CAPOLT

Marines Bonacina, querida amiga.

Leve, por favor, meus saudares ao poeta Antônio Bacca, ativista cultural mor, comandante do Congresso de Poesia de todas as Casas de Poeta Latino Américas e atividades várias. Gostaria de estar ao seu lado nesta oportunidade em que se realiza o Congresso de Poesia em Bento Gonçalves, você, como presidente da CAPOLAT, se sentindo sob pressão. A CAOLAT teve escassa atividade, desde 1990, quando fundada. Agora, definida legalmente em estatuto, que dispõe sobre suas atividades e atuação, espero que ao seu comando, alcance o fim almejado pelo nosso Nelson Fachinelli. Com minha vivência em poesia de mais de setenta anos, bem posso dizer-lhe de confraternização e solidariedade, de irmandade e luz espiritual entre poetas, nos termos da pretensão do irmãozinho de São Francisco Nelson Nilo Fachinelli, ao idealizar e criar a CAPORI, a POEBRAS, por fim a CAPOLAT. O ideal do fundador das três Casas e ainda do Grêmio Literário Castro Alves, mais adiante do Congresso Pan-americano de Poesia, foi no sentido de que essas instituições se unissem em torno do ideal de congregar poetas e faze-los irmãos espirituais. Não sou de dar aulas, nem o sei fazer. Não sou de oficinar e acho até uma tolice a palavra oficinar, como tolice tenho o termo conteporaneidade em poética. Para falar aos jovens sobre a arte literária – poesia e prosa, muito acima de oficinas, existe, nas universidades, a escola de letras. E esta envolve o moderno e o tradicional, o clássico, o romântico – o parnasiano e o moderno. Contemporâneos somos todos os do mesmo tempo, componhamos versos tradicionais ou modernos, quero dizer metrificados e rimados, ou livres na métrica e na rima. Poesia é a manifestação da alma humana em versos destinados à música, ao canto, ao recitativo. Em regra o cidadão/cidadã, poeta é uma pessoa de alma sensível, que se derrete até ás lágrimas em face do injusto, do arbitrário, de tudo que agride a pessoa humana e fere a alma. Nelson Fachinelli foi um homem desse nível. Chamava-nos, a todos os poetas, de irmãozinhos. Vivia sempre envolvido na poesia e para a poesia e os poetas. Seu ideal se concentrava em congregar pessoas de alma, uni-las em associações culturais onde pudessem, livremente, falar e debater sobre a lira, sobre a irmandade ente poetas. Foi o maior ativista cultural que conheci – vivia para isso, repita-se, esquecendo até de si mesmo. Salário curto, limitado às despesas de família, ainda assim, tirava do seu para oferecer aos irmãos, por via das associais que idealizou e criou. Aliás, amiga, vejo-a também um pouco assim – sacrificando a vida privada, o trabalho pessoal remunerado para dedicar-se, por anos à CAPORI, buscando, mais recentemente dedicar-se à CAPOLAT. Não mudemos de rumo, seu ideal e sua vida pessoal são seus somente. Você é lúcida e inteligente bastante para saber o que quer.

Falava de Nelson Fachinelli e seus ideais, das casas de cultura, às quais se dedicou inteiramente, no sentido de tê-las como um traço de união, um vínculo de amor entre irmãos poetas. Primeiro a Casa do Poeta Rio-grandense, para congregar os poetas do seu rincão gaúcho. Em seguida, sentido que dava certo, pensou na Casa do Poeta Brasileiro, para congregar o Brasil poético de Sul a Norte. Mais adiante a Casa do Poeta Latino-americano, para unir os poetas de língua latina. Aconteceu que a CAPORI, em Porto Alegre esteve seguramente sob seu controle e firmou-se como instituição amada, pelo Cafezinho Poético, pela Ex Poesia, pelos concursos de poesia, pelas coletâneas. Firmou-se, consolidou-se. Fez-se respeitada e acatada. A POEBRAS, idealizada com sede em Porto Alegre para alcançar o Brasil, andou lentamente e, por descuido talvez, não estou seguramente informado, não se constituiu por via de um estatuto, que lhe desse vida legal. Fundava Casas de Poeta regionais, em regra por meio de delegação de poderes, nomeando coordenadores para os estados ou delegando poderes para a fundação. Eu, pessoalmente, tive um título, assinado pelo Nelson, de coordenador na Bahia. A Casa da Bahia nasceu, entretanto, fundada pelo Nelson, na oportunidade de uma das Caravanas Castro Alves. A do Rio Janeiro também foi fundada pessoalmente por Nelson Fachinelli e eu tive a satisfação de o acompanhar. Ainda sem estatuto definidor e regulador de suas atribuições, a Casa do Poeta Brasileiro pensada com sede em Porto Alegre, passou a denominar-se Coordenadoria Nacional da POEBRAS. Nelson Fachinelli o coordenador. Não se ampliou a Casa, como desejado. Vem a era Joaquim Moncks coordenador nacional e este fundou mais Casas, passando a chama-las, em seus estatutos, de afiliadas à POEBRAS NACIONAL, disso eu sei, porque comecei participando da reestruturação da Casa da Bahia, que ficara cerca de dez anos sem atividade. Mais adiante acompanhei o Moncks pelo Nordeste, depois pelo Norte. João Pessoa, Campina Grande, Natal, Recife, Fortaleza. Em outra etapa Belém, Benevides, Marituba, Santarém, Manaus. Todas as Casas fundadas figuram estatutariamente como afiliadas à POEBRAS NACIONAL, até hoje sem um estatuto. Creio que hoje será difícil arrumar o estatuto da POEBRAS, porque, fundadas todas as Casas regionais como afiladas, far-se-á necessária a presença de representantes de todas elas, e talvez seja o caso de uma confederação – essa opinião também ouvi ao Moncks. Mas isso precisará ser feito.

Agora a Casa do Poeta Latino-americano, instituição de nível internacional, criada com sede em Porto Alegre. Essa, não afilou coirmãs, não as criou, aliás. Teve vida efetiva, real, por via do Congresso Pan-americano de Poesia, hoje de nome simplificado para Congresso de Poesia, coordenado pelo dinâmico poeta e ativista cultural Antônio Bacca. Não sei bem como funciona a integração entre a CAPLAT e o Congresso. Assisti a um único conclave. Sei apenas que acolhe a CAPORI e a POEBRAS e a CAPOLAT. Ainda que as três instituições, cridas pela mesma pessoa, sejam desvinculadas uma das outras, cada qual com seu corpo e sua alma, sua vida própria, o Congresso tem tudo para faze-las, manter-se como coirmãs, sem desavenças e atritos. Este foi o sonho de Nelson Nilo Fachinelli.

Salvador, 28 de setembro de 2007.

João Justinano da Fonseca