Carta para uma Amiga sobre uma adolescência

Eu estava olhando minha gaveta quando achei a carta que você tinha escrito para mim. Eu li as primeiras folhas e logo me lembrei de quando tínhamos 14 anos. Era uma fase meio dificil, mas me fez lembrar dos momentos alegres que tivemos e da nossa amizade. Das vezes que ficávamos até as 14h, as vezes até 15h depois da aula contando histórias. Que saudade dos tempos que saíamos as 11:40 e não tínhamos mais nada com que se preocupar, futuro, vestibular e etc. Como éramos jovens podíamos errar, e hoje as vezes nos bate aquela insegurança do que fazer no futuro, se estamos no caminho certo, bate aquele medo de que temos que ter uma profissão porque depois dos 30 anos o mercado de trabalho está fechado para nós. As vezes isso assusta, porque dá a impressão de que não podemos perder mais tempo sonhando, pensando na banda de rock dos sonhos ou em escrever um livro porque o tempo bate a porta todos os dias. Mas vejo o passado e era tão boa aquela época, porque continuo lembrando dela e desejando que ela volte todos os dias? Porque não podemos ter a banda ainda? Porque mesmo não podemos mais escrever histórias? Porque mesmo não podemos marcar um dia pra jogar conversa fora como antes? Porque mesmo não podemos simplesmente parar pra ouvir Air Supply ou Ramones? Tudo por causa do tempo, por que agora dividimos com nossos trabalhos, estudos e etc. Não sei você, mas as vezes da a impressão que sepultei no passado alguns sonhos, alguma parte de mim. Você continua sendo minha melhor amiga, e gosto de contar as coisas para você porque você pensa igual a mim.

Embora eu já tenha essa idade, continuo pensando como antes, desejando as coisas de antes. Acho que sempre me lembrarei desses momentos e acho que mentalmente, em alguns aspectos, nunca vou crescer. Aliás, porque crescer é tão difícil? Tem coisas que deveriam ser imortalizadas, ficar paradas no tempo. Não escrevi isso antes, porque tive medo de você ter "crescido" nesse aspecto e não pensar mais do que eu nisso, em relação a esses momentos. E perceber que só eu sinto falta de quando dávamos lugar a imaginação.

Dita Spieluhr
Enviado por Dita Spieluhr em 13/10/2008
Reeditado em 13/10/2008
Código do texto: T1226461
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