Observo o tempo passado... diferente, exigente, incoerente.

Nossos rostos queimavam, ficavam vermelhinhos ao menor toque de uma chamada de atenção, um pito, como dizíamos à época.

 

Depois de alfabetizada pela minha avó Maria, fui para a escola rural multisseriada: alunos da primeira à terceira série, numa mesma sala de aula. Em alguns momentos, alunos considerados mais adiantados no conhecimento tornavam-se tutores dos menores. Parceria muito interessante.

 

Lembro-me da imagem panorâmica vinda dos janelões da escola sempre abertos, sorridentes, desafiadores. O interior da sala parecia amarelado e abria-se para o verde das frondosas árvores, cheias de pássaros ruidosos. As andorinhas voavam e voavam no beiral do telhado. Eu pensava... andorinhas só visitam casas grandes, casas de gente rica. As carteiras de madeira, duplas, alojavam os alunos. O mapa do Brasil triunfava orgulhoso logo acima da lousa, chamada de quadro negro e a Bandeira Brasileira sorria soberba apenas nos dias de festa. Sala ampla, calçadas de cimento rústico e banheiro fora do prédio no segmento da calçada. Um banheiro, único banheiro, sem vaso, com buraco no meio da edificação, atendia meninos e meninas.

 

O lugarejo era  pequenissimo, bem à beira do Rio Paraiba do Sul, cortado pela linha da Estrada de Ferro Central do Brasil. A Estação do trem soerguia faceira, como o prédio mais bonito do lugar.

Mas a Escola de Pombal, bem em frente a linda Capela, aberta somente nos dias da festa do Padroeiro, sorria contente.

 

A Professora morava em Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro. Viajava de ônibus diariamente. Nós, alunos... esperávamos a triunfal chegada da Mestra, com grande euforia. Linda... cabelos longos e dourados, unhas vermelhas, sapatos de saltos altos. Parecia um anjo a nos guiar!

 

Num belo dia, pedi à Professora licença para ir ao banheiro, rústico, rudimentar, emburrado e cara feia. Eu pequena, com menos de seis anos, sozinha naquele espaço inóspito, num incidente, fiquei trancada no ambiente nada acolhedor. Depois de muito tempo, sentiram a minha falta. Salva, chorava muito, com muita vergonha do acontecido. Mesmo assim, fui repreendida pela Professora. Tudo indicava  imprudência da pequena menina, acuada diante do desconcertante ocorrido. Tempos difíceis...alunos sem direito a vez e a voz.

 

Criança na primeira infância, tentando desvendar os segredos do mundo ... jurei a mim mesma que nunca mais seria repreendida por conta de atrasos e falta de compromisso com os horários. O meu rosto não mais ficaria vermelho, envergonhado, curvado diante dos atrasos.

 

Assim tem sido...

Ao lembrar-me deste episódio, descobri o motivo da minha ansiedade frente ao relógio.