NESTOR TANGERINI E O TEATRO DE REVISTA

UM POUCO DA HISTÓRIA DO TEATRO DE REVISTA

Aos leigos e à nova geração, devemos explicar o que foi o Teatro de Revista e o que ele representou para nós nos anos 1940 e 1950, e porque ele entrou inevitavelmente em decadência, a partir dos anos 1960, quando entra “em cena” a televisão.

Recorro, aqui, ao Dicionário de Teatro, escrito por Luiz Paulo Vascondelos, publicado pela Editora L&PM, de Porto Alegre, RS:

“Teatro de Revista: nome por que ficou conhecida no Brasil a Revista Musical. Produzida inicialmente nos teatros existentes em torno da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, o ‘gênero’ alcançou grande sucesso popular nos anos 40 e 50 do século XX em parte devido ao luxo do ‘guarda-roupa’ e beleza das vedetes e coristas, mas principalmente devido à ‘sátira’ política. Getúlio Vargas (Chefe do Governo Provisório, presidente da República e chefe do Estado Novo de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954) acreditava que a caricatura que o Teatro de Revista fazia dele, de seus ministros e de seu governo promovia o lado mais bonachão e popular de sua personalidade, razão pela qual sempre prestigiou, inclusive, com sua presença nos Teatros de Revista. Nos anos 60, abalado com a concorrência pela então emergente televisão e sem o apoio oficial, o Teatro de Revista entra em lenta e irreversível decadência”. (p. 229).

Embora os livros “oficiais” sobre o Teatro de Revista sejam vagos, ou contenham erros, e muitos, até, de má fé, nem citem o nome de Nestor Tangerini, há registros comprovados de que o autor, desde os tempos de Niterói, quando a Cidade Sorriso era capital fluminense, o teatrólogo escrevia burletas para o famoso Cine-Teatro Éden, de seu amigo, também paulista, Oscar Mangeon, um dos poetas da lendária Roda do Café Paris: movimento literário niteroiense que ficou na história de nossa literatura e que congregava uma plêiade de poetas de renome como Luiz Leitão (também jornalista e teatrólogo), Nestor Tangerini, René Descartes de Medeiros, Apollo Martins, Luiz de Gonzaga, Gomes Filho, Mayrink, Mazzini Rubano, Olavo Bastos, entre tantos outros nomes da literatura fluminense.

Recorremos mais uma vez ao Dicionário de Teatro para explicar o que significa Burleta:

“A fim de burlar o monopólio da exibição de obras dramáticas, os teatros não licenciados da França e da Inglaterra, em meados do século XVIII, intercalavam em qualquer peça um mínimo de cinco canções, o que fazia dessa peça, automaticamente, uma burleta. Oscar Brockett (Historory of the theatre, p. 333) diz que, ‘importada para a Inglaterra em meados do século XVIII como um tipo de ópera cômica, tinha se tornado um rótulo tão ambíguo que se passou a aceitar como burletta’ qualquer peça que tivesse não mais que três atos, cada qual incluindo ao menos ‘cinco canções’. Essa prática explica, pelo menos em parte, as atrocidades cometidas no período em adaptação de clássicos, inclusive Shakespear. No século XX, o termo passa a designar uma comédia entremeada de números musicais. No Brasil, os melhores exemplos do gênero são as burletas de Arthur Azevedo (1855 – 1908), notadamente ‘O mambembe’(1896) e ‘A capital federal’ (1897). (p. 46)

Em suas burletas, quase todas perdidas, Nestor Tangerini incluiu músicas suas como “Teu corpo é meu” , “Garçonete” e” Foi por mil e quinhentos” (ambas de parceria com Aldo Cabral), “Samba da meia-noite” (de parceria com Ildefonso Norat), bem como músicas de outros autores, como foi o caso de “No Tabuleiro da baiana”, de Ari Barroso, que deu nome a uma de suas peças. Indo mais além, Tangerini introduziu sonetos líricos ou satíricos de sua autoria, que eram lidos por artistas da peça – com a sonoridade parnasiana.

Nessa evolução, ou nesse turbilhão de acontecimentos, Nestor Tangerini se integra ao Teatro Musical (levado que foi pelas mãos do empresário teatral Jardel Jércolis, entre 1936 e 1937). E há também o caso de introdução de bailados, em suas peças, como aconteceu em “Mineiro”, um de seus poemas, que recebeu a coreografia dos bailarinos Lou e Janot, enquanto uma atriz ou ator o declamava.

Assim define Luiz Paulo Vasconcelos o Teatro Musical: “Gênero híbrido de entretenimento musical que mistura canções, danças e esquetes às vezes sob uma tênue ligação satírica. A Revista Musical, embora existindo na Inglaterra desde o final do século XIX, só adquiriu consciência e importância artística nos anos XX do século passado em Nova York, principalmente com Florence Ziegfeld (1867 – 1932), criador das famosas ‘Ziegfeld Follies’. Ao longo dos anos, a revista musical tem recebido contribuições de artistas renomados, como os escritores Noel Coward e Harold Pinter e os coreógrafos Leonid Massine e Michael Fokine. No Brasil, nas décadas de 40 e 50, sob o nome de Teatro de Revista, o gênero alcançou grande prestígio popular”. (p; 203)

O autor do dicionário acima citado sugere ainda uma pesquisa sobre os termos Extravanza e Vaudeville, termos também empregados para o Teatro de Revista, porém em outros países.

TEXTO INTRODUTÓRIO DE NELSON MARZULLO TANGERINI PARA O LIVRO “ESQUETES E CORTINAS”, PRÓXIMO LIVRO DE TEXTOS TEATRAIS DE NESTOR TANGERINI.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 06/09/2020
Reeditado em 06/09/2020
Código do texto: T7056482
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