BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - BOM ANFITRIÃO

Uma das características mais marcantes de Ricardo foi ser um bom, um ótimo anfitrião. Fazia todos se sentirem em casa. Isso foi uma marca que o acompanhou por toda a vida. Bem antes da doença, no início e na sua curva mais acentuada. Ele sempre dava um jeito e mostrava a felicidade que sentia em estar rodeado por pessoas em sua casa.

Com a casa nova, a casa dos sonhos construída, Ricardo passou a ser o anfitrião-mor da família. Com muito espaço, varandas amplas e, principalmente, a única casa com piscina entre todos os parentes, o local passou a ser o centro das atenções. Ricardo adorava esse holofote sobre o seu castelo, seu pequeno paraíso. Na cabeça dele era um local tão bom que não poderia ser egoísta e desfrutar sozinho. Queria que todos sentissem a energia do local, que pudessem ser felizes ali também. Como ele era.

Não tinha final de semana com a casa vazia. No início, Otávio Lage e Dona Marilda, Jalles, Luíza e os filhos, Otavinho, Marília e os filhos, às vezes Sylvinha, todos se aglomeravam lá. A festa principal era na piscina, a grande atração, a novidade incrível que todos queriam desfrutar. Ricardo sempre foi um homem ligado à agua. Era o primeiro a pular na piscina. Lá dava suas braçadas. Brincava com os filhos, com os sobrinhos. Transformava-se num menino de novo. Um menino encantado com um brinquedo novo.

Outra paixão que ele cultiva era o churrasco. Amava tudo no processo: desde o debate sobre a qualidade das carnes, a arte do corte perfeito, a forma de temperar, o ponto do carvão, o momento exato de tirar a carne. Gostava até da fumaça que exalava da churrasqueira. Fazia o seu ritual e ia servindo os convidados, que tinham que elogiar seus dotes de churrasqueiro.

A paixão não ficava restrita a ser apenas o mestre-cuca do churrasco. Ele era um dos mais entusiasmados na hora de comer a picanha. Ali, à mesa com tantas pessoas queridas, se sentia mais em casa do que nunca, se sentia verdadeiramente feliz.

A comemoração dos aniversários, festas de natal e ano novo também tinha como palco a casa de Ricardo e Myrinha. Cada recepção desta era feita com muito amor pelo casal. Ricardo, além do prazer de receber gente em casa, ficava mais confortável por ter um local adaptado às suas necessidades. Não teria nenhum tipo de contratempo ou constrangimento, principalmente na hora de ir ao banheiro.

Ricardo era do tipo que recebia os convidados na porta de casa. Sempre com um sorriso, algum comentário espirituoso ou uma piada leve. E já ia organizando algo para beber, um petisco, um tratamento vip a quem lhe visitava.

Com o passar do tempo, a casa e o quintal foram ganhando apoios e corrimões, para Ricardo se equilibrar. Ele caminhava com dificuldade, com apoio de uma bengala. As alterações foram lhe favorecendo ter o máximo de independência e circular pelo seu pequeno reino à vontade. Não mudou nada na rotina movimentada da casa, sempre cheia de visitas.

A doença foi ganhando terreno e cobrando cada vez mais um preço mais alto de Ricardo. Ele tinha uma dificuldade extrema para suportar o calor. E Goianésia, assim como Goiás em geral, é verão o ano inteiro. Cada vez mais Ricardo foi se afastando da área externa, o espaço da churrasqueira, para se refugiar na sala, onde ligava o ar condicionado e ficava confortável.

Os amigos e familiares passaram a se reunir dentro da casa, ao lado de Ricardo. Os churrascos foram dividindo espaço com almoços e jantares. A piscina ficou mais para as crianças. Os adultos passaram a ter nova dinâmica, mais interna. O prazer de Ricardo em receber visitas não mudou. Só foi alterado o formato e o cenário. A alegria era a mesma sempre.

Até seus últimos dias de vida ele manteve essa tradição, que era muito mais um prazer do que rotina. Era a forma que Ricardo tinha de brindar à vida, de celebrar a jornada incrível que tinha.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 24/05/2022
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