Carta às Minhas Filhas

Por mais que a distância de minhas filhas em todos esses anos, seja uma ferida aberta, e Deus sabe o quanto me dói essa ferida, vejo-as crescer, e terem sucesso, cada uma a seu modo. Um futuro brilhante pela frente e oxalá um dia eu resgate tudo de maravilhoso que perdi pela minha ausência física em seus momentos. Sei que nada substitui a presença de uma mãe, assim como nada nunca as substituiu na minha jornada.

Vejo atualmente cada escolha que fiz no passado, passando como um filme em meus olhos. Não sou pessoa que se arrepende dos seus atos, mas se pudesse voltaria e teria minhas filhas ao meu lado, ainda que o futuro fosse incerto, ainda que o aprendizado fosse lento, e meu caminho outro. Um dia elas saberão quanto as amo, entenderão as escolhas e situações da vida adulta, e espero eu, me perdoem ou me desculpem.

Dos sentimentos o mais puro é o que temos pelos filhos, é infinito e durável, intocável, renovado diariamente, esteja ele onde estiver, e nós também.

Das cartas que não escrevi uma deveria ser para minhas filhas, para que elas saibam o quanto fui realizada como mulher por gerar flores tão belas, o quanto fui realizada como mãe, ao ouvir o primeiro balbuciar de palavras, ao ver os primeiros passos, os traços de um sorriso, em bebês que mais pareciam bonequinhas de porcelana, de tão lindas.

Das cartas que não escrevi para elas, uma deveria contar cada aventura da primeira infância, a análise quase namoro da Aline com a maça argentina na piscina do clube, a travessura ao dividir a mamadeira de suco com a irmã que só tomava leite, e eu de longe observando ouvia o riso maravilhoso de cumplicidade daqueles anjos.

Das cartas que não lhes escrevi, outra deveria contar o quanto foi maravilhoso carregar por meses cada uma delas em minha jovem idade. Que eu dançava com elas, enquanto estavam no aconchego do meu ventre, ensinando o que era música boa, dance, mpb, musica eletrônica. Que eram minhas companheiras numa época em que nem sabiam o que isso significava. Que o momento em que vi pela primeira vez os seus olhinhos foi como se o mundo parasse um segundo só pra eu me identificar ali dentro.

Das cartas que não lhes escrevi, mais uma deveria contar da coragem da Bia, ao aparecer na porta da escolinha com a testa aberta, a camiseta cheia de sangue e tranqüilizar a mamãe dizendo que tava tudo bem, e que ela não tinha feito nada errado, eu só pude rir.

Das cartas que não lhes escrevi, muitas deveriam contar de cada viagem que fizemos, de como sou feliz por ser mãe das duas, ainda que como ser humano, tenhamos nossas diferenças, e ao mesmo tempo sejamos tão parecidas.Vejo muito de vocês em mim e de mim em vocês.

Das cartas que não escrevi, essa deve ser a mais importante, porque abro meu coração, porque mostro minhas cicatrizes, que só o tempo pode suavizar. E dizer que apesar da trajetória, foram feitas com amor adolescente, daqueles que sonhamos ser pra vida toda. E o que mais desejo é a presença física delas em minha vida, assim como a minha na delas.

Porque o coração de mãe sempre estará onde está o filho.

Meninas amo vocês, sempre.

Mamãe

Kay
Enviado por Kay em 02/07/2008
Código do texto: T1061053
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