Cativa de si: CAPÍTULO I -> O começo da vida em si

CAPÍTULO I

-> O começo da vida em si

Há uma parte desta que chamo de vida que prefiro pular em meu relato, irá entender melhor se eu contar-lhes em poucas palavras e superficialmente tudo o que aconteceu, talvez.

Eu sou alguém diferente, como já disse antes, mas não digo como um elogio, nem como uma ofensa a mim mesma, eu o digo por que foi a única forma que encontrei para definir tudo aquilo que vim sendo até hoje. No início de tudo há muita confusão, ódio, intrigas e sangue. Nada que não tenha acontecido depois, mas estas foram as cicatrizes mais profundas e o que me fizeram ser o que decidi ser depois, quando tudo parecia ter terminado.

Quando eu ainda era uma pequenina, meu pai faleceu. Na verdade, foi assassinado. E minha mãe? Eu nunca soube muito dela, eu era muito grudada ao meu pai, mas o que ele fazia a me ver era me treinar, isso não endureceu meu coração mole de criança. O que o endureceu foi o assassinato dele e o ódio que vim conservando por uma irmã que eu dei como morta sem realmente faze-lo (erro número 1).

Chegamos a uma parte em que eu não sei muita coisa, só o que sei é o que me contam, pois destes não lembro muito bem. Veja só. Fui usada como cobaia para uma experiência, esta que não gosto muito de falar, como já disse são só fatos não contados por mim e que não deveriam constar neste relato da minha vida. Esta só me trouxe problemas, uma amnésia que me dura e me custa muito até hoje, um filho que não é meu, que tem a minha idade e que eu nem quero e nunca pretendi criar ou cuidar como filho de verdade. Perdi anos e anos nesta brincadeira. Sim, eu sou velha, se quer saber. Mas aqui está a parte que nunca entendi e que nem me esforço mais a entender: Eu deveria ter uns 40 anos, ao invés disso ainda conservo minha aparência jovial de 20 como na época em que fui usada como cobaia. Por isso essa parte não deveria estar aqui. É complexa demais até para mim que sou dona da minha própria historia, ou deveria estar sendo até agora. Ah! Isso me dá um dor de cabeça daquelas! Daquelas que me vem um desejo do fundo do meu âmago de puxar alguém pelos cabelos e girar! Pularemos e esqueceremos estar parte, então.

O começo da minha vida se deu há uns dois anos atrás, eu tinha 21 anos e havia nascido há 40 anos. Mas deixando os números de lado e considerando somente esta vida, continuemos. O começo da minha vida se deu há uns dois anos atrás, quando eu resolvi trabalhar como uma mera mercenária, juntei o que aprendi na infância e adolescência treinando com meu pai e irmã e apostei na fama que eu tinha como espiã. Certas coisas a gente não esquece, a adrenalina, os gritos, o vermelho do sangue e o horror estampado na face de outros são sensações singulares que ficam na memória pra sempre. Seja como for, eu nunca vou entender porque realmente eu não esqueci de tudo isso também.

Eu era agora uma assassina de aluguel, que os outros encontravam em subúrbios e às escondidas pediam pra eu fazer um trabalho sujo “Do jeito que só você sabe Williams”, diziam eles. Como eu cobrava? Dependia. Dependia de tudo, e muito! Se todos pagavam? Claro! Certa vez ousaram tentar fugir de mim e do pagamento, mas eu sempre tive um jeito mais que especial para os ousados. Prático e rápido, não doía nada. Se eu gostava? Eu sentia algo diferente, sim. Mas nunca disse que amava matar, da mesma forma que nunca disse que odiava, eu só fazia e o fazia direito. Era como se tivesse e mantivesse o poder da morte nas mãos. Sabe qual era a minha especialidade? Homens. Sempre achei muito mais simples manipula-los, como um pequeno brinquedo de modelar para crianças. Eles me chamavam “Deusa apocalíptica da tentação”.

Eu vim para derramar seu sangue de um jeito que só eu sei fazer, eu vim te tentar a caminhar para a sua própria morte olhando para esta com olhos bêbados e brilhantes. “Venha, a morte te espera”, eu sussurrava carinhosamente em seus ouvidos, e eles sempre vinham! Sempre! Eu tinha todo um ritual, uma preparação, amaciando a morte e sua sede por sangue em minhas mãos macias, sempre cobertas por uma luva branca gasta pelo cabo das katanas, das adagas e dos punhais e das armas de fogo que eu colecionava. Eu tinha sempre uma roupa diferente, mas sempre o mesmo olhar azul, fatal e calmo e misterioso, coberto pela leve franja loira.