LEONARD NIMOY
Quando ator e personagem parecem um só

 

   Ter nas mãos, pelo menos, um personagem inesquecível, é um presente e uma maldição para os grandes atores. Quando o trabalho é realmente bem feito e o sucesso supera todas as expectativas, ator e personagem passam a viver, no inconsciente coletivo, como um único ser. Por algum tempo, Leonard Nimoy encarou o Sr. Spock, oficial de ciências vulcano da nave estelar Enterprise, como sua maldição. Porém, enfim, se rendeu ao incontornável: seria Spock para sempre.
   Leonard Simon Nimoy, filho de família judaica de origem ucraniana, nasceu em Boston, Massachusetts, em 26 de março de 1931. O pai, Max, era dono de uma barbearia. Desde os oito anos, Leonard demonstrava talento para a atuação. Cursou arte dramática no Boston College e, logo depois, mudou-se para Los Angeles. Em meados dos anos 1950, conseguiu seus primeiros papéis em filmes B e em séries de TV.
   Sua jornada no século XXIII começou, na verdade, em 1964, no piloto da série, “Star Trek: The Cage”, criado por Gene Roddenberry, que já havia feito alguns trabalhos com Nimoy. O piloto não foi aprovado pela Paramount, pois a trama foi considerada "muito complexa" para a audiência. Além disso, exatamente o tripulante vulcano, com suas sobrancelhas diagonais e orelhas pontudas, era um dos maiores incômodos para os executivos. 
   Roddeberry teve a chance de produzir um segundo piloto, algo incomum na época, e bancou a permanência do Sr. Spock – agora um personagem mais complexo, com uma história definida em grande parte pela interferência do ator Leonard Nimoy. É dele a criação de um dos gestos mais icônicos da cultura pop: o cumprimento vulcano e a frase "Vida longa e próspera!". O lógico Sr. Spock serviria de contraponto ao impulsivo novo capitão, James T. Kirk (William Shatner).
   A série teve três temporadas, com um sucesso discreto e ameaças de cancelamento – que se concretizaram em 1969. No entanto, uma legião de fãs se formava. A química entre Spock, Kirk e o médico Dr. McCoy e os enredos que uniam aventura, ciência e até mesmo humor em uma nave de tripulação multiétnica, abririam mentes e corações – ganhando ainda mais força nas reprises em redes de TV, após o cancelamento.
   Desgastado com o papel, Leonard Nimoy encarnou um personagem na série “Missão: Impossível” e lançou, em 1975, o livro “Eu não sou Spock”. O dilema do ator de um único personagem o assombrava. Roddenberry tentava emplacar uma nova temporada de Star Trek, mas Nimoy recusou o convite para reviver o Sr. Spock. O projeto acabaria adaptado para o cinema, com “Jornada nas Estrelas: o Filme” (1979). Nimoy foi o último da tripulação original a se juntar ao projeto.
   Reconciliado com o personagem e seu legado, em 1995, no livro “Eu sou Spock”, Nimoy assumiu o óbvio. Foi o único ator da série clássica a estar presente em “Star Trek” (2009) e “Star Trek: Into Darkness” (2013), no reboot da franquia. A última jornada do ator, rumo à eternidade, se deu em 27 de fevereiro de 2015, quando Nimoy faleceu, vítima de complicações da doença pulmonar obstrutiva crônica, em Los Angeles, Califórnia.

 

(Parte da coletânea ATORES EM STAR TREK (1), em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)