Dia 09

Como estava dizendo antes.

Eu jamais poderia estar mais enganado.

Em julho de 2007, estava namorando há pouco mais de 5 meses. Foram meses ótimos. Estava tudo acontecendo o mais normalmente possível. Cheguei até a acreditar que tinha conseguido remover aquele sentimento definitivamente de meu coração.

Tudo estava bem até aquele fatídico mês. Quando novamente minha vida daria uma guinada de trezentos e sessenta graus.

Eu fui convidado para participar de um evento de férias em um templo próximo a comunidade que meus avós maternos viviam e onde estava enraizado o meu amor.

Assim que recebi o chamado, senti um frio na barriga. Achei que estava pronto para retornar àquele lugar, como estava errado.

Estava namorando e até então amava minha namorada. Não ia deixar que o passado me sufocasse novamente. Era isso que ficava mentalizando enquanto estávamos no ônibus rumo a mais uma decepção.

Quando cheguei lá não a vi logo de cara. Na verdade só a vi quando fomos para o evento.

Lembro perfeitamente daquela cena. Eu estava ajudando minhas primas com uma coreografia quando ela chegou. Quando a vi entrando meu coração quase saiu pela boca. Ela entrou e sentou bem na frente onde nossos olhares poderiam se cruzar com mais facilidade.

No momento em que nos olhamos, a sensação que tive foi a de que uma chuva havia caído em meu coração seco e sedento de amor fazendo brotar os botões plantados. Todas as cenas de nosso primeiro encontro, do nosso primeiro olhar, de quando estávamos lá lado a lado passaram em minha mente.

Tudo em uma velocidade esmagadora. Por alguns segundos me perdi no que estava fazendo. Como era possível sentir tudo aquilo Ainda? Como eu poderia ficar com as mãos suadas, pernas trêmulas? Frio na barriga? Eu podia jurar que não sentia mais nada. Eu podia jurar que amava minha namorada. Novamente, como estava enganado.

Talvez você que está lendo essa história até já esteja furioso comigo. Eu não tiro sua razão. Só preciso que você entenda que eu era um jovem de 17 anos com sérios problemas de comunicação e socialização.

Enfim, eu tinha diante de mim mais uma oportunidade de ouro para declarar o que sentia de alguma forma. Um passo na direção dela ali teria mudado tudo. Uma atitude poderia ter colocado ela ao meu lado nesse momento e eu não estaria compartilhando minhas tristezas com você.

Como já era de se esperar, não fiz nada. Não disse nada. Só fiquei lá a olhando. Havia naquele momento um abismo que nos separava. Ambos estávamos namorando. Estávamos comprometido com outras pessoas.

Foi nesse momento que minha vida afundou definitivamente. Em minha mente já não havia possibilidade de acontecer algo entre nós. E mais do que nunca eu precisava colocar na minha cabeça de uma vez por todas. Foi ali que o bravo guerreiro tombou e perdeu a guerra.

Como foram em todas as outras vezes, ficamos trocando olhares apaixonados mas sem nenhuma aproximação. Tudo a distância, como os amantes da antiguidade.

Passados alguns dias voltei para minha casa, para minha vida. Só que daquela vez levava comigo algo que só perceberia muito depois...

Preciso ir agora.

Volto amanhã e continuo.

S C P
Enviado por S C P em 12/09/2021
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