UM PEDAÇO DE MIM

Eu nasci num vilarejo pouco habitado. Cercado de fazendas de boi e casas feitas de pedra viva. Fui criado a leite puro de vaca. Perdi o meu pai quando eu tinha sete anos. O mundo parecia desabar sobre a minha cabeça sem saber ao certo o que estava acontencendo. A notícia causou um grande impacto lá em casa. Meus três irmãos e irmã ficaram atordoados com a notícia. Embora meu pai fosse um tanto bronco com todos nós, ele nos amava do jeito dele. Meu irmão mais novo nem notou que havia perdido o seu símbolo masculino em casa. Ele tinha apenas um ano e dois meses segundo a minha mãe. Eu cresci vendo os meus vizinhos falando sobre seus pais. Sobre o que eles eram capazes de fazer e eu... Eu não tinha um pai para segurar na minha mão quando eu mais precisei. Eu começei a ver em meu irmão mais velho a imagem que todos nós precisavamos lá em casa. Um pai.

Eu sempre fui um bom aluno. Nunca dei razões para que minha mãe tivesse que ir à escola ouvir reclamações dos meus professores.

Eu acima de tudo respeito minha mãe e a sua palavra para mim sempre foi e é até hoje um lema. Peço seus conselhos quando preciso e minha mãe nunca deixou de me ajudar. Quando completei os meus quatorze anos de vida eu havia obtido bons resultados na escola e escolhi seguir um curso de arquitetura, na Escola Básica e Secundária da Calheta. Escola onde eu estudava. Nos anos que se seguiram, eu sofri uma radical mudança de planos. Meu irmão mais velho, que já morava no Reino Unido convidou-me para trabalhar com ele. No começo achei que fosse um trote. Pois eu só tinha apenas quinze anos de idade, mas não. Era mesmo verdade.

Eu fui então para a Inglaterra onde morrei até aos 22 anos. Aprendi inglês e não só. Cresci por dentro e por fora. Amadureci completamente e hoje sinto-me muito mais velho do que aquilo que eu realemente.

Hoje moro no Brasil, sou casado e vivo com minha esposa numa bela casa que compramos na costa de Santa Catarina. Enquanto morávamos na Inglaterra. Eu começei a trabalhar na cozinha. Eu lavando pratos, limpanva banheiros e preparava alguns pratos. Com o passar dos meses eu adquiri uma vasta experiência na cozinha, e aprendi muitas outras coisas além de cozinhar. Todo o meu dinheiro era guardado. Eu apenas gastava com produtos de higiêne pessoal, comida e aluguel. Os meses passaram rapidamente e eu mudei de empresa mais continuei no ramo. Eu cheguei a ser o chefe da cozinha por muito tempo. Trabalhando em média, oitenta e cinco horas por semana. Foi onde eu conheci a mulher que mudou a minha vida. Katia Solange Labes. Quando eu a conheci, (numa terça-feira) na cidade de Cambridge na Inglaterra. Nós estavámos preparando um novo restaurante. Eu era responsável pela organização da cozinha e me foi dada a missão de organizar todas as louças que chegavam em caixas enormes.

Tentei aproximar-me dela, mas ela sempre se esquiva não permitindo assim que eu chegasse mais perto.

Ela não quis nem falar comigo, não do jeito que eu gostaria que ela falasse. Erámos colegas de trabalho, eu era seu chefe. Ela me achava um tanto novo para ela, fiquei sabendo disso dias depois. Na verdade eu tinha apenas dezessete anos e ela, trinta e três. Parecia um absurdo eu dizer que estava apaixonado, mas eu senti que aquela mulher era quem eu queria perto de mim. Queria ela como esposa, como mãe dos meus filhos. Chamaram-me de louco várias vezes, mas isso não mudou meus sentimentos por ela. A idade nunca foi um problema ou barreira para mim. Eu senti que a amava e fui em busca da minha felicidade. Durante semanas eu escrevi poesias, escrevi cartas, até que um dia ela apareceu e meu beijou de repente. Aquilo que eu tanto esperei e desejei, havia enfim acontecido e se realizado. Eu era o homem mais feliz deste mundo. Dias antes de isso acontecer eu havia confessado a ela, alguns segredos de minha vida. Acontecimentos infelizes que me levaram a ser mais recatado e tímido. Ela não falou comigo durante dias, disse ser por causa da idade.

A minha primeira noite ao lado da mulher que eu amava, e amo, foi absolutamente maravilhosa, inesquecível. Eu jamais esquecerei aquela noite. O local, o tempo, a hora e o momento. Daí por diante nós começamos a namorar e fizemos planos para o futuro. Nós compramos a casa no Brasil e eu saí difinitivamente da cozinha. Arrumei um trabalho como garçom no mesmo restaurante e fui subindo, até que um dia me tornei o gerente.

Após alguns meses, eu acabei saíndo de uma empresa onde eu trabalhei durante quase seis anos. O patrão queria mais do que aquilo que eu podia oferecer. Eu me sinto orgulhoso em dizer que conquistei muitas coisas durante todo este tempo. Se me perguntarem se eu me diverti da maneira que os jovens acham que é a diversão (baladas, clubes noturnos, etc...) eu vou dizer que não. Tive pouco para isso, e mesmo que eu o tivesse, não o gastaria indo para clubes onde não se aprende muita coisa.

Poder ter conquistado a minha própria casa aos dezenove anos, é uma vitória e tanto para mim. O sonho realizado.

Não sei ao certo o que o futuro reserva para mim. Sou casado e feliz. Luto por aquilo que eu quero e confio na minha capacidade de vencer batalhas. Me dedico a um eterno apredizado, nunca aceito o que eu sei, mas sim procuro saber mais e mais a cada dia. Sabedoria não ocupa espaço, eu sinto que a vida tem muito que nos ensinar e eu estou pronto para receber todo esse aprendizado, pelo menos aquele que estiver ao meu alcance.

Desde que nasci em 02/04/1986 que me sinto um cara de sorte embora tenha perdido o meu pai muito cedo. Eu sempre tive a proteção que precisei para escalar as escadas da vida, superar cada pedra mal colocada no meu caminho. Sonho em ser escritor profissional e artista plástico. Pintar telas é a minha terceira paixão, depois da minha família e a escrita. Pretendo sustentar a minha familia a partir daí. Falo inglês e também um pouco de Francês.

Sou capaz de traduzir qualquer texto de português para inglês e vice versa. Eu estudo quando posso e faço frases novas com palavras novas que aprendo no dia a dia. A vida continua...

Jose DaSilva
Enviado por Jose DaSilva em 27/02/2008
Reeditado em 08/02/2009
Código do texto: T878765
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.