FLASHS III

Continuação...

Imagino a decepção misturada à dor do desamor, na cabeça de minha mãe, ao receber a triste notícia. Por amor aquele homem, desafiou seus pais que não aceitavam o namoro. Fugiu acreditando nos seus sonhos. Meus avós jogavam na sua cara cada vez que deles, ela precisava. Sofria calada. 

Inesperadamente, eis que, certa manhã, meus avós recebem uma visita inesperada. Uma mulher desesperada, dizendo que seu esposo havia fugido com minha mãe. Uma bomba, um escândalo para a época. Mesmo tendo sido abandonada pelo esposo ninguém perdoaria tal desatino. Julgada e condenada, uma adúltera. Penso que seu erro maior foi se envolver com um homem casado. Meus avós diziam que a partir daquele dia minha mãe não era mais sua filha. Estava morta. Com oito anos, na minha inocência, ouvia todo aquele burburinho  em silêncio. Tinha noção da gravidade, sem pai , sem mãe, sem irmãs, me sentia uma órfã,  com a certeza de que nunca mais os veria.

Não lembro se chorei. A tristeza me invadia por muito tempo. Meus avós me registraram como filha, a partir daí passei chamá-los de papai e mamãe. Meus tios passaram a ser meus irmãos. Tinha vergonha quando me perguntavam por meus país. Vez em quando alguém trazia notícias, ora dali, ora dacolá, meus avós não queriam saber. Aquele senhor ficou dividido entre as duas. Vivia mais com a esposa , talvez por causa do seu trabalho em Patos. Pouco tempo após, dois anos no máximo, ele veio a falecer na companhia da esposa. Mais uma vez minha mãe estava só, literalmente, agora com tres filhas para criar, pois soubemos que a gravidez foi a causa da fuga . A partir daí cessaram as notícias sobre o paradeiro de minha mãe.
Décadas se passaram. ...

Continua....


 
Erivaslucena
Enviado por Erivaslucena em 19/03/2023
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