Entre amigas (3)

Querida Cibele,

Que síndrome da gravidez mais hilária, adorei, rolei de rir te imaginando, acho que quando disse de perder a forma, muito mais de uma possível gravidez psicológica efetiva, do que comentar sobre o risco de ganhar tecido adiposo, amiga, acho que você está é querendo que alguém faça suas vontades....

Esta sua paixão é o símbolo de sua derrota, como a poderosa se contentaria em perder? Nunca! Mas experimente o incontrolável amiga, como te dizia sempre, um dia você estará nas mãos de alguém, sentido algo que controle sua razão, não me ouviu, mas fico triste que tenha, juntamente, perdido um amigo, provavelmente é o que mais está pesando em sua recuperação. Gostaria muito de estar próxima de você, te dar meu apoio, mas me encontro aqui, simplesmente longe demais.

Disse da tapioca, fiquei me lembrando daquelas férias, ver o mar, sentir as ondas, um bando de mulher louca, livres, felizes...

Acho que estamos ficando velhas amiga, a afinal, como disse está quase se coroando “rainha executiva gestora-mor” da empresa (sabe que não tenho idéia do que você faz aí?!) antes achava inocentemente que ficaríamos um pouco distantes, mas se soubesse que seriamos, praticamente, arrancadas uma da vida da outra por circunstâncias tão malucas, juro que teria aproveitado mais quando ficávamos juntas....

Quanto a meu namoradinho, nem pergunte, ele terminou comigo para ficar com uma mulher do pior nível, das fúteis a pior, queria estar ligando pra perda, mas me sinto aliviada, no fundo, sabemos quando o amor acabou, só não queremos admitir para nós mesmos não é? Basta ler meus ultimo trabalhos e ver nas entrelinhas o quanto diziam de desamor, talvez, eu só não quisesse admitir que eu estivesse me enganando...

Lembra que comentei sobre alguém mais louco que eu, incapaz de amar... Então, é um homem interessante, mas frio e estúpido, ninguém que eu namoraria, mas alguém que eu colocaria em um vidro transparente e analisaria por horas; atraio gente maluca, tenho que admitir o que você sempre dizia na faculdade, parece q sou um imã, quanto mais bizarro, mais gosta de mim! Ele é um executivo (se vier aqui te apresento, cabe bem no que disse dos infelizes de terno), gosta de ler biografias de homens de sucesso, gosta de ir até o limite das pessoas, desconfio que tenha traços perversos, é um sádico por natureza, tem como dilema quase uma confissão de carrasco: “sua dor é meu prazer, digo, trabalho”, (risos) é intrigante o modo dele sorrir, pois tem nos olhos o brilho de uma criança que testa limites. Sinto-me usando a psicologia com ele, apesar de ter me distanciado tanto desta em minha carreira como escritora, acho que estou tentando achar onde foi que se desordenou a psique daquela criatura grotesca, ou estou fascinada com o modo caricaturesco dele, personagem para algum romance, quem sabe, ou um conto no mínimo, espero conseguir conhecê-lo o suficiente para transformá-lo em personagem. Uma descrição fidedigna de alguém real, me parece mais fácil que deixar, mesmo sendo negado, a marca de quem sou em cada personagem, é ruim admitir que tudo o que crio diz dos recônditos de minha turbulenta alma... Às vezes me sinto sem identidade, criar é se desfazer para dar forma a outros seres que não existem, se dar para que vivam os personagens... Profundo não? Patológico também! (risos).

Fico por aqui, prometendo te enviar uma nova carta, mesmo sem resposta. Estou precisando de desabafar um pouco...

Abraços

Luna

PS: Muita saudade de você!

T Sophie
Enviado por T Sophie em 13/09/2008
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