Amor, além da eternidade

a Bárun

Oi, Bárun que tal? Hoje passei o dia em casa, estava meio... Bem, há coisas para as quais as palavras são ou muito pobre, ou muito pobre é o léxico de quem as usa, deixemos isto de mão então. Mas queria, apesar de não poder descrever-me, nem querer dizer o porquê, que você estivesse aqui... Isso eu queria muito, queria poder ver-te de vez em quando, sair, caminhar um pouco ao seu lado, e sentir o ar e ver as nuvens, eu queria muito poder falar para você as coisas que vão no meu pensamento quando ando pela rua, coisas simples, como: "veja Bárun como são as coisas, outro dia pensei neste dia, e agora este dia, está passando, este momento passou, minha querida..." Todavia, é em não querer, em não desejar, que tenho me concentrado, por que me fica sempre mais claro Bárun que quem quer sofre, sofre porque quem quer não está abundante de vida nem de paz, tão pouco de amor... Quem deseja, obviamente, deseja algo que lhe deve fazer alguma falta, deseja o remédio para uma dor, a água para uma sede, uma estrada para o descaminho, para o beco, uma saída... de maneira que tenho tentado nem desejar, nem querer. No entanto, como você deve saber, na terra é muito difícil encontrar seres humanos tão desenvolvidos é impossível viver sem querer ou desejar, você não acha? Eu não sei... Porém tenho trabalhado, ao longo de anos de resignação, reflexão e elucubração, numa forma de, se não resolve, pelo menos mitiga um pouco a dor causada pela falta que faz naquele ser que sente alguém, ou algo ausente... Talvez você tenha pensado que ficaria eu de alguma forma vos constrangendo, talvez... Sabe muitas pessoas não compreendem a nem a verticalidade, nem a horizontalidade da frase, “Eu te amo”, e hoje se fala isso com tanta facilidade, que ao ouvir alguém essa frase, não lhe causa nenhum impacto, entretanto seria a coisa mais mínima que deveria causar, por que o amor é o sentimento supremo, e se alguém nos ama, de certa forma, é como se sempre nos tivesse amado ao longo dos séculos e das eternidades, e isso nos torna muitíssimo especial, porque, apesar de não parecer, as pessoas, de modo geral, são muito carentes de amor. Confundem, cada qual à sua forma, dos leques de sentimentos, esse ou aquele sentimento como o amor, dependendo da localização dentro da própria existência, e também da existência do conjunto humano... Tem gente que acha que odiar é amar, que o corpo é a pessoa, e assim ama o corpo e não o continente. Tem gente que acha que se ama, e depois se desama, que se ama profundamente e depois, qualquer que seja o motivo da separação, se esquece... Sobre isso há muitas situações, contudo me importa uma que me tem ficado há muito tempo bem clara. Eis, se ama, e se segue amando para toda a eternidade, e assim são com cada pessoa amada, com cada pessoa que achamos ser o "nosso verdadeiro amor", todos nos acompanham pela Eras... Como dizia tenho pensado, e para não sentir a dor referida a cima em sua totalidade, desenvolvi alguns métodos puramente metafísicos para não, por exemplo, atrapalhar sua vida com o meu sentimentalismo barato, e também para minha própria proteção... Evidente a cada dia fica mais, que se nos encontrarmos, não será neste mundo, e isso me deixaria muito triste, extremamente triste... Imagine você, você Bárun, amar alguém, e saber que nunca vai poder tocar sua mão, sentir o seu hálito, o seu calor, as batidas do seu coração, o carinho extremo dos seus lábios sinfônicos..., que acha? Alguém que porventura sentir isso deve carregar consigo muito escondida uma dor profunda... Mas eu não me sinto assim, francamente não sinto essa tristeza..., Fiquei pensando, esporadicamente este pensamente me ocorre, ao vos falar que sentia amor por você, pela realidade, realidades atuais, devo ter soado muito superficial, e penso que pensa assim... Entretanto não me aprofundo nesses pensamentos, apenas me vem a imagem das coisas como estão, hoje é estranho alguém dizer assim sem esperar, por nada, que ama alguém... Quando alguém me diz que me ama, que gosta de mim, essas coisas, é muito fácil perceber se é verdadeiro, se é do coração, se é algo que vai se apagar como o fogo de palha..., mas não falemos nisso Bárun, aliás, não falemos em mais nada...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 05/06/2008
Código do texto: T1021257
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