Carta à vovó

Naquele dia a lua estava linda. Olhei pro alto e te ouvi falar: “Já viu a lua hoje? Fenomenal”. Comecei a escrever, mas as pessoas me interrompiam, zombavam de mim “fazendo uma carta de amor”. Sentei no banco e adormeci, triste de não poder continuar minha declaração. Hoje, é o telefone que me interrompe, perco um pouco a concentração. Mas o sentimento está guardado e nunca vai se perder.

Lembra daquele livro, Tomates verdes fritos? Vi o filme. Por tua causa. Aquela senhora, que narra o filme, em tudo me lembra a ti. Tua gentileza, alegria e histórias, muitas histórias pra contar. Mas a cena mais gostosa é aquela com os tomates. Me lembra tu fazendo aquele prato tão estranho. Eu brincava com a massa de pastel. Minha amiga e eu, naquele rancho que fazíamos de mansão.

A mãe não faz aquela farofa de banana. Que saudade de chegar do serviço com um pratinho me esperando. Também ninguém sabe fazer um pudim tão gostoso, pras festas de fim de ano. Mas não vou esquecer daquelas batatas queimadas! O pai também sente a tua falta. Ele gostava de passear. E de tomar café. E a pequena não larga aquele banquinho. E já fala o meu nome! Acho que o teu amor me mostrou a importância da família na vida de alguém. Sinto não ter dito o quanto te amava. Sinto não ter conversado mais. Por que é que somos assim? Por que esperamos tanto pra falar o que sentimos? Mas eu sei que tu sabes.

A nossa casa está vazia, a mana foi embora. Eu não gosto de chorar porque sei que tu não gostas que eu chore. Me perdoa, é um desabafo. Doeu tanto aquele dia, eu senti como se o meu coração fosse rasgado, perfurado, me faltou o ar. Estava tão feliz que ia te ver. Ia te mostrar minha homenagem, te beijar e abraçar. Mas te sinto perto, sempre do meu lado. Foi bom ter te visto aquela noite, me deu uma paz imensa. Me deu força e me convenceu da tua felicidade. O teu sorriso foi o mais bonito e tranqüilo que já vi.

E sabe aquelas flores que te dei no teu aniversário? Já secaram. Há tempos. Mas aqui, dentro de mim, elas estão vivas e a cada dia mais lindas. Eu ainda sinto o perfume. Assim como a senhora, que está sempre no meu coração.

JUDITH – A MAIOR.