Considerações Absolutas

Há um certo desconforto em estar vivo apenas pelo fato de não ter outra opção.

Sou um grande covarde, sim. Podem me perguntar o porque não escolho a morte a ficar vegetando. Eu digo que não sou corajoso o suficiente para me matar. Um grande covarde, podem pensar. Sim, o sou. Mas, quem não é?

Essa novela de que é preciso saber viver me dá náuseas. Sinceramente, há uma falsa esperança, uma dose de felicidade que me dá nojo, me causa repulsa. Esse disfarce que muitos usam para mascarar a vida ante o que ela é realmente, é uma tolice enorme, para não dizer outras coisas mais desagradáveis.

Viver é um grande fardo. Um peso do tamanho do mundo. Minhas costas doem. Só me resta esperar a velhice, fase da vida esta em que não vejo nenhuma vantagem. “ A vida começa aos quarenta...” Santa paciência. Começa a acabar, esqueceram de dizer.

Invejo aqueles que se mataram. Há uma certa ironia neste ato, um certo desafio às morais estabelecidas, às regras, à vida em si. A morte é uma fuga sem possibilidade de volta ou conserto. Por isso mesmo, esse fatalismo, essa impossibilidade de segunda chance tem de ser levada em consideração. Uma vez por ela optada, não há mais saída. Creio que esteja justamente aí a minha admiração por quem se mata.

Ser ou não covarde pode ser uma discussão infinita. Mas viver, esta arte massacrante, é um grande coliseu de sensações e medos, frustrações e heroísmos, de dores e festas, de adjetivos e metáforas. Enfim, um dicionário escrito sem o consentimento daqueles que são suas fontes de inspiração.

A cada dia que passa, tenho novas opiniões sobre nós seres humanos. Ou seriam redescobertas de opiniões já existentes há tempos, esquecidas pela falsa capacidade do homem em se reinventar? Poder ser. Ou não. O que importa é o quanto somos incapazes de sermos inéditos, do tamanho do alcance de nossas atitudes, que sempre esbarram na primeira esquina que tenha um amontoado de opiniões capazes de envergonhar o nossa, ou a minha. Seríamos que tipo de gente?

Nenhum. Somos gente diferente a cada dia. Cada hora. Cada segundo. O que é ótimo. Seria tedioso sermos os mesmo desde que nascemos. Seria tedioso sermos os mesmos sempre. Ainda assim, há coisas que não nos deixam nunca, jamais. A covardia, por exemplo. O sentimento de viver quando, na verdade, o que mais desejamos é a morte rápida e eficiente. Mas não acontece. A covardia não deixa.

Esse sentimento irá nos acompanhar durante toda nossa estadia por aqui. Isso é revolta. É péssimo. É por isso que invejo os que se matam. Eles desafiaram a covardia, riram das convenções sociais e pouco se importaram com o julgamento alheio e puseram fim á sua dor. À sua vida. A minha vida é uma dor. A sua também. Covardia é o meu cobertor. Nosso cobertor.

Há um certo desconforto em estar vivo apenas pelo fato de não ter outra opção.

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 08/09/2008
Código do texto: T1168072
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