mortes. D. Manoel partiu de Natal em 21 de dezembro de 1840, levando 200 homens da Guarda Nacional e Polícia. Conforme Cascudo, “Sua presença e modos afáveis apaziguaram o ambiente”.

Fora do Estado, ocupou os seguintes cargos e funções: Encarregado de Negócios do Brasil na Áustria, Deputado pela Província de Goiás e Presidente da Província do Espírito Santo.

Manuel de Assis foi ainda Ministro do Supremo Tribunal de Justiça, cargo no qual se aposentou.

Djahy Ferreira Lima é contador e advogado.

REFERÊNCIAS:

ASSIS, Machado de. O velho Senado. Texto-fonte: Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Nova Aguiar, V.II, 1994. Publicado originalmente em Revista Brasileira, Rio de Janeiro, 1898.

Vários Autores. 400 Nomes de Natal. Coordenação Editorial Rejane Cardoso. Natal (RN): Prefeitura do Natal Natal,2000.

MAIA, Agaciel da Silva. Parlamentares do Rio Grande do Norte (Senadores do Império à República). Brasília (DF): Senado Federal.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 24/10/2017
Código do texto: T6152130
Classificação de conteúdo: seguro