1077-VIDA DE TRABALHO E FELICIDADE

Elvira Colombarolli – Biografia – Cap. 17

A vida na chácara tinha inúmeras dificuldades a vencer. As roupas após serem lavadas em córrego longínquo, transportadas na cabeça ou grandes bacias, eram expostas para secagem. Não tinha varal de arame liso. Eram estendidas em cercas de arame farpado e a remoção deveria ser com esmero cuidado para não rasgarem. Findo o processo de secagem, a outra etapa também era cruel. Era passar as roupas com o ferro-de-passar. Era um utensílio no qual brasas recolhidas do fogão de lenha eram colocadas no seu interior. As brasas esquentavam todo o ferro, que tinha uma abertura para sair a fumaça, cabo de madeira para isolar o calor e base lisa, muito lisa, Após uns cinco minutos, o ferro estava quente, na medida boa para passar sobre as roupas secas. À medida que as brasas iam sendo consumidas era necessário acrescentar mais carvão para prosseguir o passar das roupas. Havia uma pequena abertura posterior, na qual se assoprava para manter as brasas acesas, mas colocar o ferro-de-passar na janela, sobre um suporte de metal, era também bom, pois aproveitava-se qualquer brisa u movimento do ar para a aeração das brasas. Era um trabalho exaustivo. As mãos ficavam aquecidas e Elvira, como qualquer passadeira de roupas suava com o calor da atividade. Era necessária cautela para não tomar ventilação abrupta que poderia levar ao estupor. Elvira não reclamava de nada dessa tarefa . Estava sempre disposta e com ânimo. A horta da chácara era grande de produzia verduras, legumes, e todo o tipo de vegetal usado na cozinha. A água abundante do córrego que passava ao lado do terreno era um fator do viço das alfaces, dos tomates, jilós, quiabos e tudo que em se plantando, dava com fartura. Para o cultivo da horta todos dava a sua mãozinha. Alpineu, Zé Pina, Os meninos, ela mesma e até as meninas ajudavam, cuidado das plantas. As verduras excedentes produzidas naquela horta de terra negra e fértil eram levadas para serem vendidas na cidade. Zé Pina colhia as verduras, que, regadas antes de serem colhidas, apresentavam-se frescas e viçosas. Elvira preparava então todas as cestas para os filhos levarem à cidade e lá venderem. Tos os meninos – Natal, Orlando, Darcy, passaram por esta fase de venda de verduras. Eram amarrados de couve, de almeirão, de salsa, de cebolinha; abobrinha, pimentão eram vendidas por unidade, bem como os pés de alface. Ervilhas, vagem, quiabo eram em porções, colocadas em rústicos e práticos saquinhos feitos com folhas de bananeiras; mandioca era mais complicado, pois as raízes eram de tamanhos bem diferentes, e os meninos eram instruídos a que preço vendê-las. Não se usava balança, e no final, vendia-se tudo e o dinheiro arrecadado ia para o um vaso de barro, imitando um barril bem pequeno, para ajudar nas despesas da casa. Na sazonalidade das frutas Elvira fazia doce de figo, de abóbora e mamão cristalizados, para abastecer as vendas (lojinhas da Mocoquinha), na cidade. No tempo das “enchentes das goiabas”, isto é, mais para o final da safra, fazia tachadas e tachadas de goiabada, para consumo da família. Eram guardadas em práticas caixas de madeira, de tamanho quarenta centímetros de comprimento por trinta centímetros de largura e quinze centímetros de altura, com prática tampa de correr. As caixas, em numero de dez ou mais (conforme a safra) eram colocadas (dizia-se “escondidas” ) sobre o forro da sala, de difícil acesso para os garotos, gulosos por doces. Broas de fubá para a qual utilizava fubá de sua própria fabricação também tinha o caminho da cidade para as vendas. Com esta renda suplementar Elvira auxiliava seu marido nas grosseiras despesas domésticas. E como fazia fartura ela estava sempre com sua pequena reserva financeira. Havia uma boa criação de porcos mantidos num local chamado “mangueirão” que era uma enorme voçoroca de altos paredões e de onde os animais não tinham maneira de escapar, por mais que fuçassem a terra. No fundo do mangueirão corria uma pequena mina d’água, na qual os bichos se deleitavam. Os porcos tinham que ser alimentados com farelo e restos de hortaliças, mandioca, e de tudo que os fizessem crescer e ganhar peso, proporcionando boa renda na venda, ou boa carne, toucinho e pururucas, quando sacrificados para consumo da família. Era também incumbência de Elvira alimentar a porcaria, como todos gostavam de se referir aos bichos tão porcos e tão gostosos quando servidos à mesa sob as mais variadas formas. Havia uma pequena construção a poucos metros da casa de morada, onde um sobre um fogão baixo, a lenha queimava dia e noite, debaixo de uma tacha de cobre, onde eram colocados os restos de comida, folhas de verduras, abóboras-de-porco, mandioca, e a barrigada de boi ou vaca. Era um cozido forte, de cheiro não muito agradável, mas que, engrossado com farelo de arroz, era a ração forte que nutria os animais. Um serviço que, para um homem já seria pesado, para Elvira era apenas mais uma tarefa a ser cumprida, e que ela sempre fazia com satisfação. Era forte demais tanto no corpo esbelto como no espírito, sempre alegre, sorridente, bem humorada e incansável. E a família crescia em numero, em felicidade, em harmonia, num verdadeiro ninho de felicidade. . .

ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI

Belo Horizonte, 26 de Junho de 2018

Conto # 1077 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 25/10/2018
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