Dante Alighieri

"Existem almas vivas, que, pela energia de seu amor, comunicam vida a tudo o que se aproxima delas. E, existem almas que, por baixo de uma aparência externa de vida, estão mortas e congelam em sua própria morte tudo o que se aproxima delas." Henry Corbin

Nascimento

A cidade de Florença nos séculos XIII e XIV era um Estado marcado por sangrentas disputas e discórdias políticas: as incessantes lutas entre os Grandes (nobres) sempre entrecortados por reconciliações, entre guelfos e guibelinos. O período também foi marcado por incertezas religiosas: as heresias (catarismo gnosticismo), o averroísmo, a oposição entre dominicanos e franciscanos de estrita observância e franciscanos “temporais”.

Foi nesse ambiente conturbado, que, nasceu e viveu a fase inicial da sua vida, um dos intelectuais mais vivos e uma das sensibilidades mais sutis que a Idade Média conheceu: Dante Alighieri. Provavelmente, nasceu em maio de 1265, numa casa próxima à igreja de San Martino del Vescovo, em San Pier Maggiore, região conhecida hoje como Toscana.

Dante chamava Florença de "a filha mais bela de Roma". Realmente há uma estranha qualidade na luz que a envolve como uma aura. A arte, a arquitetura e a literatura florentina ainda hoje iluminam a vida interior e inflamam a imaginação das pessoas mais que as criações de qualquer outra cidade.

Dante jamais falou dos seus pais, mas, sabe-se, que a sua mãe, chamada Bella, morreu ainda jovem (quando Dante tinha entre 12 e 13 anos de idade) e que o seu pai, denominado Alighiero di Bellincione d’Alighiero, não tardou em tomar Lapa di Chiarissimo Cialuffi como consorte. Há controvérsia quanto a esse casamento, propondo alguns autores que os dois se tenham unido sem contrair matrimônio, graças às dificuldades levantadas, na época, ao casamento de viúvos. Dessa união nasceram o irmão Francesco e a sua irmã Tana (Gaetana).

Formação

Calcula-se que Dante iniciou os seus estudos nas escolas do convento franciscano de Santa Croce e aprofundou-os sob a orientação de Brunetto Latini. O mestre era escrivão, homem político e grande divulgador da cultura. Foi para Dante, o primeiro mestre de estilo e, também, o representante de uma importante fonte de notícias e dados sobre a história europeia. Em decorrência da importante atividade diplomática que desempenhou em Florença, Brunetto Latini era um conhecedor da realidade política de Castilha e da França, na qual viveu até a vitória dos guelfos em 1266. Sendo assim, provavelmente, transmitiu a sua experiência ao discípulo, que soube consolidar sua ambição de intelectual e de escritor. Por volta de 1287, Dante também passou por Bolonha, na época um dos maiores centros de estudos jurídicos e de retórica.

O primeiro momento da formação de Dante se desenvolveu em meio a uma multiplicidade de interesses e experiências. Nesse período, fundiu-se o culto dos clássicos da Antiguidade, particularmente de Virgílio, com as obras dos grandes pensadores contemporâneos, entre esses Alberto Magno, Santo Tomás e São Bonaventura. Suas leituras compreenderam obras provençais e francesas, lírica de amor e romances. Dante cultivou a música, o desenho, o canto, a dança, exercitou-se nas armas e na cavalaria, praticou equitação, caça e o uso do arco. Estudou profundamente teologia, escolástica e admirou grandemente a patrística.

A produção poética de Dante teve larga difusão em Florença e em outras partes. Vários trechos foram musicados.

Casamento

Com a idade de doze anos, em 1277, Dante casou-se com Gemma, filha de Messe Manetto Donati, pertencente a uma das mais ilustres famílias guelfas de Florença. O casamento foi imposto pela família, prática comum — tanto no arranjo quanto na idade — para a época. Dessa união nascem os filhos Pietro, Jacopo e Antonia (que se tornou freira com o nome de Beatriz), e, talvez, um quarto filho, Giovanni.

O pensamento político

É muito comum pensar que o poeta florentino apenas tratou de questões relativas à poesia. Entretanto, é necessário esclarecer que, antes de ser poeta, Dante Alighieri foi um filósofo da política na Idade Média. Viveu num ambiente de conturbadas relações de poder, sobretudo entre Igreja e Império.

Dante procurou de forma racional apresentar teses para solucionar o problema acerca de quem deveria governar a fim de evitar o embate entre poderes na Cristandade Ocidental. Nessa perspectiva, o sommo poeta elaborou um modelo de governo centrado na distinção entre poderes: poder espiritual e poder temporal. Também, centrou no homem e na sua participação política a plena realização do gênero humano e conferiu-lhe o conceito de optimus homo. Sem dúvida alguma, será melhor aquele homem que participar da comunidade política, aquele que se envolver com as chamadas questões ético/políticas e que respeitar o Estado e o Direito.

Exílio e obras

Em 1300, ano em que se passa a Comédia, Dante viajou como embaixador de Florença para as cidades europeias. Acusado de corrupção durante uma intriga política, foi condenado a ser queimado vivo se fosse preso. Exilou-se, então, em cidades como Bolonha, Pádua, Verona e Ravenna. Em 1315, voltou a Verona, e, dois anos depois, a Ravenna. Tentou voltar a Florença, mas foi impedido.

Durante o exílio, Dante escreveu obras importantes em latim, que permaneceram incompletas. Dessa época, O De Vulgari Eloquentia, onde a intenção de Dante foi ensinar a teoria da eloquência vulgar, ou seja, da arte de se expressar em língua vulgar italiana. Na obra, dirigiu-se aos eruditos e letrados do seu tempo e escreveu em língua usual da época - o latim. Também, incompleto ficou o Convívio, escrito em língua vulgar. A palavra convívio significa banquete e a obra é um banquete de cultura, a emancipação intelectual, para a qual todas as pessoas foram convidadas. A obra foi concebida inicialmente como uma série de 14 canzoni e um livro de introdução. Dante escreveu somente a introdução - três canzoni.

Dante mostra que em sua obra é possível encontrar vários sentidos no que está escrito, por exemplo, se fala literalmente do amor, pode ter um sentido doutrinário mais alto.

Desde o início, Dante expõe o verdadeiro sentido das suas canzoni.

A morte

Poucos anos antes da sua morte, Dante foi convidado a retornar a Florença, mas, não aceitou.

Morreu em 1321, talvez de malária, em Ravenna, sendo sepultado na Igreja de San Pier Maggiore (mais tarde chamada Igreja de San Francesco). Bernardo Bembo, pretor de Veneza, decidiu honrar os restos mortais do poeta, erigindo-lhe um monumento funerário de acordo com a dignidade de Dante Alighieri.

Biografia

AROSSI, Gustavo. O conceito de Optimus Homo no Monarchia de Dante Alighieri. 2012. 103 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

ROBIN, Paula Monteleone. Beatriz, musa de Dante Alighieri, com suas transfigurações na Vita Nova e incursões na Divina Comédia. 2010. 74 f. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Italiana do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do Título de Mestre em Letras. São Paulo, 2010.

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 17/07/2022
Reeditado em 24/07/2022
Código do texto: T7561949
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