Uma singela homenagem à literata Lygia Fagundes Telles

Através do oficio numero 026/003 de Agosto de 2003, objetivo desta pequena biografia:-

A ''AMDES-Associação dos Amigos de Descalvado'' propõe à Câmara Municipal, premiar a Escritora Lygia Fagundes Telles, com o Título de ''Cidadã Honorária'' de Descalvado. Assinada pelo presidente Mario Sebastião Bonitatibus.

A Organização Não Governamental

''AMDES-Associação dos Amigos de Descalvado'',

através de seu Presidente, encaminha à Câmara Municipal, tendo como firme propósito, homenagear a Literata Lygia Fagundes Telles, agraciando-a com o titulo de “Cidadã Descalvadense”, e, para justificar este pedido, encaminhamos alguns pontos biográficos da referida Pessoa, que passou parte de sua infância em terras do Belém do Descalvado.

Alguns pontos biográficos

Considerada como uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos, Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1923. Filha do Dr. Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário ( Zazita) de Azevedo Fagundes, passou a infância em pequenas cidades do interior do estado. Aos 8 anos retornou à São Paulo. Começou a escrever muito cedo. Recebe seu primeiro prêmio com seu 1º conto, VIDOCA. Em 1937, conclui seu curso escolar e a partir daí Lygia começou sua brilhante carreira como escritora. apurando seu contato com os livros estudando as obras de Dante, Cervantes , Camões, Alencar, Euclides da Cunha, Macedo, Eça de Queiroz e outros. Como sua autocrítica, considera seus primeiros livros "muito imaturos e precipitados", chegando a rejeitá-los. Estreou na literatura em 1938, com a coletânea de contos ''Porões e Sobrados'' sendo bem recebida pela crítica, assim como a segunda, ''Praia Viva'' em 1944.

Em 1949, publica o seu terceiro volume de contos, ''O Cáctus Vermelho'', que lhe deu o prêmio ''Afonso Arinos'' da Academia Brasileira de Letras, esse prêmio foi dividido com Lúcia Benadetti. Lygia escreveu ainda: Histórias de Desencontro em 1958, com o qual recebeu o premio ''Arthur Azevedo'', do Instituto Nacional do Livro, Histórias Escolhidas, em 1961, escreveu também os Romances, ''Ciranda de Pedra'' em 1955, ''Verão no Aquário'' em 1963 e ''As Meninas'' em 1974.

Segundo o crítico literário Antonio Candido, o romance ''Ciranda de Pedra'' (1954) seria o marco da sua maturidade intelectual. Recebeu prêmios literários diversos, entre os quais:— Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958) — Prêmio Guimarães Rosa (1972) — Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1973) — Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1980) — Prêmio Pedro Nava, de Melhor Livro do Ano (1989) - Prêmio AFONSO ARINOS, da Academia Brasileira de Letras. Seguidas vezes premiada pela Academia Brasileira de Letras, pela Câmara Brasileira do Livro, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, pela Fundepar, em 1968 recebeu Premio no Primeiro Concurso Nacional de Contos em Curitiba, Paraná.

Em 1947 casou-se com o Dr. Gofredo Teles Jr., que fora seu professor de Direito.

Em 1949 passou a ser colaboradora do suplente de letras e artes do jornal AMANHÃ (hoje extinto) do Rio de Janeiro, onde escreveria uma crônica semanal chamada CRÔNICA DO PLANALTO.

Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo –1945- e ainda na Escola Superior de Educação Física da mesma Universidade.

Visita a Europa, no inicio de 1955, ficando na Itália e na França .Em 1960, passou pela Rússia e China Socialista .

Palavras de Lygia:-

- Na minha infância, convivi muito com bichos, cachorros. Morei muito em cidades do interior com meu pai, com a minha família. Mamãe era pianista, meu pai era promotor público, mas era um homem muito instável. Ele mudava muito de uma cidade para outra, e a família ia atrás, eu os meus irmãos mais velhos; eu sou a caçula de quatro filhos que meus pais tiveram.( ... ) a minha mãe pianista ia com o piano, que ela ganhou do meu avô, um Bechstein que veio da Alemanha; meu avô, meu avô era rico, aquela história: avô rico, filho doutor, neto mendigo. Exatamente isso aconteceu. ( ... ) meu pai, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, já doutor, já não era rico, e eu, quando nasci o desastre financeiro já tinha acontecido. Mas, enfim, íamos todos acompanhando aquele carro de boi, tinha carro de boi ( . . . ) então, íamos todos para aquelas cidades, Areias, Descalvado –, quando eu contei para o Carlos Drummond de Andrade que eu tinha morado em Descalvado, ele disse: – Não é verdade, não é verdade, porque essa cidade tem um nome lindo, não existe Descalvado. Para ele, Descalvado era uma coisa assim, mística, bíblica, Descalvado, de fato, que bonito nome, não é? Lembra Cristo. Descalvado. O Calvário, não é? Lindo nome, Descalvado. Foi o Carlos Drummond que me chamou atenção para o nome de Descalvado. Eu disse: – Existe sim, meu pai foi promotor em Descalvado. Nessas minhas peregrinações, nessas cidades pequenas, eu me apaixonei muito pelos bichos, tinha muito cachorro, gato, não. Engraçado, o gato eu vim a conhecer na minha maturidade. O gato misterioso, estranho, selvagem, indomesticável. Agora, o cachorro, aquela cachorrada. Cachorro e pajem. Tinha muitas pajens, também, na minha infância, porque lá havia muita menina perdida. Nas cidades do interior, a menina perdida a família expulsava de casa; mamãe recolhia, então, havia pajens à beça, que faziam papelotes em mim nos dias de festas, quando eu me vestia de anjo nas procissões. ...

conviveu com muitos literatos tais como Jorge Luís Borges (escritor de grande importância na literatura mundial), Austregésilo de Ataíde, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz e outros grandes expoentes da nossa literatura.

A romancista Lygia Fagundes Teles foi eleita em 7 de agosto de 1981 para a cadeira n° 28 da Academia Paulista de Letras, na qual sucede o escritor Luís Martins, morto em abril deste mesmo ano. Lígia recebeu 29 votos em pleito que participou sem opositores.

Em 1985 seria ainda eleita para a Cadeira n. 16 da Academia Brasileira de Letras, recebendo sua merecida "imortalidade".

Algumas observações feitas a respeito da Escritora:

Palavras de NÉLIDA PIÑON, Presidenta da Academia Brasileira de Letras:-

''Lygia Fagundes Telles é, certamente, uma voz maior da literatura brasileira, e eu tenho imensa alegria em poder proclamar meu sentimento, minha admiração, por esta grande escritora, e reconhecer nela, também, uma voz moral, uma voz ética, uma voz estética, raras combinações que podem ser detectadas no Brasil de hoje''.

Na área cultural, a literatura, sobretudo no Brasil, sempre foi predominantemente dominada por escritores do sexo masculino, sobretudo, pelo preconceito histórico em relação às mulheres. Essa imagem, felizmente, vai se desagregando gradativamente. As mulheres vem sendo reconhecidas e aclamadas pela crítica e pelo público e, conseqüentemente, vai conquistando cada vez mais espaço no meio acadêmico. Lígia Fagundes Teles, uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos, foi uma das responsáveis por essa mudança. Sua obra tem merecido a melhor critica no Brasil e no exterior, com livros publicados com grande sucesso. A entrada de Lígia Fagundes Teles para a Academia Paulista de Letras, da qual já fazia parte a romancista Maria de Lourdes Teixeira, coincidiu com as eleições acadêmicas femininas de Marguerite Yourcenar na Academia Francesa, alem de Rachel de Queiroz e Diná Silveira de Queiroz na Academia Brasileira, revestindo-se num momento de singular significado, sobretudo pela importante e crescente participação feminina na literatura.

Síntese de Críticos Literários:

Lygia firma-se nas décadas de 1940 e 1950, no quadro de romancistas e contistas que atestam, em conjunto, a maturidade literária a que chegou a ''Prosa Brasileira'' de tendências introspectivas.

A maneira de escrever de Lygia, é rica e variada que atesta a vitalidade da literatura brasileira; é toda pela critica como escritora de invulgar penetração psicológica, comparada assim, com Aníbal Machado, Antonio Calado, Oto Lara Resende, Dalton Trevisan, Fernando Sabino e outros, que escavam os conflitos humanos em sociedade, abrigando com seus contos e romances-de-personagem a quantidade de sentimentos contidos na vida real e moderna.

Outros Livros disponíveis da Autora— Verão no aquário— A noite escura e mais eu— As meninas— Ciranda de Pedra— As horas nuas— Seminário dos Ratos— A estrutura da bolha de sabão— Mistérios— Antes do baile verde— A disciplina do amor -

Para complementar esta e já tendo passado alguns anos deste nosso intento, temos a dizer que “infelizmente”, não fomos atendidos, ... , mas, continuando sua brilhante trajetória, a terceira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, “Lygia teve finalmente o Prêmio Camões, que há muito merecia, pela infinita riqueza da sua obra literária, tão brasileira e universal, tão subtil e mágica, tão realista na análise social e na indagação do mais fundo e contraditório dos seres humanos…quero agora lhe enviar, com este artigo, um abraço grande, impregnado de toda a minha admiração pela escritora multiforme, hiper consciente na sua reinvenção irônica e comovida do mundo, solidária na sua escrita", palavras de Urbano Tavares Rodrigues no dia 25 de Maio de 2005.

Lygia Fagundes Telles recebeu o prêmio Camões de literatura dos presidentes Lula e Jorge Sampaio com discurso cheio de humor, provocou risos na platéia ao contar que "evento" virou a palavra da moda. "Hoje vou a um evento", relatou ter ouvido uma conversa entre duas moças.

"O que é?", perguntou uma delas. "Um velório", respondeu a outra.

Prêmio Camões foi Instituído em 1988 pelos governos português e brasileiro com vista a estreitar os laços culturais entre os vários países lusófonos e enriquecer o património literário e cultural da língua portuguesa, o Prêmio Camões tem o valor pecuniário de cem mil euros.

O júri, reunindo alternadamente em Portugal e no Brasil, integra especialistas de ambos os países, bem como de outros países de língua oficial portuguesa.

( http://www.gri.pt/premios.asp)

Brasileiros agraciados :-

2ª. Premiado em Lisboa Outubro de 1990 foi

João Cabral de Mello Neto em 1990

5ª. Premiado em Lisboa Jun/Julho de 1993 foi

Rachel de Queiroz em 1993

6ª. Premiado no Rio de Janeiro em Março de 1995 foi

Jorge Amado em 1994

10ª Premiado em Lisboa em Julho de 1998 foi

António Cândido de Mello e Sousa

12ª Premiado no Rio de Janeiro em Agosto 2000 foi

Autran Dourado

15ª Premiado no Rio de Janeiro, Maio 2003 foi

Rubem Fonseca

17ª Premiado no Rio de Janeiro, Maio 2005 foi

Lygia Fagundes Telles

marinho
Enviado por marinho em 17/01/2006
Código do texto: T100173