NIETZSCHE O "ANTICRISTO"

Qualquer tema que tenha alguma relação com o filósofo em questão, será um tema consideravelmente complexo e polêmico. Pois Nietzsche é complexo. Nietzsche é polêmico. O que me levou a escrever sobre este “filósofo-do-martelo”, foi a sua pouca aceitação ou até mesmo a incompreensão e transgressão, no que diz respeito as suas idéias filosóficas.

O filósofo que antes de tudo não queria ser confundido com outra pessoa.

Friedrich Nietzsche foi um dos filósofos mais críticos da tradição filosófica racionalista e iluminista, sendo que sua crítica está na raiz daquilo que Marcondes (2005, p. 139), chama de “crise da modernidade”. Tendo assim influenciado filósofos contemporâneos como Heidegger, Foucault e outros.

Nietzsche nasceu em Roecken, na Prúsia, a 15 de outubro de 1844 que por uma

“feliz” coincidência era o dia de aniversário do rei prussiano que ocupava o trono: Frederico Guilherme IV. Seu pai, que havia sido tutor de vários membros da família real, rejubilou-se diante daquela patriótica coincidência e batizou o filho com o nome do rei. Houve de qualquer modo uma vantagem na escolha desse dia para o seu nascimento; o dia do seu aniversário, durante toda a infância, foi um dia de muitas festividade públicas.

Sua mãe era uma senhora piedosa e puritana, do mesmo tipo que havia estimulado Immanuel Kant; e com talvez uma desastrosa exceção, Nietzsche ficou piedoso e puritano, casto como uma estátua, até o fim: daí o seu ataque ao puritanismo e a piedade.

Seu pai fora pastor protestante; havia uma longa linha de clérigos por trás de cada um de seus genitores; e ele próprio continuou sendo um pregador até o fim. Atacava o cristianismo porque ele próprio tinha muito de seu espírito moral; sua filosofia era uma tentativa de equilibrar e corrigir, por meio de uma violenta contradição uma irresistível tendência à delicadeza e paz, conforme nos relata Durant (2000, p. 373) “não teria sido um insulto final o fato de a boa gente de Gênova chamá-lo de Il Santo!”.

A morte precoce do pai, Karl, deixou-o vítima das “santas” mulheres da casa, que o mimaram até quase incutirem nele a delicadeza e a sensibilidade feminina. Não gostava dos meninos travessos de sua época, que roubavam ninhos de passarinhos, atacavam pomares, brincavam de soldado e contavam mentiras. Seus colegas de escola, segundo Bacelar (2006, p. 6), o chamavam de “o pequeno ministro”, se referindo e o descrevendo como “Jesus no templo”. Deliciava-se em isolar-se e ler a Bíblia, ou lê-la para outros, com tanto sentimento que chegava a trazer-lhes lágrimas aos olhos. Havia também em Nietzsche um estoicismo nervoso e um sentimento de orgulho oculto. Aconteceram vários incidentes na sua adolescência e na sua juventude que iria acompanhá-lo por toda a sua vida. Ele iria procurar meios físicos e intelectuais para endurecer-se numa idealizada masculinidade.

Aos 14 anos, Nietzsche recebeu uma bolsa de estudos para freqüentar o Colégio Real de Pforta, internato de elite onde estudaram Klopstock, Schlegel, Novalis, Ranke, Fichte entre outros.

Distante da família enfrentou a solidão compondo música sacra, escrevendo poemas, redigindo um diário e várias autobiografias, as quais obedeciam a uma necessidade constante de clarificar-se sobre si mesmo e sobre seus pontos de vista em cada um dos pontos e momentos cruciais de sua vida. (ibid. , p. 8)

Na década de 1860, leu “A Essência do Cristianismo”, do filósofo Ludwig Feuerbach. A partir daí se manifestam suas primeiras reações contrárias ao cristianismo, que o afastarão da vocação familiar para a teologia.

Além de Feuerbach, os autores decisivos para a formação de Nietzsche foram Emerson, Sterne, Byron, Schiller e outros. Neste momento, recebeu sólida formação humanista: conheceu os autores fundamentais da antiguidade; adquiriu disciplina e autodomínio no trabalho científico mais rigoroso; conheceu a grande literatura; fez amizade com Paul Deussen e Carl Von Gersdorff. Mas conheceu também as aflições que o acompanharia, a vida inteira. As congestões na cabeça, o reumatismo, os distúrbios oculares, estavam se tornando cada vez mais constantes.

Em 1864, matriculou-se em Teologia e Filologia na Universidade de Bonn, onde assistiu às aulas de Ritschl, helenista eminente que alta precisão aos seus estudos e abriu-lhe novo caminho para a Filologia Clássica. Nessa mesma época, aconteceu a famosa cena do bordel. Onde ele rejeita a companhia de algumas moças para se deliciar em acordes musicais de um piano. Pois achava que só este tinha o poder de compreendê-lo. Para muitos dos médicos-escritores, os psiquiatras e psicólogos, esta cena seria o apoio para demonstrar ou refutar a origem sifilítica da doença mental do filósofo.

Descobriu-se então como filólogo, contrariando as expectativas familiares. Em 1865 foi para Leipzig para estudar Filologia Clássica. Desfrutou nos quatro anos que viveu nesta cidade um certo equilíbrio e felicidade. Seu trabalho era profícuo e coroado de êxito, com várias conferências, inúmeras resenhas, leituras de Homero, Hesídio e Demócritom; mas principalmente Schopenhauer(1788-1860): O Mundo como Vontade e Representação (1818). Este foi o seu primeiro contato com a filosofia. Fato que mudaria a sua vida por completo. Encontrou em Schopenhauer um espelho, o mundo, a vida e a sua própria natureza. Levou o livro para casa e leu página por página. Palavra por palavra. O tom sombrio e pessimista do filósofo iria impressionar para sempre os seus pensamentos e escritos. O mundo ordenado pela razão, pelo sentido histórico e pela moral, não era o verdadeiro mundo, lia-se ali em Schopenhauer. Atrás ou por baixo dele pulsa a verdadeira vida, à vontade. Nietzsche obriga-se a ir para cama às duas da madrugada por catorze dias consecutivos, e levantar-se às seis. Impõe-se a uma dieta severa, cria seu próprio manual e mosteiro e nele vive como um verdadeiro asceta. Queria provar o quanto podia suportar sem perder o prazer de viver. Pois para ele a negação schopenhauriana de poder, nada mais era do que uma afirmação enfatizada. Nietzsche declara claramente que para ele Schopenhauer era mais que um mestre era também um educador. O verdadeiro educador, também é um libertador, pois ensina com martelos. É um processo educativo que em primeiro lugar tem por objetivo à destruição, para logo após uma outra e uma nova construção.

No embalo desse encontro, leu a História do Materialismo, de Friedrich Albert Lange. Foi ai neste momento que ele conheceu a crítica kantiana do conhecimento, o materialismo antigo e moderno, o darwinismo e os fundamentos das mais novas ciências naturais.

Perdeu a fé no Deus de seus pais e passou o resto da vida procurando uma nova divindade; ele pensou tê-la encontrado no super-homem. Esta mudança de “crente” para o “ateísmo” fora feita com muita facilidade, assim como também era fácil a sua arte de enganar a si próprio. Isto sendo um autobiógrafo. Ele havia de se torna um cínico. A religião tinha sido a própria essência de sua vida, e agora a vida parecia vazia e sem significado.

Nietzsche formulou uma filosofia que busca ser “afirmativa da vida” e valorizadora da vontade. Foi isto que relatou Will Durant (2000, p. 372)

[...] homens que pensavam com clareza perceberam logo aquilo que as mentes mais profundas de cada era tinham sabido: que, nesta batalha que chamamos de vida, precisamos não de bondade, mas de força, não de humildade, mas de orgulho, não de altruísmo, mas de inteligência resoluta; que igualdade e democracia são contrárias à natureza da seleção e da sobrevivência; que os gênios, e não as massas, são o objetivo da evolução, que o poder, e não a justiça, é o árbitro de todas as diferenças e de todos os destinos.

Era isto que Nietzsche pensava.

Em Humano, Demasiadamente Humano escreveria: “deves tornar-te senhor de ti mesmo, senhor também das tuas próprias virtudes. Antes elas eram teus senhores; mas devem ser apenas teus instrumentos junto com outros instrumentos”.Nietzsche se manterá fiel a esse método, de dar uma forma à vida. Não irá se contentar em produzir frases que possam ser somente citadas. Mas organizará a sua vida de modo a se tornar fundamento a ser citado para o seu pensar. Nietzsche quer viver a sua vida de modo a ter o que pensar. A vida como arranjo experimental para o pensamento, o ensaísmo como forma de vida. Não um ensaio para outra vida, e, sim para esta mesma.

Seu estilo poético e fragmentário sob a forma de aforismos é partes integrantes de sua concepção filosófica antiteórica e assistemática, buscando criar um novo filosofar de caráter libertário e visando superar as formas limitadoras da tradição filosófica, cultural e religiosa.

Isto é o que nos declara Marcondes (2005, p.139):

[...] Nietzsche inicia sua revisão de conceitos tradicionais da filosofia. Seu objetivo é desmistificar a “verdade”, revelando-a como um conceito fabricado, isto é, criado histórica e socialmente. Entretanto, tal conceito tem sua origem ocultada, aparecendo como objetivo, definitivo, científico. Por meio da consideração da linguagem, através da qual conceitos como o de verdade, são criados e entram em circulação, pode-se revelar a origem e o caráter metafórico desses conceitos.

Com a idade de 23 anos, foi convocado para o serviço militar. Teve então que interromper seus estudos, pois o exército prussiano o convocara. Isto apesar de ser míope e de ser filho único. No entanto uma queda de cima de um cavalo distendeu tanto os seus músculos peitorais que o sargento encarregado do recrutamento foi obrigado a abrir mão do filósofo. Nietzsche nunca iria se recuperar deste acidente. Sua experiência como soldado foi tão curta, que ele passou a venerar o soldado, pois a sua saúde não lhe permitia ser um.

Da vida militar, passou para uma vida acadêmica de um filólogo. Não sendo um guerreiro, tornou-se um Ph. D. aos 25 anos. Foi nomeado para a cadeira de Filologia Clássica na Universidade de Basiléia. Teve um grande arrependimento ao assumir aquele trabalho anti-heroicamente sedentário. Queria uma profissão mais ativa e prática, como a medicina.

Tinha uma forte atração pela música. Tornou-se um pianista razoável e escrevera umas sonatas

Acontece então o encontro com o músico Richard Wagner que também conhece e sofre influências do filósofo pessimista Schopenhauer. Sob o fascínio do grande compositor, Nietzsche começou a escrever seu primeiro livro, que deveria começar com o drama grego e terminar com o Anel dos Nibelungos, divulgando Wagner ao mundo, como sendo o Ésquilo moderno. Até que Wagner começa a compor Parsifal. Uma exaltação ao cristianismo, a piedade e ao amor espiritual. Nietzsche iria se afastar de Wagner sem dizer uma palavra. Nunca o perdoaria por passar a ver no cristianismo um valor moral e uma beleza compensando, de muito seus defeitos teológicos.

Neste período a Alemanha estava em guerra contra a França. Nietzsche participa desta guerra como enfermeiro, pois a sua visão deficiente o desqualificava para ser um soldado. Nunca chegou com isto a conhecer os horrores e as brutalidades da guerra. Mas até para atuar como enfermeiro sua alma frágil não estava preparada. Ele era delicado em demasia e o sangue o deixava enjoado. Caiu doente e foi mandado de volta para casa em ruínas.

Nietzsche procurará subverter com muita freqüência, a imagem tradicional que o mundo tem em relação à filosofia, surgindo na passagem do pensamento mítico para o lógico-racional-científico.

Procurou neste momento falar e escrever sobre os dois deuses que a arte grega havia adorado: o primeiro, Dionísio, o deus do vinho e da folia, da vida superior, do prazer na ação, da emoção arrebatadora do instinto. Da aventura e do sofrimento. O deus da canção, da música, da dança e do drama. O segundo, Apolo, o deus da paz, do lazer e do repouso, da emoção estética e da contemplação intelectual. Da ordem lógica e da calma filosófica. A mais alta arte grega era a união dos dois ideais: a masculinidade de Dionísio e a tranqüilidade feminina de Apolo. Isto é: harmonia.

Mas com Sócrates, a filosofia dionisíaca perdeu seu valor. E Apolo triunfa. A ciência substituiu a arte, o intelecto substituiu o instinto e a dialética os jogos. Sobre a influência de Sócrates, Platão, o atleta se tornou um esteta lógico e racional.

Do período arcaico para o clássico. Procura mostrar que algo de essencial se perdeu nesta passagem. A filosofia que segundo ele, representada por Sócrates, (o homem de uma visão só), inaugura o predomínio da razão, da racionalidade argumentativa, da lógica, do conhecimento científico e da demonstração. Que é chamado por Nietzsche de “espírito apolíneo”. Com isto o homem perde sua proximidade com a natureza e com seus instintos, que na época anterior encontrava sua expressão nos rituais dionisíacos. Na dança, na tragédia e na embriaguez.

Seu objetivo é claro e duplo: revelar e criticar esse processo e restaurar os valores primitivos perdidos.

Em plena flor da idade, em 1879, ele teve um colapso, tanto físico como mental, ficando a beira da morte. Pediu então demissão da Universidade de Basiléia e abandonou definitivamente a profissão de filólogo. Preparou-se para o fim com um ar desafiador. Nietzsche agora estava aos cuidados de sua irmã Elisabeth. Mas recuperou-se. E seu heróico funeral teve de ser adiado. Entre inúmeros sofrimentos por causa das crises, entre o sofrimento e o triunfo intelectual, ele supera a doença pelo trabalho do pensamento e pelo amor que sente pela vida e ao seu destino. Daí sua alegre aceitação spinoziana das limitações naturais e do destino humano. São nestes momentos que surge a Canção de Zaratustra. Zaratustra se transformará para Nietzsche um evangelho sobre o qual todos os demais livros posteriores serão meramente comentários. Zoroastro um novo deus e o Super-homem, em uma nova religião.

Nietzsche continuaria em suas ofensivas contra a religião e em especial contra o cristianismo. Religião que ele próprio chama de “platonismo para o povo”. Desfere suas terríveis críticas contra Paulo, o “apóstolo”, do Novo Testamento. Não há dúvidas de que foi culpado, como declara Durant (2000, p. 408), de um pequeno exagero quando predisse que o futuro iria dividir o passado em “antes de Nietzsche” e “depois de Nietzsche” E que só haveria um destino para o futuro do cristianismo: O fim, o fracasso, a destruição. Ele acreditava mesmo nisto. Não seria só a religião cristã o alvo de suas pesadas críticas. O Budismo também seria vítima de sua “língua ferina”. Mas existia uma grande diferença entre o Cristianismo e o Budismo. O primeiro requer do homem o esquecimento da vida presente em prol daquela vida futura extraterrena. O Cristianismo promete o além. O Budismo apesar de também ser uma religião que tem por centro a moral-de-rebanho. Seria mais humano e mais terreno.

Encheu o seu último livro Ecce Homo, de auto-elogios alucinados como nunca visto antes. Sua batalha contra o seu tempo iria desequilibrar a sua mente.

O reconhecimento de suas obras chegaria muito tarde para o nosso filósofo. Pois quando chegaram estes pequenos raios de luz, Nietzsche estava quase cego de visão e de alma, e já havia abandonado a sua esperança quanto à cura. Escreve ele: “Minha hora ainda não chegou, só o depois de amanhã me pertence”.

Poderíamos dividir então a vida de Nietzsche em três diferentes momentos: o primeiro instante que vai até os seus dezoito anos, quando ele ainda está a professar e a defender as suas convicções religiosas cristã como um bom teólogo apologeta. O segundo momento seria quando ele decide fazer a passagem do cristianismo para o ateísmo. Momento que ele vai formular as suas principais críticas contra a religião cristã. O terceiro e último momento serão os seus últimos dez anos de vida. Onde ele passara a maior parte de seu tempo tendo variações entre a loucura e instantes de lucidez.

Dentre as principais obras do filósofo destacam-se: A origem da tragédia (1872) e O nascimento da filosofia na época trágica dos gregos (1874); Humano, demasiadamente humano (1876-80); Aurora (1881); A alegre ou gaia ciência (1882); Assim falou Zaratustra (1883); A genealogia da moral (1887); Além do bem e do mal (1889); O crepúsculo dos ídolos (1889) e a Vontade de poder, sua última obra, que permaneceu inacabada.

Se Karl Marx não houvesse nascido no século XIX (1818-1883), com certeza Nietzsche seria considerado pelos grandes historiadores como sendo a personalidade mais marcante e complexa deste século tão conturbado. É muito importante notar como homens de linhagens marcadas pela religiosidade como Marx e o nosso filósofo em questão Nietzsche, rompem de uma forma tão agressiva e destemida com este passado. Nietzsche teria então uma longa linha de clérigos por trás de cada um de seus genitores. Como ele faz esta ruptura? E o porque desta ruptura? E agora as suas duras críticas contra uma das maiores instituições mundial: a religião cristã. Quem o influenciou para que este viesse a fazer ou viesse a tomar esta decisão? Nietzsche em seus momentos de inspiração, falaria e escreveria e como “profeta” descreveria de uma forma detalhada sobre diversos outros assuntos que aconteceria no final do século XIX e outros que estão na contemporaneidade. Temas como: educação, arte, cultura, moral e ética, guerra e vida. Mas uma das suas guerras prediletas era com certeza a sua recusa contundente a moral-de-rebanho cristã.

Ao longo de décadas, o nosso filósofo, seria evocado por socialistas, nazistas e fascistas, cristãos, judeus e ateus. Pensadores, literatos, jornalistas e homens políticos teriam nele um ponto de referência. Atacando ou defendendo sua obra, reivindicando ou exorcizando seu pensamento. E que anti-semitas e anarquistas reclamassem dele causava-lhe repulsa

Quem julgou compreendê-lo equivocou-se a seu respeito; quem não o compreendeu, julgou-o equivocado.

Houve, porém, aqueles que decidiram colocar o filósofo “no seu devido lugar” e tentaram detectar quais dos seus textos haviam sido escritos sob efeito das drogas. Houve também os que se dispuseram a fazer uma reavaliação retrospectiva de suas idéias à luz do enlouquecimento, e atribuíram diferentes datas à manifestação dos primeiros sintomas da doença mental. Não foram poucos os que se aproveitaram do estado em que Nietzsche mergulhou, a partir de 1889, para desacreditar a sua obra.

Não bastasse isso, ainda hoje existem aqueles que atribuem o processo doentio que tomou conta do filósofo ao fato de ele ter se indisposto contra a fé cristã, ressaltando a idéia de castigo divino sobre ele ou, talvez, no intuito de mostrar o grande esforço que dispensou contra Deus. Praticamente a luta de uma simples criatura contra o seu próprio criador. Desse modo é como pensam alguns religiosos que se atreveram a escrever de tal forma a respeito do Nietzsche anticristão, como é o caso do jesuíta Frederick Copleston, em sua obra: Nietzsche filósofo da cultura. A pesar de seus inúmeros deslizes, Copleston deixa transparecer um sentimento que é característico de muitas pessoas que lêem os escritos de Nietzsche. Um paradoxo. Um sentimento tanto de afastamento como de proximidade:

Como seria interessante e bom se o filósofo tivesse ingressado nas fileiras do rebanho de Cristo, pois muitos de seus questionamentos em relação à instituição são bem verídicos.

Dificilmente, alguém que toca no nome do filósofo esqueceria a frase lapidar: Deus está morto! Por curiosidade, é bom notar que nos anos setenta uma grafite tornou-se bastante conhecido e, de certa forma, é utilizado até os dias de hoje para ironizar Nietzsche. Assim é: “Deus está morto”. Assinado Nietzsche. “Nietzsche está morto”. Assinado Deus.

Quão não é ainda a alegria de muitos “crentes” naquele ser metafísico (Deus no caso), que vê nisto uma vitória do onipotente e o desmascaramento da fraqueza do anticristo (Nietzsche). Porém a realidade é outra. O filósofo com certeza escreveu a primeira frase. Agora, um anônimo escreve a segunda em nome de um suposto Deus. Portanto aquilo que parecia estar contra Nietzsche, na verdade estar a favor. Pois quem leu e estudou o filósofo sabe que isto nada mais é do que à vontade de potência, da qual ele iria tanto falar e escrever. Vontade de potência, criadora e destruidora, mas sempre como vir-a-ser, num eterno devir. Isto esteve presente tanto em Nietzsche como no autor da grafite.

Nietzsche haveria de influenciar uma nova geração de filósofos contemporâneos como: Alfred Baeumler, filósofo e político. Tornou-se um importante ideólogo do nacionalismo-socialismo.

Rudiger Safranski (2002, p.311) nos relata o seguinte:

nos tempos do nacionalismo-socialismo, forma sobretudo Karl Jaspers e Martin Heideger que aproveitaram o reconhecimento oficial de Nietzsche pelo regime para colocarem no palco um outro Nietzsche, não-ideológico, e desenvolver, nas pegadas dele, pensamentos que poderiam romper a moldura ideológica, ou pelo menos não se deixar limitar por ela.

Além de Heideger, Baeumler e Jaspers. Temos também Adorno e Horkheimer em sua “Dialética do Esclarecimento” (1944) onde a discussão com Nietzsche tem um papel importantíssimo. E sem falar é claro naquele que talvez seja o mais renomado de seus seguidores: M. Foucault.

Tentar entender a complexidade do Nietzsche (apesar de ser um filósofo laboratório de seus próprios pensamentos e que não cessou de interpretar a si mesmo), a razão das suas críticas a religião e em especial o cristianismo. Foucault também estará envolvido em um delicado tema criticado por Nietzsche, que é a genealogia e a história.

Nietzsche (1844 - 1900)