Minhas Ruas
I
Chavantes, final de rua
Apito de serraria
Já acena a primavera
Em setembro o quinto dia
Da semana a terça-feira
Nem muito sol e nem lua
São nove meses de espera
E nasce um novo rebento
Dali poucas lembranças
Desde pedaço de infância
Aos cinco anos, mudança.
II
Ecos na casa vazia,
Paiquás e tinta fresca
Amoreira no quintal
Búricas sobre a parreira
Ate quase nove anos
Meu Deus quantas brincadeiras
Trem partindo da estação
Crianças portão aberto
Sai correndo o velho cão
Sangue e chutes e gritos
Mordidas e o Seu Chico,
Vizinho rolando ao chão,
Fogueiras de Santo Antônio.
De São Pedro e São João..
III
Bem ou mal, Nada perdura
Logo vem nova mudança
Poeira de estrada, tralhas,
Cachorro e samambaias
E vômitos de banana.
Mas eis que logo acena,
Parapuã, tão pequena
Estendendo os seus braços
Feito duas avenidas
A partir do pontilhão
Um “L” pura emoção
São Paulo com Pernambuco
Casa velha de madeira
no quintal uma ´paineira
Maranhão, meia nove meia
IV
Pó de serra nas retinas
Serraria e meninas
Entre “ palheiros” e toras
Meu pai ali trabalhava
Depois “ Paraíba” afora
Ergue-se casa de esquina
Jardim com muitas roseiras
Primavera no quintal
Brincadeiras na calçada
Um sutil toque de mãos
Descompassa o coração
Nas faces leve rubor
E meus olhos procurando
Os s olhos do meu amor
V
Por volta dos dezessete
Ginasial terminado
O trem foi mais um caminho
Por Deus pra mim enviado
Segunda manhã cedinho
Seguir pra voltar no sábado
Morava toda a semana
Pode ate dizer : não vale
Com minha irmã em Herculândia
Avenida Campos Salles
VI
Três anos de amizades
Eu inda trago comigo
Mas aos vinte de idade
O trem da vida apita
Leva os sonhos de então
Parapuã se despede
Ao passar o pontilhão
Emoção se descontrola
Adeus Oh! doce cidade
No peito brota saudade
Dos meus pais, dos meus irmãos
VII
Em São Paulo bem cedinho
Antes de o sol dar a graça
E Inundar com sua presença
Desde a Luz à Vila Yara
Seguindo pra Júlio Prestes
Pegar o trem do subúrbio
Depois de algumas paradas
Descer no Largo de Osasco
Entre tenso e assustado
Em uma casa azulada
Com muitos quartos ao fundo
Naquela rua encurvada
De nome Avenida Yara
Foi ali que fiz morada
Uma padaria perto
Autoescola e lanchonete
Sereno no colchonete
Pingado, leite e groselha
Radio de pilha na orelha
Pingos que batem na telha
Um símbolo de alegria
Se faltar água algum dia
Muito bem vinda essa ajuda
Pra um belo banho de chuva
VIII
Alguns meses e um pouquinho
Sorrir ao ser premiado
Um lugar limpo, novinho
Pronto pra ser ocupado
Cidade de Deus-Osasco
Conjunto C- cinco quatro (54)
Outras ruas que inda guardo
Como se fossem minhas
Gonçalo e Sacadura
Também Santa Terezinha
IX
Av. Gonçalo Madeira
Casa na beira do rio
Árvores um tanto quietas
Uma rua empoeirada
Caipirinha e macarrão
Discos vinil na vitrola
Lágrimas de quem não chora
Viaja em canções, viaja
E acalenta o coração
No varal dependuradas
Tantas lindas roupas alvas
Versos sendo construídos
Destes belos anos vividos
Rua Gonçalo Madeira
Amigos pra vida inteira
X
Sacadura tão pequena
Apenas um quarteirão
Onde deixei os meus passos
E também meu coração
Como filho adotivo
Eu tive os meus motivos
Pra chorar de emoção
Quando parti ressentido
Sem esses pais e irmãos
XI
E anos devoram meses
Esses por si levam dias
Seis anos passam depressa
Minha mãe não se avexe
Voltar, voltar mãos em prece.
Me abençoa, Ave Maria!
Adeus Zezé e Rosinha
Adeus amigos irmãos
Segui viagem inteirinha
Com aperto no coração
XII
Eu não sabia direito
O que sentia em meu peito
Chorei triste na partida
Ao despedir desta vida
Seis anos fora de casa
Deixei ali tanto afeto
Um sentimento completo
Que até no ultimo abraço
Deixei de mim um pedaço
XIII
Ao chegar a minha casa
Ao adentrar o portão
Madrugada, rua quieta
Descompassa o coração
Misto de lágrimas, risos
E explosão de emoções.
Todos ali abraçados
Um laço pra toda a vida
Um amor puro, sagrado
Quem tem mãe e pai que o diga
XIV
Domingo à tarde eu saia
Aos sábados eu retornava
De volta à Paraíba
Nos tempos que eu trabalhava
Em ruas de outra cidade,
Vereador Gomes Duda,
Pacaembu, não muito longe
Ate que tive ajuda.
XV
Adamantina me acolhe
Ali mais perto, viajo
Venho cedo, volto à tarde
Nos braços de minha rua
Adormeço e bem cedinho
Retorno pro meu trabalho
Tempo corre, passa tempo
Quatro anos vão-se embora
Tantos amigos que tenho
Vão ficando nas memórias
Cidade Natal me chama
Muda o meu itinerário.
XVI
Vida de idas e vindas
De voltas e viravoltas
Que dor revira meu peito
Quando a casa se esvazia
Quanta vida estampada
Em suas paredes fica
Despedida tão sofrida
Dor que no peito lasciva
Quanto a vejo lá da esquina
Ultimo Adeus, velha casa
Vou te deixar retratada
No profundo do meu ser
Em quase todos meus versos
Enquanto eu puder viver.
XVII
É Tupã que me acolhe
Trabalho, escola, lazer
Mas algo que não se escolhe
Não vale o nosso querer
É levantar todo dia
Bem antes do sol nascer
Revestir-se de coragem
Viajar pode ser parte
Casa, viagem, trabalho
Trabalho, casa, viagem
Viver assim é uma arte
Viajar mais um bocado
Só aumenta o meu legado
Currículo do meu viver
XVIII
Nesta fase alguns anos
Uns nove pra ser exato
Depois que voltei pra casa
Não assentei minhas asas
Voei neste breve tempo
Em idas e vindas diárias
Quintana, João Villadangos
Tempo muito especial
Marília lembranças várias
A.V. Sampaio Vidal
XIX
Na “ Conceição” onde vivo
Há tempos perdi a conta
Pra onde vou, pra onde sigo
Só Deus que pode escrever
Das ruas onde passei
Todas deixaram saudades
Todas estão comigo
La no fundo do meu ser
São meus olhos, são meus braços
Minhas pernas e meus passos
Amores que conquistei
13/01/2018- sábado – 11:00