Cartas que não foram lidas VII

Aproximação

Ontem, as nuvens estavam cinzentas nos mais tristes reflexos de uma lua, e eu te via, distante como ela, cada vez mais longe de mim.

Pousei meu olhar numa espessa camada de poeira a cobrir uma estrada como outra qualquer, mas, eu sabia, que no final da mesma, incertezas e dúvidas voltariam à tona.

Passei pelo meu templo todo feito de amor e o primeiro a receber-me foram os orvalhos, estes orvalhos que deixara as plantações brilhantes e geladas.

Já longe, mas na mesma estrada, lá estava meu corpo relaxado e triste; juro, como naquele momento, não daria para conter as lágrimas que brotavam em meus olhos, e como num passe de mágica, o vento frio e gostoso se misturou com a pequenina chuva que molhava meu rosto, e tudo se misturou em mim, por dentro e por fora do meu corpo.

Senti uma vontade de parar e receber aquela estranha sensação de pureza em meu íntimo, que não me contive, então, olhei para os céus como se estivesse procurando Este alguém, que de uma forma tão carinhosa deixava meu corpo adormecido e a minha alma satisfeita, cheia de paz; e foi neste justo momento, ao misturar minhas lágrimas com os pingos da chuva, eu senti o meu ser todo tomado pela vontade de doar muito amor, e eu chorei mais, muito mais, só, que ao mesmo tempo sorria de alegria, pois havia descoberto em mim tudo aquilo que queria ser para esta vida e para todas, e por um momento parei, fiquei sério, sorri com mais ardor e com os braços abertos olhei para o alto..., senti que devia agradecer a Ele, e Ele estava próximo, fechei os olhos e me resignei por Ele, as lágrimas brotavam, estava tudo bem, eu Te encontrei, eu Te amo Meu Deus.

Vicente Freire

15/10/1977.