FLASHS

Sou do tempo que o Machismo proliferava fortemente. Ai da mulher que cometesse qualquer deslize. Não havia lei Maria da penha , nem desquite, e numa separação nada os obrigava pagar pensão . Pois bem, eis a minha história nua e crua: Meu pai, boêmio, cantador repentista, passava meses sem dá as caras, viajando pelos sertões da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Minha mãe, linda, jovem, ficava com duas crianças dando duro, numa casinha de taipa perdida no ermo daquela paisagem inóspita , a três léguas da cidade de Patos, onde moravam meus avós .maternos.

Uma lembrança forte me persegue. Minha mãe saia para o roçado, pegar lenha ou água e trancava-nos , eu com quatro anos e a mais nova com quase três. Estavamos bincando no chão com nossos cacarecos( sabugo de milho, caixa de fosforos, retalhos de pano), quando percebi no canto da parede algo colorido se movendo. Era uma cobra. Creio que meu anjo da guarda assoprou no meu ouvido. Institivamente chamei minha irmã para dentro de uma rede que se encontrava armada. Aí permanecemos , apavoradas, até minha mãe chegar.

Era tardinha, o recinto já se fazia sombrio naquelas paredes escuras, de barro. Não lembro que destino minha mãe deu a cobra.
Quando a situação ficava preta, minha mãe pedia arrego aos meus avós. Saíamos a pé , três léguas pelas estradas íngremes, a poeira vermelha a rodopiar com o vento, no céu revoada de passarinhos ou de urubus .Vez em quando uma parada, minha mãe carregava minha irmã , mas eu, chegava no destino com meus pezinhos doidos, calejados . Minha tia fazia um escalda-pés para mim. Permaneçiamos por dias, e retornavamos à nossa sina. Eu já tinha sete anos e mais uma irmazinha, quando meus pais mudaram-se para a cidade. Poucas lembranças do meu pai em casa. Vinha, fazia um filho e voltava pro seu mundo, até que , depois de um longo período chega a fatídica e Inesperada notícia....

CONTINUA ...





 
Erivaslucena
Enviado por Erivaslucena em 15/03/2023
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