Querido, "Arthur"!!
Olá, estou aqui novamente, após tempos distante e em silêncio, para dizer-lhe que ainda o amo com a mesma intensidade de ontem, o dia em que me deixou sentada no banco de um cemitério à observar os pássaros.
Calei-me por motivos abstratos, porque a dor que levo no peito não me permitia retornar aos nossos dias de alegria e conversas jogadas fora, ao entardecer de cada verão que, juntos passamos desde que você me escolheu para a vida.
Amo você, e por isso venho contar-lhe o que me ocorreu de novo e perfeito. Eu encontrei o "amor". Duvidei durante anos do que você me explicou quando criança sobre amar e ser amado (a), mas hoje sei perfeitamente o quanto suas palavras foram verdadeiras.
Estávamos em maio. Início de maio para ser mais exata, e quando eu menos esperava aconteceu, lá estava ele em seu mundo perdido, e eu cá no meu mundo de clausura e medo.
Ele tem muito de você, talvez por isso tenha dado certo, mas o que importa mesmo é saber que nós não precisamos de muito para sermos felizes, basta estarmos juntos.
O garoto dos olhos castanhos soube de você desde o princípio, por incrível que pareça, mas é verdade, dele eu nada consegui esconder. E quando digo nada, estou me referindo a cada detalhe do que passamos juntos meu fiel amigo.
Eu continuo me sentando na varanda, com menas frequência é claro, mas saiba que ainda amo apreciar o pôr do sol todas as tardes, como fazíamos quando você ainda estava entre nós pai.
E hoje, hoje que para mim é a data exata em que você serrou os olhos para a minha vida, uma triste e fúnebre sexta-feira ensolarada de primavera, eu decidi escrever-lhe esta carta contando que alguém mais que especial já faz parte da minha vida.
Pai eu o amarei eternamente, e não importa se hoje alguém além de você também me faz bem, porque se não fosse por ele, de repente eu não estivesse aqui sentada digitando essas palavras singelas e com o coração todo dilacerado e cheio de saudades de você, do seu olhar casmurro, e do seu sorriso calmo.
Você se foi cedo demais para os meus planos pai, eu me formei em fevereiro e fiz a homenagem aos pais ausentes. Não dancei a valsa porque havia feito um jurameto de que isso não poderia fazer em minha primeira colação.
Pai esteja em paz eternamente. Porque mesmo eu estando triste e não aceitando bem como deveria sua partida. Saiba que ainda assim eu seguirei em silêncio. Descobri que posso continuar, mesmo com minha bipolaridade e meu medo de publicar o livros que há meses terminei e engavetei.
Obrigada por ter sido o melhor Pai do mundo para mim, e se eu pudesse descrever em algum lugar ou momento o amor que sinto por você, seriam: o nascer e o pôr do sol durante a primavera, e as viagens que juntos fizemos.
Eu morreria por você e se houver outra vida, pedirei a Deus para nascer sua filha novamente. Te amo incondicionalmente por cada dia, e cada abraço afetuoso que me dera desde o primeiro instante em que me colocaram em seus braços.
Pai... pai... pai...
Sete anos e eu ainda continuo a mesma menina reclusa, enlutada e triste da casa cinzenta do bairro de Anne. A diferença é que alguém tem me obrigado a sorrir todos os fins de semana.
Ah, você com certeza ia querer entender por que razões eu o chamei de Arthur. Saiba que esse é o nome que eu dei ao seu personagem em meu livro.
Não voltei ao seu túmulo, nem pretendo fazê-lo. Perdoe-me por isso, mas não posso. Não hoje, e nem sei se amanhã, mas o futuro é quem saberá dizer se depois de mais uns sete anos serei capaz de vencer tal medo.
E para o momento é isso, decidi não escrever-lhe nada triste ou fúnebre ao extremo. Porque meu coração está calmo hoje também, então não vejo necessidade de melancolia.
Saudades eternas!!
Amo Você!! Além dessa vida... além da morte!!