Carta de um suicida

Ao lerem esta carta, provavelmente já não estarei por aqui. Não sei para onde irei, com quem irei ou o que farei. Não sei se para o céu ou para o inferno ou para qualquer outro lugar que os espíritas e espiritualizados teimam em falar. Só sei que não quero mais fazer parte deste mundo que não me pertence, que me faz parecer estranho no meio de muita gente idem.

Irei embora para deixar pra trás tudo e todos. Tudo o que me faz mal e que não consigo contornar, conviver ou resolver de forma simples. Deixarei aqueles que não me suportam, que não suportam a minha maneira os meus objetivos, sucessos e fracassos. Deixarei aqueles que já me deixaram por algum motivo seja lá qual for, mas que continuam presentes neste mundo que abandonarei daqui alguns instantes.

Serei ausente da malícia ilícita deste mundo pornográfico com pessoas sem idade. Estarei longe de pessoas desonestas até consigo mesmas. Deixarei para quem fica, sim de maneira egoísta, aqueles que descartam o semelhante de maneira brutal e banal. Partirei em busca de paz, em busca da solidão real, efetiva, pois esta será melhor que a solidão que me cerca mesmo com várias pessoas ao meu lado.

Quero deixar de ouvir as mazelas de um mundo hipócrita, covarde, bandido e sufocante. Quero a distâncias das falsas palavras dos falsos amigos, das falsas conquistas, das falsas tendências e dos falsos conceitos.

Deixarei, hoje, de vagar pelas ruas chorando, só e a procura de respostas que nem sempre terei.

Admito que estou sendo fraco, egocêntrico ao fugir daqueles que ainda têm algum apreço por mim, mas entre prós e contras eu saí perdendo e de perdas minha curta vida se bastou.

Perdoem-me aqueles de quem não me despedi pessoalmente, mas a situação não pede tal formalidade, festa, abraços ou coisas do gênero. Não irei pra outra cidade ou país, mas sim para outro tempo. Irei para o calor do fogo e pagarei por isso. Até na morte os capitalistas nos estorquem sem esperar que os entequeridos acabem de derramar suas lágrimas.

Levo comigo a frieza do mundo e das pessoas. Levo o sorriso sincero de cada um que me ofereceu espontaneamente este presente.

Não chorem por mim, pois estou fugindo de todos, deixando-os sós nesta luta contínua que é viver. O mundo está perdendo mais um soldado que desistiu dessa guerra terrestre de egos e poderes.

Estou indo amando, mas sem ser amado do jeito que gostaria. Estou indo sem conquistar os cem por cento, mas deixarei os setenta por cento para aqueles que precisarão.

Cuidem pra mim de quem eu deveria cuidar. Dêem a alegria que eu mesmo vivo não estava em condições de dar, afinal sempre me disseram que eu era triste e assim continuei e fiquei até hoje, até o último minuto.

Se algo espiritualista se concretizar e conseguirem me provar que algo existe depois da morte, quem sabe serei feliz lá! Ou então me privarão novamente deste sentimento por ter deixado de acreditar.

Enfim, deixo-os repetindo para não chorarem por mim, mas rirem dos bons momentos que passamos juntos. Lembrem-se de mim por algo de bom que eu tenha passado, que eu tenha feito. Lembrem-se de mim pelo meu caráter que sempre procurei manter. Caso não consigam, somente esqueçam. Peço desculpas pela minha presença inexata. Por algo de ruim que tenha feito a algum de vocês.

Adeus ou até breve, pois poderei vir em sonhos bons.

Gabriel D´Nasc

14/06/2008 16:12