Família Vivone

A mesa farta e toda família reunida. Pratos italianos e brasileiros no melhor Natal do mundo. Para uma criança, mais que todas as delícias, o número de pessoas em alegre falatório tornava o ambiente mágico. 

Primos, tios e avós trocavam abraços apertados, presentes, beijos, elogios e brincadeiras. 
Os mais velhos fingiam zanga com a gritaria mas estavam felizes com os agrados e lembranças. Família Italiana.

Apesar de nunca ter conhecido meus bisavós pois já haviam morrido quando nasci, meu avô nunca deixou de contar histórias e fazer questão que soubéssemos nossa origem. 
Anos mais tarde , orgulhosa, obtive a cidadania italiana. Não tenho o sobrenome, mas amo a Itália e não canso de visita-la. Cada viagem é única e preciosa. Sempre acrescentando algo novo.

Lembro que o doce mais gostoso era aletria. Anos depois soube que é macarrão com leite e açúcar. Qual era o ingrediente secreto que o tornava tão especial? Mãos generosas de avós contadoras de histórias?
E o suco de uva das crianças? Vinho tinto de garrafão com água e açúcar.

A festa acontecia no dia 25 de Dezembro. Sempre na casa da tia Aída. Linda senhora, cabelos brancos e brincos de pérola. Vestido de seda, alta e magra, porte de rainha. E tio Acácio tinha a risada mais feliz do mundo. Havia enfeite por toda casa, avós e tias conversavam animadas. 

Os homens contavam casos e anedotas . Parentes vinham de Saquarema e Rio Bonito. Era uma festa maravilhosa com as crianças brincando e correndo. E como apareciam primos e primas!

Os anos foram passando e os idosos já não podiam viajar com tanta facilidade, houve enfermidades graves.
Os jovens já tinham seus programas, muitos adultos formaram suas famílias e os parentes foram deixando de ir ao almoço anual. Gradualmente a tradição chegou ao fim.
Passei a prestar mais atenção ao nosso pequeno núcleo.

Lembro do macarrão feito em casa secando no varal, esticado sob papel manteiga. Nunca entendi porque minha avó insistia em fazer massa caseira se haviam os pacotes prontos no mercado. Nunca comi uma pasta como a dela, só sabemos o quanto é precioso quando não possuímos mais.

A vida com meus avós era tranquila, sob todos os aspectos. Aprendi a comer pão com azeite e uma pitada de sal, a fazer picles e ter orgulho da ascendência.

A Calábria é uma alegre bagunça, com gente falando aos gritos e praias belíssimas. De homens simples como meu bisavô e sua Catarina que chegaram ao Brasil de mãos vazias, cheios de sonhos e esperança.

O que somos nós senão pedacinhos fragmentados de tantas histórias? Hoje amanheci com saudades. De Nápoles, da gente alegre que fala aos gritos, um colo de avó. Coisa mais querida.

Vontade de resgatar aquelas reuniões barulhentas em volta da mesa enorme. As luzes e a felicidade eram o prato principal do banquete que até hoje sacia minhas melhores lembranças de menina. 
Atualmente minhas primas Angélica e Márcia, são as familiares mais próximas. Temos muitas afinidades, brincamos e rimos como meninas quando trocamos mensagens. 
Somos felizes, partilhamos momentos especiais no passado, patilhamos uma família grande, ruidosa e cheia de alegria de viver.

Para nós, Vivone  significa respeito, luta e união.  Ser um Vivone vai muito além.... está na Calábria, em San Marco Argentano. Começou em 1872, quando Rafaelle di Vicenzo Vivona, meu bisavô, nasceu...

Senti esta energia quando estive em San Marco. Voltei renovada e mais italiana do que nunca, pronta para encarar a vida e o que mais vier.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 12/04/2008
Reeditado em 03/08/2008
Código do texto: T943076
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