Carta a minha amiga

RJ, agosto de 2008-08-16

Minha amiga Beatriz.

Quando olhas para o alto encontras o sol firme, brilhando entre as nuvens, pela manhã prometendo mais um dia de calor, beijos e carícias nas flores do teu jardim. À noite, a lua e as estrelas brincam de esconde-esconde entre as nuvens e se alguma pequenina estrela não encontra suas irmãs, chora, e suas lágrimas se transformam em pingos de chuva que descem sobre a terra, molhando docemente teu tapete de grama que pisas ao entrar e sair de casa.

E o mar? Operário incansável se debate em ondas de ritmo forte ou fraco, trazendo para as areias da praia, tudo o que não conserva em suas profundezas.

Se caminhas alguns quilômetros, encontras a lagoa com sua abundância de peixes de todas as espécies, nadando em cardumes pelo canal até encontrar-se com o rio.

Quando sentes necessidade de isolamento ou recolhimento podes escolher a vontade, entre as ilhas que ficam em frente a tua casa, qual será a mais apropriada para te refugiares, após alguns minutos de barco.

Não esqueças quando caminhares pela praia rumo ao sul encontrarás alguns ninhos de corujas, e se for bem cedinho, poderás vê-las em teu caminho.

No almoço podes sentar-te a tua mesa e saborear aquele pescado fresquinho, e de sobremesa comer geléia de frutas colhidas em teu próprio quintal.

Quando abres a porta de teu armário paa escolher uma roupa para vestir, quantos minutos perdes até decidir? E os pares de sapatos, as bolsas e os outros acessórios? Podes contá-los?

Decide-se sair, podes ir a pé, de carro ou de bicicleta. Podes escolher mais de uma companhia para acompanhá-la O vento que irá sussurrar-te aos ouvidos, vozes desconhecidas e amigas, o sol que retocará tua maquiagem ao redor das maças de teu rosto e irá emprestar-lhe um brilho especial aos teus lábios e olhos.

Tantos recursos, tantas oportunidades, lhe são ofertados no altar de tua existência. Inconscientemente te esquivas de todos ansiando por quimeras e ilusões desfalecidas quase mortas.

Se soubesses que olhos angelicais te espiam por detrás das nuvens, outros pares batem asas no vento, enquanto outras essências tentam chegar-lhe ao pensamento trazendo-lhe notícias de outras paragens. Ah! Se soubesses! Que os ventos podem ser amigos incondicionais, pois não temem o tempo e cortam o espaço.

Ah! Se soubesses que as ondas do mar depositam na areia da praia, preciosos presentes, que encantam nossas almas.

Ah! Se desses valor ao sol fonte de luz inesgotável e calor que nos ilumina até os recantos mais profundos da alma.

Se intuísses só por um momento que alguém invisível ao teu lado fica apenas esperando receber um sorriso de gratidão, certamente tua vida ganharia colorido especial e tua alma viajaria saltando feliz entre as cores do arco-íris.

Minha amiga, só posso contar-te através desta carta, pois está difícil pousar nas asas do grande pássaro e ir chegar até teu paraíso tropical. Às vezes, ao telefone, tenho vontade de te dar uma cutucada, mas estás sempre muito ocupada, ou com artesanato, ou com o Zé Ruela que ainda não voltou do bar... Imagino teu destino no tempo. Viúva uma vez por morte do teu amado, e pela segunda vez, viúva, perdestes para a pinga, a mesa do bar, os levantadores de copo, as mulheres vadias. Ah, se soubesses!. Trabalhar tanto, aparar grama,lavar banheiros, tanta roupas que as filhas do Zé te largam nos fins-de-semana, sem contar os netos postiços que arrebanhas para tuas mesas nas eternas churrascadas. Enquanto do outro lado tua nora seca, se diverte com teu filho vendo o formigueiro que se tornou tua linda casa.

Ironia do destino! Pela grande amizade e afeto que lhe tenbo não posso dizer-te o que penso. Quando lembro da senhora alegria que tinhas e hoje os sulcos de amargura que lhe cortam as faces. Minha amiga a vida às vezes pode ser mais doce, abra o pote de mel.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 16/09/2008
Código do texto: T1181750
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