BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - A GRANDE SURRA

Quando criança, Ricardo não era exatamente um menino custoso. Raramente era levado ao tribunal das palmadas. Isso não significa que passava totalmente em branco. Como toda criança, tinha imensa curiosidade pelas coisas e se metia a fazer descobertas.

Uma dessas descobertas ele fez com quatro anos de idade. Descobriu, na fazenda Vera Cruz – onde moravam – que dirigir trator ainda não era permitido. Ricardo e o irmão Otavinho –que na época tinha 9 anos – brincavam na fazenda, como as crianças da época brincavam. Perto deles havia um trator, que era utilizado para arar a terra. Sem entender o perigo, Ricardo subiu no trator, ligou a chave e o pôs a funcionar. A máquina, obediente ao comando, disparou pela fazenda, com Ricardo em cima. Otavinho, que estava embaixo, saiu correndo ao lado do trator, gritando, eufórico.

Ricardo sentiu pela primeira vez na vida a sensação de aventura, de adrenalina. O vento batendo no rosto, desalinhando o cabelo. E o trator seguindo, sem itinerário, sem qualquer meta. O perigo estava aumentando de tamanho e Ricardo sequer desconfiava. Estava de posse de um brinquedo grande, de uma super máquina e ele era o rei do mundo já aos quatro anos de idade.

Otávio Lage, que estava dentro de casa no momento, começou a ouvir os gritos dos meninos. De início não fiou muita atenção. Era criança fazendo coisa de criança. Mas algo parecia estar diferente. A algazarra tinha um tom de desespero. Otávio saiu à varanda e avistou a cena bizarra: Ricardo controlando o trator ou algo como o trator com um menino em cima, que seria a opção mais crível.

Aos olhos de um adulto a cena parecia filme de terror. Qualquer coisa que desse errada terminaria em tragédia. Não teve outra alternativa: saiu correndo em direção ao trator. Primeiro, interceptou Otavinho, o tirando do caminho, da cena. Depois conseguiu alcançar o trator, subiu em cima e conseguiu desligar a chave. Foi tudo tão rápido e tão bem executado que pareceu um milagre tudo se acertar como numa sincronia.

Não havia mais perigo. Ricardo e Otavinho estavam salvos. O trator parou de funcionar, ficou quieto, sem ruídos. Ao descer Ricardo do trator e ver que todos estavam em segurança, não deu um abraço de alívio. Sua reação foi juntar os dois meninos e dar início a uma surra clássica, daquelas que atravessam décadas na memória.

Ricardo fez ali uma nova descoberta: que o cinto do pai pode ser aterrorizante, pode ser pior que qualquer bicho papão, que o ameaçava à noite.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 09/05/2022
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