PARTO RURAL

PARTO RURAL

Nicota esposa de Chico Teixeira estava no ultimo mês de gravidez e como esse era um assunto de interesse geral naquele pé de serra, todas as comadres da região estavam ansiosas esperando com junto com ela o momento do parto; nos últimos dias de gestação Nicota não se sentia nada bem e na opinião das vizinhas teria um parto difícil, daqueles próprios para dar assunto para dois ou três invernos.

Afinal em uma noite escura e chuvosa, Chico acordou Zefa a parteira e avisou: corre dona, Nicota ta nas dor forte, acho que é pra já, Zefa se apressou e na passagem foi chamando as comadres para darem uma ajuda nos trabalhos; durante horas Nicota se esforçou, gemeu, guinchou e esperneou, mas nada da criança nascer, ela era das teimosas e não se mexia, Zefa mandou Chico pedir ajuda na fazenda.

O fazendeiro era um rapaz forte e bem educado, mas estando sua mãe ausente em pouco poderia ajudar pois nunca passara nem perto de uma parturiente, no entanto se ofereceu para ir na vila próxima buscar um medico se conseguisse algum, pegou seu jipe e foi mesmo; aquela não era uma noite propicia para coisa alguma, a chuva aumentara e no primeiro mata-burro a viagem acabou.

O barranco que sustentava o mata-burro cedera, a madeira fora vala abaixo e não havia outra passagem, o fazendeiro voltou e se julgou na obrigação de levar ao empregado, ao menos o apoio moral de sua presença naquela situação aflitiva; a casinha de Chico era de pau a pique coberta de sapé e o piso era de terra batida, possuía apenas dois cômodos: uma salinha que também servia de cozinha e o quarto pequeno e abafado.

Assentou-se o rapaz no único banco da sala e ficou em silencio enquanto lá no quarto o nasce não nasce continuava, estando assim perto o moço ouvia tudo que acontecia no quarto de Nicota e lá pelas tantas a voz de Zefa se elevou e disse: Texera traiz o chapéu e põe na cabeça dela, traiz uma garrafa vasia e dá pra ela sopra, Chico entrou na sala pegou o chapéu de palha no prego da parede e também uma garrafa vazia na prateleira e voltou para o quarto.

O fazendeiro ouviu a torcida organizada de comadres dizendo no mesmo tom: sopra na garrafa Nicota, sopra cum força muié, sopra, sopra e isso durou até ser interrompido por um grito de dor da parturiente e nada; na salinha o patrão se arrependia de ter vindo, estava coberto de suor e seus ouvidos doíam devido ao berreiro que vinha do quarto, a dona gritava de dor e a torcida na ajuda: força Nicota, força que já vai coroá.

A cada minuto a situação piorava e os palpites eram variados: isfrega o imbigo dela cum azeite cumade, bota ela na ispuma de sabão do reno, busca um chá de trançage e dá um golo bão de pinga Texera pra mode cria força; esgotados todos os recursos da sabedoria popular, resolveram tentar uma ultima simpatia[ simpatia para quem não sabe, é alguma coisa que se faz, para resolver alguma outra coisa que está difícil].

Para a falada simpatia era preciso: martelo, pregos e alicate, quando pediram essas coisas ao assustado Chico, o moço fazendeiro ficou preocupado e sua preocupação aumentou quando ouviu batidas de martelo e os gritos mais fortes da parturiente; quando o rapaz se dispunha a entrar no quarto e parar com aquela tortura a criança chorou e Zefa disse: graças a Deus é um menino, traiz água quente, a tisora e o barbante.

Pálido e abalado o fazendeiro se assentou novamente, para se levantar de um pulo quando ouviu o seguinte pedido: Texera traiz a inxada mode nois interrá, ele não agüentou mais, entrou no quarto furioso e gritou: vocês já martelaram, já amarraram, já cortaram e agora vão enterrar? Eu vou chamar a policia seus criminosos; Chico acalmou o patrão com alguma dificuldade e muita água com açúcar e depois se explicou.

Oia patrão, as martelada era o prego na parede, despois nois rancava ele de novo pras dor aumenta, é simpatia boa, a tisora era pra cortá o imbigo do minino e o barbante pra marrá ele, e o que nois ia interrá era os resto do parto qui oceis apilidô de pracenta .

Estava tudo bem claro, o patrão foi convidado para padrinho do menino que recebeu o nome de Walter em sua homenagem; no futuro com a ajuda do padrinho será engenheiro agrônomo como ele; a chuvarada passou de manhãzinha e a paz voltou a reinar no casebre de Chico Teixeira e Nicota.

Maria aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 20/09/2008
Código do texto: T1188039
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