CARTA ABERTA A CUMPADE JÚLIO PRÊTO

Meu cumpade Júlio:

Cumbinei cum você, de ir lhe buscá aí in Buquerão-PB, mode você passá aqui in minha casa, o dia 09 de agosto, quando tô cumpretando meus sessenta ano e trinta ano qui iscriví meu premêro livro, MOLEQUES, MOLECAGENS E SUAS VÍTIMAS... Mais, meu estimado cumpade; num vai dá certo, infilirmente! Seu cumpade véio tá mocorongo, doente, enfim, mais infadado do que bermuda de sapatêro...

O sardoso Paulo Cruz, pai do meu amigo Rossine, lá da terra duis verde canaviais, de Duruca e do poeta Amarildo, custumava de dizê qui INTÉ ALÊJO PEGA...E num é qui êle tava cum a razão ?! Veja só qui acunteceu cumigo, o mêrmo qui acunteceu cum você há aigum tempo atráis, quando você, cumpade Júlio, foi levado gritando de dô, querendo mijá e sem pudê, da Maiáda de Roça inté Serra Branca-PB, adonde foi tratado e operado da prósta. Sábo passado, aliais; do sábo p’ru domingo, me alevantei umas trinta vêiz prá ir mijá, cumo se a bixiga tivesse cheia, e chegava no vaso só saía dois trêis pingo de urina. Quando foi cinco da menhã, num agüentei de tanta dô e fui levado inté o Hospitá Wlafredo Gurgel, adonde dei munta sorte, pois o médico qui tava de sobreaviso, era o Dr. Domício, meu subríin afim, pois é casado cum minha subrinha qui tombém é médica, Margarita, filha de minha irmã Margarida. Ligaro prá êle, e o cabra vêi ligêro dimais, meu cumpade! Me deitaro numa maca, abaixaro minha bermuda e minha cueca, e lái vem êle cum uma siringa cheia de pomada e sem agúia, butá aquilo tudo no caná, mode adrumecê eu eu num sintí tanta dô, mais num teve foi jeito... Êita, dô da bixiga taboca; só num me caguei pruquê num tinha merda pronta! Mais cumpade, cuma você mêrmo me dixe; foi butá a tá da sonda e eu me aliviá... Ali mêrmo fiz uis izame e na próxima quarta fêra, dia seis, o Dr. Domício vai operar minha prósta, se Deus quisé. Mais cumpade, quando eu pensei qui tava tudo terminado, vem êle, meu subríin, atráis de dá uma dedada in n’eu, dizendo qui tinha qui fazê o toque de prósta...Meu cumpade, fui no ôto mundo e vortei cum a dô; e cheguei a cuncrusão qui fresco é nóis; uis viado é qui é macho; pruquê veja só; cum uma simpres dedada eu quage me réio de tanta dô, imagine uis viado agüentando uma lucuvina lazarina de trêis quina ô sextavada...De lá prá cá, tô num rijume da mulexta, cumendo qui nem passaríin, aos tico; tumando água de quando in vêiz e num vendo a hora de me livra de tudo isso. Tumei a liberdade de pubricá no Cantinho do Zé Povo essa carta qui tô lhe iscrevendo, qui é uma manêra de avisá aos meus leitô (ra) o qui tá se passando cumigo e pidí a cada um deles qui me incrua nais suais oração, pidindo ao Nosso Pai Maió que me conceda a graça da recuperação de minha saúde. Intonce, meu cumpade; vô findando pruqui, e lhe prometo qui se Deus quisé, dispôi qui eu me recuperá, vou lhe buscá mais Júnio, o galêgo do violão e Buiú; e vamo fazê uma seresta lá no Bar de Xumira, lá na Maiáda de Roça. E o qui eu achei de tudo isso qui me acunteceu, resumi nessa trova: SOCORRO, MEU DEUS, ME ACUDA!/ NUNCA IMAGINEI, SEU MÔÇO,/ QUI O DOTÔ DOMÍCIO ARRUDA,/ TIVESSE UM DEDO TÃO GRÔSSO... Sem mais, abraços do seu cumpade,

Bob

Matéria publicada na minha coluna, Cantinho do Zé Povo, n'O Jornal de Hoje, Natal-RN, edição de 02 de agôsto de 2008.

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 02/08/2008
Código do texto: T1109731
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