BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - O AMIGO SEMPRE PRESENTE

Quem trabalhou mais próximo de Ricardo Fontoura é testemunha de como ele transformava a relação de trabalho em amizade, em um relacionamento de afeto. Não deixava de ser o patrão, é verdade. Mas conseguia conciliar os dois níveis de relacionamento: o profissional e o pessoal.

Como profissional, cobrava resultados da equipe. Não era de fazer concessões quanto ao desempenho, ao cumprimento de metas individuais e coletivas. Junto a isso, era também o líder que oferecia as melhores condições de trabalho, era transparente quanto às suas opiniões e sabia extrair de cada um algo a mais, qualidades que às vezes, o colaborador não sabia que conseguiria entregar. Ricardo também atuava como um mentor de quem estava próximo. Incentivava e até ajudava nos estudos, em cursos de qualificação. Gostava quando via que havia influenciado alguém a buscar coisas grandes.

No âmbito pessoal, Ricardo gostava de ser mais do que o patrão que cobra resultados. Ficava muito satisfeito quando alguém confidenciava algum sonho, algum plano, alguma realização ou até algum problema. Comemorava junto as conquistas e tentava ajudar nas dificuldades, seja usando sua influência ou recursos.

Muito mais que isso, Ricardo desenvolvia laços verdadeiros de amizade. E como todo bom amigo, gostava de fazer parte dos momentos especiais da vida dos amigos, gostava de conversar sobre as coisas que acontecem fora do trabalho, sejam elas boas ou ruins. Como todo bom amigo, fazia questão de ajudar quando podia. E era uma via de mão dupla: também gostava de confidenciar seus problemas, suas alegrias, suas conquistas.

Às vezes, fazia algo que era considerado um sacrifício físico para prestigiar seus amigos do trabalho. Como aconteceu em junho de 2013, na colação de grau da sua secretária Caroline Barbosa de Souza. Ela estava se formando em administração pela Faculdade Evangélica de Goianésia e fez o convite a Ricardo, mas já adiantou que entenderia se ele não pudesse ir. O evento aconteceu no Centro Cultural, que não é um local muito acessível para quem tem dificuldade de locomoção. Há uma rampa do lado de fora do prédio, mas nem sempre está liberada para uso.

Carol foi sua secretária nos últimos 14 anos. Conhecia bem as limitações físicas do patrão. E conhecia bem sua força de vontade quando queria fazer algo. Era o seu momento de glória, de coroação de uma batalha que foi muito dura, com muitas renúncias, noites em claro e lágrimas. Ele ficaria mais feliz ainda se pudesse compartilhar o momento com pessoas queridas. Por isso convidou Ricardo. Mas entenderia, de coração, caso ele não fosse.

Durante sua colação de grau, dentro do teatro do Centro Cultural, Carol olhou detalhadamente para a plateia em busca de rostos conhecidos. Viu ali seus familiares, alguns amigos. Sorriu ao vê-los. Buscou Ricardo na plateia, não conseguiu ver. Deve ter pensado que seria muito sacrifício para ele, ainda mais considerando que foi um dia de reunião do conselho na Jalles Machado. Sempre era um dia tenso e cansativo. E ainda era sexta-feira, todo o cansaço da semana acumulado. Ele tinha direito ao descanso. Era isso.

Ao sair do teatro, orgulhosa com seu canudo na mão, com a sensação de alívio lhe roubando todas as emoções, Carol se depara com Ricardo e Myrinha no corredor, lhe esperando para dar os parabéns. Ele lá, todo arrumado, de terno e tudo, na sua cadeira motorizada. E Myrinha, com sua elegância de sempre, ao lado dele. Ambos com sorriso no rosto.

Carol não se segurou. Foi muita emoção. “O senhor veio, que coisa boa! Não imagina como estou feliz em te ver”, disse ela, emocionada. “Viemos te parabenizar pela conquista, compartilhar com você este grande momento na sua vida”, ele disse. E tiraram fotos, se abraçaram e conversaram amenidades.

Poderia ser um gesto simples, uma situação comum. Mas para Ricardo tudo tinha um degrau a mais. Era um homem que lidava com a dor praticamente todo o tempo. Seu corpo às vezes era um adversário muito rigoroso. Estar em meio a multidão, em um espaço com poucas opções de acessibilidade era um evento que exigia mais força dele. Mas ao mesmo tempo, a vontade de estar ali, de dar seu apoio a uma amiga do trabalho, a uma colaboradora querida, acabava sendo maior do que o leque de dificuldades.

Era o tipo de desafio que ele fazia questão de enfrentar e derrubar. Não gostava quando as dificuldades tentavam tirar dele o seu lado gentil e cavalheiro. Era algo que ele não tolerava. E contra isso, convocava seu mais belicoso exército mental. E ganhava a guerra.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 10/05/2022
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