CARTA PERDIDA

Salvador, setembro de 2001

Meu caro,


É mais ou menos assim o dia de hoje. Nem sei mais a data. Sei que é uma sexta-feira, 20h23, e que, na segunda, bem antes deste horário, vou te ter nos braços. Só não sei se lá, logo ali, terei a terra firme que busco, na qual a poesia sirva de tapete para os meus e os nossos sonhos.

Sinto vontade de te colar nos braços. Te dar o seio para mamar, como se pudesse recuperar em você algo perdido n´algum lugar. Mas sou só mais uma mulher que te ama. Sem limites. Sem certezas outras que não sejam as que a beleza desse amor vai gerando em cada gesto. Seja quando te vejo, onde não estás ou quando estou onde não te vejo, sempre à cata do teu sorriso renovado que captei anos antes numa casinha simples da Federação.

Não sei se vou sofrer, não sei se vou cair no abismo do crer. Não sei de nada. Mas, não sei nem porquê, algo parece me guiar na tua direção. Como se fosse possível estar junto, fazer coisas juntos, amar os mesmos desejos, querer as mesmas coisas, viver a dois, sendo dois e sendo um. Aplacar as contradições, esquecer as mágoas que ainda trago em mim - não sei mentir - e pensar só no bom que é ser e estar. Ser assim exatamente como sou e estar com você, exatamente como você é.

Sei lá.
Sei não.

Como diria o poeta Carpinejar: "Venho de tua lonjura, os braços eram remos no barco e aço de âncora. Acostumado à extensão das raízes, não sobrevivo no vaso dos pés. Passei a vida aprendendo a respeitar teu espaço. Como povoá-lo após tua partida?"

Beijos.



Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 23/07/2008
Reeditado em 24/07/2008
Código do texto: T1094166
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