SOSÍGENES COSTA: O POETA DAS CORES

Sosígenes Marinho da Costa, poeta e cronista baiano (Belmonte 1901 - Rio de Janeiro 1968) passou a maior parte de sua vida na cidade de Ilhéus - BA, e se tornou um dos poetas brasileiros mais conceituados. Recatado e avesso à autopromoção, publicou apenas um livro em vida: Obra Poética, em 1959, ainda assim por insistência dos amigos. Trabalhou no jornalismo e foi membro da Academia dos Rebeldes, grupo que contava com a participação do romancista baiano Jorge Amado (Itabuna 1912 - Salvador 2001). Na década de 1950 foi secretário da Associação Comercial e Telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos, em Ilhéus. Pelo livro publicado em 1959, Sosígenes ganhou o Prêmio Jabuti em 1960. O poeta é vinculado à terceira geração do Modernismo. Segundo o crítico literário e poeta José Paulo Paes (Taquaritinga 1926 - São Paulo 1998): "a ter como certas as datas de composição das peças enfeixadas na primeira parte da Obra Poética, quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus 'sonetos pavônicos', todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se aparenta, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva".

As imagens preciosíssimas e excelente musicalidade fazem de Sosígenes um poeta original, um artista do verso, com sutilezas e cores variadas. Os sonetos crepusculares deste poeta são admiráveis, inspirados em paisagens das cidades de Ilhéus e Belmonte. O seu longo poema "Ianarana" é um monumento modernista comparado, até, ao "Cobra Norato" do poeta gaúcho Raul Bopp (Tupanciretã 1898 - Porto Alegre 1984). Também famosos são os "sonetos pavônicos", nos quais sua mente fertilíssima cria aves fantásticas. O critíco literário e poeta José Paulo Paes teve fundamental importância para a reunião das poesias de Sosígenes Costa, pois organizou sua publicação em 1978 e 1979 e, também, lhe dedicou estudos críticos. Fiquemos, portanto, com três belíssimas jóis criadas pelo vasto universo da mente de Sosígenes:

Chuva de Ouro

As begônias estão chovendo ouro,

suspendidas dos galhos da oiticica.

O chão, de pólen, vai ficando louro

e o bosque inteiro redourado fica.

Dir-se-á que se dilui todo um tesouro.

Nunca a floresta amanheceu tão rica.

As begônias estão chovendo ouro,

penduradas nos galhos da oiticica.

Bando de abelhas através do pólen

zinindo num brilhante fervedouro,

as curvas asas transparentes bolem.

E, enquanto giram num bailado belo,

as begônias estão chovendo ouro.

Formosa apoteose do amarelo!

Palhaço Verde

Palhaço verde, o mar na areia ruiva

grita e gargalha, salta e cabriola,

como quem sofre, lírico, da bola.

E, querendo assombrar as moças, uiva,

brama, arremete e explode, o mariola,

abrindo uma alvacenta ventarola.

O mar é sempre o mesmo rapazola!

O mar é sempre o mesmo brincalhão

que, todo verde pela areia ruiva,

faz-se palhaço, bobo e valentão.

Vinde ver o bufão de roupa verde,

ver o bobo da corte de Netuno.

Na tarde cor-de-rosa, a roupa verde

do mar parece o tal pavão Juno.

Cai a noite. Do mar a roupa verde

fica de um verde negro, verde bruno.

Crianças, vinde à corte de Netuno

ver o palhaço verde gracejar.

Crianças, vinde ver cabriolar

pela areia amarela o verde mar.

O pavão vermelho

Ora, a alegria, este pavão vermelho,

está morando em meu quintal agora.

Vem pousar como um sol em meu joelho

quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho

sobrepuja os pavões que estão lá fora.

É uma festa de púrpura. E o assemelho

a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.

E a cor vermelha chega a ser sonora

neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possuí outrora.

Depois que amei este pavão vermelho,

os meus outros pavões foram-se embora.

Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 31/12/2005
Reeditado em 23/09/2008
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