A nossa casa assentada à beira do rio, lembrava o cantinho do Jeca Tatu de Monteiro Lobato.

O espaço cheio de galinhas, patos, pássaros, dividia o terreno com o chiqueiro dos porcos. Criançada com os pés descalços, terreiro de chão batido, roda de conversa ao pé do fogão.

 

Quando meu pai voltava da pesca o viveiro se enchia de bagres, surubins e dourados. Os peixes pequenos

iam para a limpeza e a família reunida cuidava dos bichinhos para as próximas refeições. A criançada,  sentada à beira da bacia cheia de lambaris e guarus, dava conta dos miúdos. Os cascudos e mandis ficavam por conta das mulheres adultas.

Ao final... o fogão a lenha aceso, minha avó fritava os peixes servidos com pirão de farinha de mandioca e pimenta malagueta. A farinha era produto do plantio da família, assim como a batata doce, milho verde, bananas, hortaliças.

 

O quintal não era tão grande para acomodar todas as atividades domésticas. Árvores não faltavam... mangueiras, goiabeiras, ingás, cana de açúcar para fazer a engenhoca sorrir, junto com os homens da família . A garapa era par constante do bule de café,  do bolão de fubá e broas.

 

Concorria nesse espaço o lindo paiol, onde guardava o milho colhido para os animais e alegria dos roedores invasores.

Às vezes... a criançada brincava de pique e se deparava com algum rato sem noção, desafiando a emoção dos passantes.

 

Um dia... pequena, muito pequena, sentada no colo do meu pai sobre uma banquinho de madeira, olhando para o terreiro, ao lado do paiol, meu pai cantava e me balançava. De repente... cessou a cantoria e exclamou: "_ Ah... se tivéssemos um radinho para ouvir músicas!"

 

O paiol contemplou o silêncio daquele encantamento.

A tarde sorriu contente!...

 

 

 

 

 

foto by Zaciss